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FEDERAÇÕES
MATINAS SUZUKI JR.
Sistema federativo impede melhoria dos campeonatos
Do Conselho Editorial
Um dos homens mais fortes da
República, cujo pai quase foi presidente de um dos mais importantes
times cariocas, foi quem melhor
definiu o sistema de funcionamento das federações e da CBF.
Segundo essa alta autoridade do
Executivo, elas repetem toda a estrutura perversa do sistema federativo das associações patronais
brasileiras.
Os Estados têm, por exemplo, as
suas Federações da Indústria (a
Fiesp de São Paulo talvez seja a
mais conhecida no Brasil).
E o país tem a Confederação Nacional das Indústrias. São representações baseadas em uma estrutura sindical rígida e uma contribuição obrigatória que não condizem mais com a modernização da
economia brasileira.
Os presidentes de federações são
eleitos pelos presidentes das ligas
amadoras e dos clubes filiados. A
participação dos sistema amador
nas federações que lidam com futebol altamente profissionalizado,
por exemplo, é uma das contradições que o sistema federativo brasileiro dá abrigo.
O presidente de federação é um
pequeno déspota da época. Cria-se
dentro das federações um regime
clientelista na disputa e manutenção do poder.
Esse regime, em última instância, é punitivo para os grandes clubes e concessivo para os pequenos
que acabam legitimando o poder
do presidente.
Não raro, o poder diretivo de
uma federação sustenta-se na
aliança com os clubes pequenos e
de divisões secundárias, aliados às
ligas amadoras.
No Brasil, as federações organizam os campeonatos estaduais,
elaboram as tabelas, escolhem os
juízes, vendem os direitos de
transmissão para a televisão, registram os clubes e jogadores e até
dão o ``aval moral'' para a compra
e venda de jogadores.
Há um excesso de atribuições,
para as quais nem sempre estão
preparadas. Muitas vezes, as decisões eminentemente técnicas para
essas itens ficam resolvidas por
critérios políticos.
O futebol vive um sistema fechado. Embora a Lei Zico, de 1993,
torne livre o direito de criar federações, ligas ou associações, um clube isolado, ou um grupo de pequenos clubes não pode se rebelar
contra as determinações do presidente de uma federação.
A federação tem o poder de desfiliar clubes que não cumpram os
regulamentos. Um clube desfiliado fala sozinho: não pode participar nem dos campeonatos estaduais, nem dos Campeonato Brasileiro, pois a CBF (Confederação
Brasileira de Futebol) não reconhecerá esse clube.
A Confederação Brasileira de Futebol também já avisou que não reconhecerá os times que participam
de federações ou ligas alternativas
nos Estados.
Por sua vez, a Fifa, como entidade máxima do futebol internacional, também pode desfiliar federações, clubes e até impedir que seleções participem de competições
internacionais.
Fica muito difícil romper o elo de
poder na cadeia internacionalmente coercitiva do futebol.
Experiência européia
A experiência bem sucedida dos
países europeus indica que o sistema federativo para o futebol de
primeira linha foi superado.
Esses países têm uma instância
superior (no Brasil, a CBF) que
cuida das chamadas questões institucionais do futebol, mas que
não administram a vida dos clubes
e a organização dos campeonatos.
Nesses países, foram constituídas as entidades conhecidas como
as ligas nacionais profissionais,
que são organizações não-federativas, não vinculadas a interesses
regionais, criadas pelos clubes para administrar e organizar os campeonatos de futebol em moldes
profissionais e modernos.
Essas ligas perceberam o potencial do futebol no mundo do espetáculo e na indústria do entretenimento contemporâneo, a passaram a administrá-lo mais com o
olho no mercado e no mundo dos
negócios, do que no mundo das
disputas políticas e regionais do
sistema tradicional (que também
havia em grande quantidade nos
países europeus).
Ao contrário do Brasil, onde temos federações (na maioria) fracas para times fracos, as ligas européias são organizações fortes para
times fortes.
Além da oposição política da
CBF, o grande empecilho para a
constituição da liga nacional de
clubes no Brasil são as federações.
Com uma liga nacional, que papel restaria às federações estaduais? A resposta a esta questão esbarra em outra: com a liga nacional, que papel restaria aos campeonatos estaduais, base do poder
político das federações?
Os cenários
A continuidade do regime federativo no futebol brasileiro dependerá dos rumos que o futebol brasileiro adotar nos próximos anos.
Há uma corrente bastante forte
propondo a ampliação e valorização dos torneios nacionais (Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil, basicamente), em detrimento
dos campeonatos e torneios estaduais e regionais.
Se essa corrente prevalecer, o cenário com o encolhimento das federações e o surgimento de uma
liga nacional de clubes profissionais aumenta as suas chances de
aparecer nos horizontes do país do
futebol.
Dependendo do regime a ser
adotado, as federações administrariam os campeonatos regionais
dos times excluídos das divisões da
liga nacional.
Em outro regime, o da permanência dos torneios estaduais, só
que em formato menor, elas continuariam administrando esses
campeonatos.
No caso de prevalecer o terceiro
regime, aquele que prevê a extinção pura e simples do campeonatos estaduais, seria difícil imaginar
a subsistência das federações.
Mas, seja qual for a variante adotada para a modernização do futebol brasileiro, ela passará pela diminuição do poder das Federações.
É aí é que a coisa pega.
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