São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OUTRO LADO

Dualib admite ter de prestar contas à Receita

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Corinthians, Alberto Dualib, disse jamais ter feito negócios com a Azteca Financial Corp., offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, para onde foram enviados US$ 300 mil de uma conta em seu nome no Citibank. Porém o dirigente admite que pode ter contas a acertar com o fisco. Bastante irritado ao final das quatro conversas que teve com a Folha, Dualib chegou a dizer que os questionamentos da reportagem pareciam "chantagem" contra ele. (EAR, RP E RV)
 

Folha - A CPI do Banestado detectou uma operação financeira de uma conta pessoal do senhor no Citibank para uma empresa com sede em paraíso fiscal, a Azteca Financial Corp. O senhor pode explicar essa operação?
Alberto Dualib
- Eu vendi um apartamento. Para trazer o dinheiro para o Brasil, eu pedi talão de cheques, fiz três cheques de US$ 100 mil, dei para um gerente financeiro meu [da empresa Rollex S.A, controlada por um filho de Dualib] que já foi embora. Em vez de ele pegar os três cheques e fazer a operação pelo Banco Central, ele fez através de um doleiro. O dinheiro veio para o país porque, quando dei os cheques aqui, a pessoa pagou os cheques e deve ter tirado do banco para pôr em paraíso fiscal. Vocês têm que rastrear no paraíso fiscal para quem foi o dinheiro.

Folha - O senhor pode dizer o nome do gerente financeiro?
Dualib
- Não vou denunciá-lo agora porque tenho uma briga judicial com ele.

Folha - O senhor abriu a conta lá para fazer essa operação?
Dualib
- Não fui eu quem abriu a conta. Eu vendi o apartamento e em vez dessa pessoa [o comprador] mandar o dinheiro via BC para mim, acho que ele tinha conta em Nova York e passou para a minha conta esse valor [US$ 300 mil].

Folha - O senhor conhece essa empresa, a Azteca Financial Corp.?
Dualib
- Não conheço e queria que vocês encontrassem quem recebeu esse dinheiro lá. Esse dinheiro saiu de uma conta e passou para outra que deve ser a pessoa que pagou o doleiro.

Folha - A questão é que esse dinheiro saiu de uma conta nos EUA, não de uma conta aqui. O senhor não tem conta nos EUA?
Dualib
- Quem comprou o meu apartamento fez uma conta para mim nos EUA. Para receber tive que fazer os três cheques, dei para a empresa, e a empresa entregou para um doleiro. O doleiro que deve ter feito esse rolo todo.

Folha - O senhor não tem mais a conta?
Dualib
- Não, porque esvaziou.

Folha - Mas o dinheiro saiu de sua conta e foi para a Azteca?
Dualib
- Eu acho que quem fez a operação deve ter pago aqui o valor, e o dinheiro de lá foi para a conta dele. Essas contas de doleiro são todas assim. Ele [doleiro] tem muito dinheiro aqui em real. Ele paga em real e recebe em dólar lá. E vice-versa. É sempre casada com a pessoa que quer pôr dólar lá fora. Então ele recebe do banco para pôr na conta dele.

Folha - Porque foi usada uma conta nos EUA?
Dualib
- Porque ele [comprador] tem conta nos EUA.

Folha - Ele é americano?
Dualib
- A mulher dele é americana e ele é espanhol. Entraram aqui no Brasil US$ 300 mil. E numa empresa. Mais legítimo do que isso não existe. Como ele fez por intermédio de um doleiro, o que pode acontecer é que tenhamos que prestar contas à Receita Federal. Se tivermos, paciência.

Folha - O senhor não tem mais nenhuma conta no exterior?
Dualib
- Eu nunca tive conta no exterior. Nem essa fui quem abriu. Não sei onde é.

Folha - Mas ele teve que ter a autorização do senhor?
Dualib
- Não, ele falou que tinha negócios e transferiu da conta dele para a minha. Ele achou mais fácil com uma carta e fez isso.

Folha - E o senhor não sabia disso?
Dualib
- Não. Até briguei com ele na época porque tinham uns problemas lá no prédio porque andaram alugando apartamento e recebendo dinheiro diretamente. E eles usaram dinheiro do aluguel, US$ 1,2 mil por mês, para custear o tratamento da filha do zelador. Isso me aborreceu mais ainda.


Texto Anterior: Cúpula corintiana cai na malha da CPI do Banestado
Próximo Texto: Saiba mais: Comissão passa por processo de esvaziamento
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.