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JOSÉ GERALDO COUTO
Denílson nos States
Às vezes um jogador que
já teve seus dias de glória
sai do ostracismo e tira
o pó da nossa memória
LEMBRA DO Denílson? Pois então: assinou contrato com o
FC Dallas para jogar na Major
League Soccer, nos Estados Unidos.
Vai ganhar uma montanha de dólares para ser "o Beckham do Dallas".
Boa sorte para ele.
Quando Denílson despontou no
São Paulo, há mais de dez anos, alguns observadores se entusiasmaram, prevendo-lhe um futuro brilhante, com direito a um lugar entre
os melhores do mundo. Outros torceram o nariz, chamando-o de malabarista de circo, foca amestrada e
outros epítetos pouco lisonjeiros.
Denílson não se revelou uma coisa
nem outra. Ficou no meio do caminho. Jogou em clubes europeus de
menor expressão, nunca se firmou
como titular da seleção, mas manteve sempre o bom humor e o jeito
moleque. Embora não seja um galã
como Beckham, tem tudo para se
dar bem nos EUA, onde, supõe-se,
seus dribles são menos manjados.
A notícia me deu um pequeno susto. É que eu simplesmente tinha me
esquecido da existência do Denílson. Era como um jogador de outra
era, embora só ontem, 24 de agosto,
ele tenha completado 30 anos.
Isso me fez pensar no "buraco negro" em que caem certos jogadores
quando, depois de sair do Brasil, vão
parar em clubes de países periféricos. Como não costumo acompanhar publicações esportivas estrangeiras e tampouco sou um rato de
Google, perco de vista, sem perceber, legiões inteiras de craques, ex-craques e ex-promessas de craques.
De vez em quando, um deles aterrissa por aqui, como o campeão do
mundo Kléberson, que cumpria seu
discreto ostracismo na Turquia.
Daria um bom documentário, ou
especial de TV, o registro das vidas
de atletas nessa espécie de limbo entre a glória e o fim da carreira, entre
a fama e o esquecimento. Talvez um
filme assim nos levasse a refletir não
só sobre o caminho singular dos futebolistas mas sobre a "vanidade da
vaidade" em face do destino que toca a todo mundo, a "fuga deste dia
que era mil" de que fala Drummond
num poema memorável.
Saudades do Manga
O cineasta Sylvio Back, como todo botafoguense que se preze, acredita que existe uma conspiração
cósmica para impedir o Botafogo
de ser feliz. Ele lamenta em especial a leva de goleiros pouco confiáveis que vestiram a camisa do Botafogo nos últimos tempos. E suspira:
"Ah, que saudades do Manga".
A simples menção do goleirão de
cara marcada de varíola e manzorras deformadas por fraturas traz de
volta toda uma era do futebol brasileiro. O pernambucano Manga, cujo verdadeiro nome é Aílton Corrêa
Arruda, foi ao mesmo tempo um
goleiro de grande talento e uma figura folclórica como poucas.
Manga, que, antes dos jogos contra o Flamengo, provocava os adversários dizendo que já gastara
adiantado o dinheiro do "bicho".
Manga, que pulou o muro da sede
do Botafogo para fugir dos tiros de
João Saldanha, de quem fora tirar
satisfação depois que o comentarista o acusou de estar "na gaveta"
numa partida contra o Bangu.
Manga, que jogou profissionalmente até os 45 anos, após ser campeão mundial (pelo uruguaio Nacional) e bicampeão brasileiro (pelo Inter). Por onde anda o Manga?
jgcouto@uol.com.br
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