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São Paulo, quarta-feira, 25 de junho de 2003

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FUTEBOL

Inimigo político de ex-craque, grupo que comanda o clube crê que título continental é senha para "expurgá-lo" da Vila

Santos quer deixar de ser a "viúva do Pelé"

FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC

No dia 10 de dezembro de 1999, em meio a uma das mais bélicas eleições da história do Santos, o jornal "A Tribuna", o maior da cidade litorânea, publicou em sua primeira página um anúncio pago assinado por "Edson - Pelé".
No texto, o ex-jogador afirmava que se a chapa "Novos Rumos", encabeçada por Marcelo Teixeira, vencesse o pleito ele se afastaria do clube que o consagrou.
"(...) De imediato me distanciarei de qualquer ato desta diretoria para não atrapalhá-los em seus propósitos. Acima de tudo eu quero o melhor para o nosso clube", dizia o trecho final da nota.
Pelé apoiava então a candidatura de José Paulo Fernandes, situacionista que era vice de Samir Abdul-Hak, seu amigo e advogado, que deixava a presidência após cumprir dois mandatos.
Três anos e meio depois, o grupo que derrotou politicamente o maior jogador da história deseja que ele mantenha a ameaça-promessa feita naquele anúncio. Para essas pessoas, que hoje dominam o Conselho Deliberativo do clube, está na hora de o Santos de Pelé passar a ser só Santos.
E não haveria ocasião mais adequada para isso que o título da Libertadores da América, conquistado duas vezes pela equipe (62 e 63) e em ambas colado à figura lendária de Pelé. Voltar a ganhar tão importante competição sem a participação do mito, avaliam, seria ideal para enterrar de vez a gozação imposta pelos adversários por anos a fio de que os santistas não passam de "viúvas do Pelé".
Embora seja debatido há anos à boca miúda nos bastidores da Vila Belmiro, o "expurgo" do ex-jogador é, quando tratado de forma oficial, um tema-tabu.
"Se o Pelé, por uma iniciativa própria, tem as suas razões para não se aproximar do Santos, aí você vá e pergunte a ele. Nós não temos nenhum tipo de problema com ele. Ninguém quer apagar a imagem do Pelé", disse o presidente santista, Marcelo Teixeira.
O tom diplomático contrasta com declarações de seus poucos pares da diretoria que topam comentar o assunto sem rodeios.
"O Pelé mina o nosso trabalho diariamente e tenho certeza de que está torcendo contra o Santos nessa final. Na diretoria todos pensam assim, mas muitos não podem dizer. O Santos está na curva da Boa Esperança. Vamos ganhar e acabar com essa história de que dependemos do Pelé", afirmou o conselheiro Celso Leite, diretor empresarial do clube.
Ele alega que a gestão de Abdul-Hak, acusada de irregularidades pela situação, era na verdade conduzida por Pelé. As contas do mandato 98/99 ainda não foram aprovadas no Conselho Deliberativo do clube. Leite diz ainda que Pelé está por trás de grupos de oposição que hoje criticam a gestão Marcelo Teixeira.
O conselheiro Paulo Silvares, membro do Conselho Fiscal e da comissão criada para reformar o estatuto do clube, vai na mesma linha. "Acho que isso [Santos de Pelé] está superado. Tudo que está sendo feito independe dele. O Santos anda pelas suas próprias pernas, é bem maior que Pelé."
A participação de Pelé na direção santista começou em 1993, com a eleição de Miguel Kodja Neto. Por divergências com o presidente, ele deixou o clube em 94. Mas contratou uma auditoria que constatou irregularidades na gestão Kodja Neto, que foi afastado -entrou o vice Abdul-Hak.


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