São Paulo, domingo, 24 de setembro de 2000

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TOSTÃO
O maior vexame da seleção

Inacreditável. Vexame histórico. Mesmo com nove jogadores, Camarões, com muita garra e coragem, adotou a linha antiga e burra de impedimento e ainda venceu.
A seleção brasileira não aproveitou, por incompetência dos jogadores e do técnico. Foram dezenas de impedimentos.
Quando Luxemburgo assumiu o comando da seleção, criou-se uma enorme expectativa. Ele tinha um bom currículo e um discurso moderno e profissional. Seus amigos e admiradores diziam que, pela primeira vez, a seleção seria dirigida por um grande técnico. Esperavam inovações dentro e fora de campo. Nada aconteceu. Pelo contrário, foi um fracasso. Uma decepção. O Brasil nunca foi tão mal dirigido.
Desde o início, Luxemburgo mostrou seus erros, acompanhados de uma empáfia doentia, de falta de transparência e de uma grande breguice.
Suspeitava que o homem Luxemburgo não tivesse preparo emocional e ético para o cargo. Ele foi pior do que eu imaginava.
Repetiu os mesmos erros de outros técnicos. Brigou com vários jogadores, convocou e escalou mal. Os resultados foram péssimos. Na Olimpíada, cometeu mais equívocos. Não somente quis ganhar a medalha de ouro, mas também criar situações em que sua participação seria supervalorizada. Era a chance de reverter as críticas.
Por isso, colocou o Mozart contra a África do Sul, no momento que a partida estava empatada e a seleção precisava de mais um atacante. Teve a mesma intenção, contra Camarões, ao escalar os laterais Athirson e Fábio Aurélio. Se o Brasil vencesse, seus amigos diriam que foi uma jogada de mestre, de um estrategista.
Provavelmente, Luxemburgo vai culpar Ronaldinho e Alex pelo fracasso. Dirá que eles não assumiram a responsabilidade. A culpa será também da imprensa, que idolatrou esses jogadores.
Se na vitória já era difícil engolir a arrogância e os graves problemas pessoais do treinador, não dá para aceitar sua permanência depois de dois anos de fracasso e desse vexame histórico.
A mudança no comando da seleção não pode ser somente de nomes. É necessário uma grande transformação no futebol brasileiro. Dentro e fora de campo.
É o que espero.
Somente os puros e ingênuos acreditam que o mais importante é competir. A emoção e alegria de ganhar um título, uma medalha de ouro, é indefinível. Ao lado do puro prazer da vitória existe um sentimento de responsabilidade, de dever cumprido e de orgulho. "Sou o máximo, o foda". Alguns falam, a maioria pensa.
A tristeza de perder quando se está preparado para vencer é indescritível. Além da desilusão e amargura da derrota, existe o orgulho ferido e a culpa de não ter sido capaz de vencer. Muitos, no choro da derrota, enfatizam que fizeram tudo para ganhar. "Treinei, fiz tudo, não deu". Exorcizam a culpa real e ou imaginária.
Atletas como a levantadora brasileira de peso Maria Elizabeth, e o nadador da Guiné Equatorial Eric resgataram, na Olimpíada, o sonho da pureza e do prazer de competir.
Ainda bem que eles existem.
E-mail tostao.folha@uol.com.br



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