São Paulo, quarta, 25 de março de 1998

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Um olho na defesa, outro no nş 1

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas E assim foi posto, pela nossa ciosa porém trepidante crônica esportiva: o jogo de hoje, com a Alemanha, que deveria ser apenas um amistoso destinado a reatar por dois dias, se tanto, o relacionamento entre os nossos jogadores, virou questão de vida ou morte.
E por quê? Apenas porque uma seleção brasileira, composta pelo seu terceiro escalão, deu o maior vexame outro dia na Copa de Ouro, um torneiozinho desprovido de qualquer importância.
Que esse vexame servisse para baixar a crista de Zagallo, vá lá. Que fosse uma lição de humildade para esses jogadores empavonados, ótimo. Mas levar a questão a tais extremos é tão irresponsável como aprovar o comportamento desleixado do treinador, que continua infenso à realidade: além de declarar que não viaja para observar os adversários porque não tem tempo, sendo técnico da CBF em tempo integral, não treina a equipe devidamente, quando tempo há.
Talvez, a questão de Zagallo seja mesmo tempo: quem sabe, seu tempo já não tenha passado. Mas quem não tem mais tempo para discutir isso somos nós. Agora, é vai ou racha.
E esse jogo contra os alemães até que pode nos dar o impulso necessário para irmos de vez em direção ao caneco. Antes de mais nada, porque temos um belo currículo diante dos alemães, que reputo o futebol mais competitivo e vistoso do mundo, depois do nosso.
Ao contrário dos manhosos argentinos e dos traiçoeiros italianos, os alemães jogam sempre para ganhar. O empate nunca fez parte de seu show. Marcam bem lá atrás, é verdade, e podem até, numa eventualidade, fazer um cambalacho para assegurar uma vaga mais cômoda numa fase eliminatória de Copa. Mas isso é uma vez na vida, outra na morte. De hábito, o alemão se atira ao ataque, com tudo, o que é bom e é mau, para nós.
Bom, porque nos oferece campo de manobra para os contragolpes, em que somos mortíferos com jogadores como Denílson, Rivaldo, Romário e Ronaldinho. Mau, porque até o apito final do árbitro eles seguem em frente, não importando o que diga o placar para demovê-los dessa ação compulsiva. E, com esse nosso sistema defensivo tão vulnerável, por certo, manteremos o coração na boca até o fim.
Vencendo ou não, só espero que nem subamos aos céus, nem desçamos aos infernos. Fiquemos por aqui mesmo, com os pés no chão -um olho na defesa, outro no número um, duas questões que seguirão em suspenso, independendo do resultado de hoje.

Admito que, embora tardiamente, será um teste para Raí. Mas, para Rivaldo? Rivaldo está na ponta dos cascos no Barcelona de Van Gaal e já foi testado demais na seleção.
Logo, o mais sábio seria Zagallo escalar Raí desde o começo, para tirar quaisquer dúvidas: ou dá, ou desce.

Qual o time de melhor campanha até agora no Paulistão? O São Paulo. E por quê? Sobretudo, porque está jogando com apenas um volante típico. O outro -Carlos Miguel ou Alexandre- é um meia nato com ganas de marcador.
Pena que Zagallo não leve em conta essas coisas.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas


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