São Paulo, sábado, 25 de agosto de 2007

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JOSÉ GERALDO COUTO

Denílson nos States

Às vezes um jogador que já teve seus dias de glória sai do ostracismo e tira o pó da nossa memória

LEMBRA DO Denílson? Pois então: assinou contrato com o FC Dallas para jogar na Major League Soccer, nos Estados Unidos. Vai ganhar uma montanha de dólares para ser "o Beckham do Dallas". Boa sorte para ele.
Quando Denílson despontou no São Paulo, há mais de dez anos, alguns observadores se entusiasmaram, prevendo-lhe um futuro brilhante, com direito a um lugar entre os melhores do mundo. Outros torceram o nariz, chamando-o de malabarista de circo, foca amestrada e outros epítetos pouco lisonjeiros.
Denílson não se revelou uma coisa nem outra. Ficou no meio do caminho. Jogou em clubes europeus de menor expressão, nunca se firmou como titular da seleção, mas manteve sempre o bom humor e o jeito moleque. Embora não seja um galã como Beckham, tem tudo para se dar bem nos EUA, onde, supõe-se, seus dribles são menos manjados.
A notícia me deu um pequeno susto. É que eu simplesmente tinha me esquecido da existência do Denílson. Era como um jogador de outra era, embora só ontem, 24 de agosto, ele tenha completado 30 anos.
Isso me fez pensar no "buraco negro" em que caem certos jogadores quando, depois de sair do Brasil, vão parar em clubes de países periféricos. Como não costumo acompanhar publicações esportivas estrangeiras e tampouco sou um rato de Google, perco de vista, sem perceber, legiões inteiras de craques, ex-craques e ex-promessas de craques.
De vez em quando, um deles aterrissa por aqui, como o campeão do mundo Kléberson, que cumpria seu discreto ostracismo na Turquia.
Daria um bom documentário, ou especial de TV, o registro das vidas de atletas nessa espécie de limbo entre a glória e o fim da carreira, entre a fama e o esquecimento. Talvez um filme assim nos levasse a refletir não só sobre o caminho singular dos futebolistas mas sobre a "vanidade da vaidade" em face do destino que toca a todo mundo, a "fuga deste dia que era mil" de que fala Drummond num poema memorável.

Saudades do Manga
O cineasta Sylvio Back, como todo botafoguense que se preze, acredita que existe uma conspiração cósmica para impedir o Botafogo de ser feliz. Ele lamenta em especial a leva de goleiros pouco confiáveis que vestiram a camisa do Botafogo nos últimos tempos. E suspira: "Ah, que saudades do Manga".
A simples menção do goleirão de cara marcada de varíola e manzorras deformadas por fraturas traz de volta toda uma era do futebol brasileiro. O pernambucano Manga, cujo verdadeiro nome é Aílton Corrêa Arruda, foi ao mesmo tempo um goleiro de grande talento e uma figura folclórica como poucas. Manga, que, antes dos jogos contra o Flamengo, provocava os adversários dizendo que já gastara adiantado o dinheiro do "bicho".
Manga, que pulou o muro da sede do Botafogo para fugir dos tiros de João Saldanha, de quem fora tirar satisfação depois que o comentarista o acusou de estar "na gaveta" numa partida contra o Bangu. Manga, que jogou profissionalmente até os 45 anos, após ser campeão mundial (pelo uruguaio Nacional) e bicampeão brasileiro (pelo Inter). Por onde anda o Manga?


jgcouto@uol.com.br

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