|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Cúpula corintiana cai na malha da CPI do Banestado
MTB Bank, de Nova York, registra operações suspeitas em nome do presidente Alberto Dualib e do vice de futebol Antonio Roque Citadini em contas de doleiros
EDUARDO ARRUDA
RICARDO PERRONE
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A base de dados do MTB Bank,
de Nova York, identificou uma
operação financeira suspeita em
nome de Alberto Dualib, presidente do Corinthians, e outra em
nome de Antonio Roque Citadini,
vice de futebol do clube e conselheiro do Tribunal de Contas do
Estado de São Paulo. Aparecem
ainda quatro contas movimentadas em nome de "A.Citadini".
As informações foram obtidas
pela Folha com base nas operações registradas em um CD enviado pela Promotoria de Nova York
(EUA) à CPI do Banestado.
Dualib usou conta controlada
por doleiros para repatriar US$
300 mil ao Brasil. A operação, realizada no dia 1º de março de 2002,
seria a venda de um apartamento
em Madri, segundo o dirigente,
que atribuiu a um ex-funcionário
da empresa de um de seus filhos o
negócio com os doleiros.
Citadini nega ser o responsável
pela abertura e movimentação
das contas em seu nome e disse
desconhecer a existência delas até
então. Segundo ele, as únicas operações com o exterior foram para
a aquisição de um seguro familiar.
O MTB Bank, atual Hudson
United, está sendo investigado
pela Promotoria de Nova York.
Segundo levantamento feito pela
Folha, um grupo de dez doleiros
brasileiros movimentou pelo menos US$ 2,4 bilhões em 42 contas
do MTB Bank de Nova York
(EUA) entre janeiro de 1997 e 24
de novembro de 2003.
No caso de Dualib, uma conta
em seu nome no Citibank, nos
EUA, foi usada para enviar US$
300 mil para a Azteca Financial
Corp., "offshore" com sede nas
Ilhas Virgens Britânicas, via MTB.
A Azteca é administrada pelos
doleiros Myriam Haber e Roger
Clement Haber, que atuam na capital paulista.
Essa movimentação financeira
não passou pelos canais oficiais. A
transação deveria ter sido comunicada ao Banco Central.
Dualib alega que a conta no Citibank foi aberta sem seu consentimento, pelo comprador do imóvel em Madri, um espanhol casado com uma americana. Segundo
o dirigente, a abertura foi feita para que fosse depositado o dinheiro referente ao negócio.
A assessoria de imprensa do
banco, no entanto, informou à reportagem que tal procedimento
não seria possível sem o consentimento do titular da conta por
meio da documentação exigida.
Para sacar a quantia, Dualib disse ter feito três cheques no valor
de US$ 100 mil cada.
"Em vez de ele [o ex- funcionário] pegar os três cheques e fazer a
operação pelo Banco Central, fez
através de um doleiro", afirmou o
presidente corintiano.
De acordo com a base de dados
do MTB Bank, a última parada do
dinheiro foi a Azteca. Depois disso, não se sabe qual foi o destino
dos US$ 300 mil. Dualib diz desconhecer o envio do dinheiro para o paraíso fiscal.
A movimentação sugere que
houve um sistema paralelo de
compensação, conhecido como
dólar cabo. O esquema consiste
em receber em real no Brasil de
um doleiro e pagá-lo em dólar no
exterior sem que a operação seja
informada ao Banco Central.
Apesar de não ter de pagar imposto para trazer o dinheiro ao
país, a operação pode indicar sonegação fiscal caso o valor real da
venda não tenha sido declarado.
O dólar cabo pode ser usado para
ocultar patrimônio.
Dualib diz que não declarou a
existência da conta nos EUA porque ela foi aberta e encerrada no
mesmo ano, o que o desobriga
desse procedimento.
O dirigente mostrou à Folha a
sua declaração de bens no IR do
exercício 2003, calendário 2002. O
imóvel em Madri, de cinco dormitórios e adquirido em 1986 em
nome de Elvira Real Dualib, mulher do dirigente corintiano, aparece na relação.
Na coluna referente à situação
dos bens em 2001 está registrado o
valor de R$ 235.974,29. Segundo
Dualib, esse é o valor histórico do
imóvel. Por isso, bem inferior aos
US$ 300 mil da venda.
Em um extrato bancário fornecido por Dualib de sua conta no
Citibank no Brasil aparece a entrada de R$ 845.370,31.
Dualib diz ter vendido o apartamento com o dólar a R$ 2,38 na
época. Esse valor, multiplicado
por US$ 300 mil, corresponde a
R$ 714 mil. Mas o dirigente afirmou ter enviado R$ 240 mil para a
conta da Rollex S.A, empresa controlada por um de seus filhos.
A diferença entre a quantia obtida com a venda do imóvel e a gasta com a compra pode gerar uma
investigação por parte da Receita
Federal. Nesse caso, o contribuinte é obrigado a fazer uma declaração de ganho de capital.
Nela, deve pagar à Receita 15%
da diferença, o que, no caso de
Dualib, corresponderia a cerca de
R$ 71 mil. O dirigente diz ter declarado o ganho de capital, mas
não mostrou nenhum documento referente a isso. "Se tiver algum
problema aí é com a Receita."
Na presidência do Corinthians
desde 1993, Dualib enfrenta atualmente oposição por parte de seu
Conselho Deliberativo justamente por querer assinar parceria
com uma empresa fundada em
um paraíso fiscal, a MSI. Os opositores suspeitam de envolvimento em lavagem de dinheiro.
Seguro
Antonio Roque Citadini, que assumiu a vice-presidência de futebol corintiana em outubro de
2000, aparece como titular de
uma conta do Lloyds Bank em
Miami. Dela são transferidos U$
3.703, em 7 de maio de 1998, para
a Venus, controlada por doleiros.
Outras quatro operações, entre
4 de junho e 21 de julho de 2003,
num total de R$136.928,00, são
creditadas a A. Citadini. As transferências foram do JP Morgan
Chase para a Digital, administrada pelos doleiros Raul Henrique
Srour e Richard A. de Mal Van Otterloo. As transações terminam
com o número 982, que pode ser
um código de identificação da
transferência para os doleiros.
Citadini diz que as operações
podem ter sido feitas por um
agente de seguros, mas até ontem
não apresentou documentos que
comprovem isso.
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Outro lado: Dualib admite ter de prestar contas à Receita Índice
|