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FUTEBOL
Inimigo político de ex-craque, grupo que comanda o clube crê que título continental é senha para "expurgá-lo" da Vila
Santos quer deixar de ser a "viúva do Pelé"
FÁBIO VICTOR
DO PAINEL FC
No dia 10 de dezembro de 1999,
em meio a uma das mais bélicas
eleições da história do Santos, o
jornal "A Tribuna", o maior da cidade litorânea, publicou em sua
primeira página um anúncio pago assinado por "Edson - Pelé".
No texto, o ex-jogador afirmava
que se a chapa "Novos Rumos",
encabeçada por Marcelo Teixeira,
vencesse o pleito ele se afastaria
do clube que o consagrou.
"(...) De imediato me distanciarei de qualquer ato desta diretoria
para não atrapalhá-los em seus propósitos. Acima de tudo eu quero o
melhor para o nosso clube", dizia
o trecho final da nota.
Pelé apoiava então a candidatura de José Paulo Fernandes, situacionista que era vice de Samir Abdul-Hak, seu amigo e advogado,
que deixava a presidência após
cumprir dois mandatos.
Três anos e meio depois, o grupo que derrotou politicamente o
maior jogador da história deseja
que ele mantenha a ameaça-promessa feita naquele anúncio. Para
essas pessoas, que hoje dominam
o Conselho Deliberativo do clube,
está na hora de o Santos de Pelé
passar a ser só Santos.
E não haveria ocasião mais adequada para isso que o título da Libertadores da América, conquistado duas vezes pela equipe (62 e
63) e em ambas colado à figura
lendária de Pelé. Voltar a ganhar
tão importante competição sem a
participação do mito, avaliam, seria ideal para enterrar de vez a gozação imposta pelos adversários
por anos a fio de que os santistas
não passam de "viúvas do Pelé".
Embora seja debatido há anos à
boca miúda nos bastidores da Vila Belmiro, o "expurgo" do ex-jogador é, quando tratado de forma
oficial, um tema-tabu.
"Se o Pelé, por uma iniciativa
própria, tem as suas razões para
não se aproximar do Santos, aí
você vá e pergunte a ele. Nós não
temos nenhum tipo de problema
com ele. Ninguém quer apagar a
imagem do Pelé", disse o presidente santista, Marcelo Teixeira.
O tom diplomático contrasta
com declarações de seus poucos
pares da diretoria que topam comentar o assunto sem rodeios.
"O Pelé mina o nosso trabalho
diariamente e tenho certeza de
que está torcendo contra o Santos
nessa final. Na diretoria todos
pensam assim, mas muitos não
podem dizer. O Santos está na
curva da Boa Esperança. Vamos
ganhar e acabar com essa história
de que dependemos do Pelé",
afirmou o conselheiro Celso Leite,
diretor empresarial do clube.
Ele alega que a gestão de Abdul-Hak, acusada de irregularidades
pela situação, era na verdade conduzida por Pelé. As contas do
mandato 98/99 ainda não foram
aprovadas no Conselho Deliberativo do clube. Leite diz ainda que
Pelé está por trás de grupos de
oposição que hoje criticam a gestão Marcelo Teixeira.
O conselheiro Paulo Silvares,
membro do Conselho Fiscal e da
comissão criada para reformar o
estatuto do clube, vai na mesma
linha. "Acho que isso [Santos de
Pelé] está superado. Tudo que está sendo feito independe dele. O
Santos anda pelas suas próprias
pernas, é bem maior que Pelé."
A participação de Pelé na direção santista começou em 1993,
com a eleição de Miguel Kodja
Neto. Por divergências com o
presidente, ele deixou o clube em
94. Mas contratou uma auditoria
que constatou irregularidades na
gestão Kodja Neto, que foi afastado -entrou o vice Abdul-Hak.
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