São Paulo, quinta-feira, 24 de outubro de 2002

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PERFIL

Time de Ilha do Governador sofre com torcida e rival

DA SUCURSAL DO RIO

Uma das frases mais famosas do racismo no futebol é do ex-atacante Robson, que jogou no Fluminense nos anos 50: "Eu já fui preto e sei o que é isso".
Os atletas da Portuguesa, um dos destaques da segunda divisão do Estadual do Rio, também sabem o significado da cor da pele no futebol. Para eles, o racismo faz parte do cotidiano. "Convivo com o racismo em todos os jogos. Quando a bola rola, os rivais só me chamam de crioulo safado ou macaco. Eles tentam me descontrolar. É muito chato, mas aprendi a conviver com isso. Tento não ligar", diz o volante Otaviano Castro, 20, que é reserva.
Castro recebe R$ 240 mensais e vive em São Gonçalo, cidade na região metropolitana do Rio. Ele mora com a mãe, que ganha mais: R$ 250 em uma fábrica. "Conto com a ajuda de um amigo do bairro. Se tivesse que contar com o dinheiro da família, eu já teria desistido."
O elenco da Portuguesa, da Ilha do Governador (zona norte do Rio), é formado na maioria por negros e pardos. Eles ganham, em média, pouco mais de um salário mínimo nacional -R$ 200. Dos 11 titulares, apenas dois são brancos. O treinador também é branco.
O volante João Carlos, 22, acha que o racismo é maior entre a torcida: "Se erro, não perdoa. Ela começa a gritar para o técnico tirar o macaco".
O atacante Nilton Santos diz ser exceção. "Sou poupado. O goleiro negro sofre mais. Se toma gol, dizem que é por causa da cor da pele. Já ouvi gente dizer que goleiro negro tem osso pesado e não consegue alcançar a bola", diz o atleta, que é artilheiro da segunda divisão, com 12 gols. (FE E SR)



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