São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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Greene conquista o ouro e a glória que faltavam

DO ENVIADO A SYDNEY


Maurice Greene conseguiu ontem a medalha que lhe faltava.
Bicampeão e recordista mundial, o norte-americano venceu a final dos 100 m rasos no estádio Olímpico de Sydney e levou ouro logo na primeira participação sua em uma Olimpíada.
Excluído de Atlanta-1996 por causa de uma lesão, quando assistiu das arquibancadas, chorando, à vitória do canadense Donovan Bailey, Greene cravou ontem o tempo de 9s87.
No percurso, piscou os olhos três vezes. E fechou-os de vez, após cruzar a linha de chegada, para não chorar. "Estava tentando não chorar. Em 96, chorei de tristeza. Desta vez era uma sensação diferente, de alegria."
Em segundo, a apenas 0s12, chegou Ato Boldon, de Trinidad e Tobago, seguido por Obadele Thompson, atleta de Barbados.
Apontado como favorito absoluto à vitória, Greene aproveitou para elogiar seus adversários. "Todo mundo achava que era só eu chegar à Austrália e vir receber a medalha. Não foi assim. Foi muito duro. Estive muito nervoso durante a semana", afirmou.
A apreensão era perceptível no rosto de Greene enquanto ele alinhava para a largada, composta só por atletas negros, mantendo uma escrita que vem desde Los Angeles-1984. Andando para frente e para trás, num vaivém, o recordista mundial olhava para cima e passava a língua nos lábios. "É estranho. Faço isso quando fico nervoso", explicou mais tarde.
A tensão aumentou ainda mais quando Aziz Zakari, de Gana, queimou a primeira tentativa de largada. Todos se alinharam novamente, aguardaram novo sinal de partida e dispararam.
Diferentemente do que fez Marion Jones na prova feminina, minutos antes, Greene demorou a se destacar. Manteve-se no bolo nos primeiros metros, só atingindo a liderança no final da prova.
Ao cruzar a linha, abraçou Boldon, seu amigo e companheiro de treino em um clube de Los Angeles. Thompson se juntou à dupla e os três ajoelharam na pista.
"Basicamente foi uma reza. Aproveitei para agradecer a Deus", disse o norte-americano.
Greene então tirou as sapatilhas e as jogou para o público. Enrolado à bandeira do seu país, seguiu o protocolo dos grandes vencedores: percorreu a volta olímpica.
Excluído dos 200 m por ter sentido uma lesão nas eliminatórias norte-americanas, ele negou que isso o tenha deixado mais concentrado para a prova de ontem.
"Acho que uma coisa não interferiu na outra. Sempre procuro me concentrar em uma prova por vez", declarou. "Mesmo se eu estivesse nos 200 m, hoje (ontem) estaria concentrado apenas nos 100 m. Nada me afetaria."
Bem-humorado, respondeu com sinceridade à pergunta que lhe foi feita sobre o desafio de Marion (cinco ouros). "Desejo toda a sorte pra ela. Até porque nunca tentaria nada parecido", afirmou.
Dos quatro atletas que chegaram a Sydney para fazer história -Marion, Michael Johnson e Cathy Freeman completam a lista-, Greene é o primeiro a ir para casa satisfeito. (FSx)



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