São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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OLIMPÍADA
Clube, que enviou 84 dos 205 atletas brasileiros à Austrália, sempre pagava as contas em dia antes dos Jogos
Calote "coroa" projeto olímpico do Vasco

FERNANDO ITOKAZU
DA REPORTAGEM LOCAL

Atletas vascaínos de pelo menos quatro modalidades enfrentam dificuldades para receber o patrocínio do clube carioca após o término dos Jogos de Sydney.
O Vasco foi o clube com mais representantes na delegação brasileira que competiu na Austrália -84, sendo que 19 retornaram ao país com medalha.
O clube está com o pagamento atrasado para os atletas do atletismo, triatlo, judô e taekwondo.
De acordo com atletas e dirigentes, os problemas começaram após os Jogos. Até então, o clube havia pago todas as contas em dia.
Para o diretor técnico da CBTri (Confederação Brasileira de Triatlo) e chefe da equipe da modalidade em Sydney, Lauter Nogueira, o atraso sinaliza o fim do projeto olímpico do clube.
""É uma pedra cantada há muito tempo no esporte. Uma figura usou a figura dos atletas para fins pessoais", afirmou Nogueira, se referindo a Eurico Miranda.
""O objetivo dele foi alcançado. Qual era o objetivo dele? Se eleger presidente do Vasco. Agora ele vai jogar de lado. O castelo ruiu."
Segundo Nogueira, a situação é frequente no esporte brasileiro.
""Sempre na véspera de Olimpíada, empresários espertos tentam usar a imagem do atleta olímpico, mas nunca tinha visto isto com tanta força, com tanto respaldo financeiro."
Em 1999, o clube gastou R$ 17,8 milhões nos chamados esportes amadores -três vezes mais que o investimento do governo federal.
Neste ano, as despesas foram de R$ 30 milhões, mais do que o dinheiro desembolsado pelo COB (Comitê Olímpico Brasileiro), cujos cálculos prévios apontavam a quantia de R$ 23 milhões.
Os contratos assinados entre o Vasco e os atletas não é garantia de continuidade do projeto para o dirigente do triatlo.
""Tem contratos de longa duração, mas bons advogados conseguem rescisão disso fácil. E você sabe que todo cara com o perfil dele tem bons advogados."
Lauter afirmou que a confederação não pode fazer nada pois os acordos foram assinados entre os atletas e o clube.
A situação agora, segundo Lauter, fica toda nas mãos do presidente eleito do Vasco.
""Ele vai chegar e falar: "se você continuar com a camisa do Vasco tudo bem, mas você que ganha R$ 8.000 passa a ganhar R$ 1.600". Ou então vai falar: "infelizmente acabou a brincadeira. Um abraço."'
O diretor da CBTri disse que, apesar de tudo isso, os atletas, além de admirar Eurico Miranda, têm medo do dirigente.
""Eles (os atletas) têm uma esperança mínima, uma vã esperança de que possa resolver. Eles acham que, se ficarem reclamando, dão uma chance ao Eurico Miranda passar a foice no pescoço."
O maior problema do Vasco acontece no atletismo.
O clube possui atletas próprios e é o patrocinador da Funilense, equipe mais tradicional do país.
De acordo com atletas e dirigentes da modalidade, ainda não houve pagamento referentes aos meses de setembro e outubro.
O velocista André Domingos, integrante do revezamento 4 x 100 m rasos medalha de prata em Sydney, disse que não houve nenhuma reunião e não sabe a justificativa do clube para o atraso.
""Nós só não estamos recebendo e já vai para o terceiro mês."
Domingos não quis citar valores, mas também afirmou que não houve o pagamento de dois prêmios combinados: um pela participação nos Jogos e outro pela conquista da medalha.
O clube carioca havia anunciado prêmios para os vencedores. Uma medalha de ouro significaria R$ 20 mil, uma prata, R$ 15 mil, e o bronze, R$ 10 mil. Além disso, todo finalista levaria R$ 5.000.
O presidente da Funilense, Sérgio Nogueira, que tem contrato com o Vasco até dezembro, confirmou que está sem receber há dois meses. ""Disseram para a gente ter um pouco de paciência."
Atletas de outras modalidades confirmaram o atraso do pagamento, mas dizem acreditar que a situação é passageira.
""A informação que eu tenho é que o Vasco vai regularizar", disse a triatleta Carla Moreno, que está com um mês de salário atrasado.
A judoca Vânia Ishii disse que os pagamentos devem ser normalizados até dezembro. ""Houve uma reunião logo após a Olimpíada em que foi dito que está havendo uma mudança interna e por isso está atrasando."
Carmen Carolina, do taekwondo, também disse que está enfrentando atraso de um mês.


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