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MOTOR
Sobre como ser confiante
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Existem diversas coisas que
atraem na F-1. Alguns assistem às corridas pelo risco, outros
pela emoção da velocidade, pela
habilidade dos pilotos. Alguns
ainda acreditam que há glamour
nesse troço, mulheres bonitas, dinheiro, essas coisas.
Confesso que a coluna passa ao
largo desses itens. O risco é calculado, a habilidade é cada vez mais rara, e o glamour é só uma
ferramenta de marketing. Dispensam maiores análises. A verdade é que a F-1 abriu mão de sua
graça por diversos motivos. Mas,
como tudo tem uma exceção, a
categoria agregou elementos. E
um dos poucos que realmente
atraem -claro, opinião de alguém que um dia já foi engenheiro- é a organização dos times.
Nesse quesito, não há muito o
que ponderar, a Williams ganha
de barbada. Dizem que o segredo
é Patrick Head. Há quem prefira
creditar o sucesso à frieza estampada na própria deficiência de
Frank Williams. Pouco interessa
o responsável, o time é uma empresa perfeita, cumpre os prazos
e, mais importante, dá lucro.
Ontem, em Silverstone, a escuderia inglesa deu mais uma
amostra dessa incrível trajetória.
Após apenas dois anos de associação com a BMW, abandonou o
discurso de progresso e desenvolvimento que assola boa parte do
grid. A partir de agora, resumiram seus dirigentes, a Williams
está apta a ganhar qualquer GP.
A conta foi feita por Frank Williams. Com dois anos de estrada,
a expectativa em torno da terceira temporada da associação não
poderia ser diferente.
Mario Theissen, diretor da
BMW, fez outra. O primeiro modelo do motor bávaro, o E41, saiu
do zero para 90% de sua real capacidade, em 2000. No ano passado, estima o executivo, o P80 chegou a 98%. Já o P82, que empurra
o FW24, simplesmente construirá
seus limites, fenômeno explicado
de forma curiosa pelo próprio
Theissen: "É óbvio que nunca
chegaremos a 100%".
O leitor perguntaria agora qual
seria a razão para acreditar em
mais um lançamento cheio de
promessas. Respondo com outra
pergunta: dá para duvidar?
Basta comparar essa ressurreição da Williams com a da McLaren, nos anos 90. Enquanto o time
de Ron Dennis consumiu sete
anos para voltar a vencer entre as
eras Honda e Mercedes, Williams
e Head consumiram apenas quatro entre a Renault e a BMW.
Além disso, o caminho de Dennis foi muito mais tortuoso, passando por dois outros fornecedores de motor antes de os alemães
cravarem a estrela no bico de seus
carros. Sem falar numa constrangedora mudança de patrocinador, que preferiu bancar o projeto
de Schumacher na Ferrari.
Na metade do tempo, a Williams também se aproximou da
Alemanha -a grande teta de recursos da F-1 na atualidade-,
trocou o dinheiro do cigarro por
de setores de serviços e alta tecnologia -mais "limpo" e mais
útil- e, para completar, cooptou
uma concorrente da Mercedes
ávida por mostrar serviço.
Enquanto isso, na pista, um desempenho talvez apenas mediano, mas nunca de fiasco -lembre-se, aconteceu com a McLaren-, e uma pensada seleção de
pilotos, que culminou na atual
dupla -como disse Gerhard Berger, dois pilotos de estilos e personalidades bem diferentes, mas
com os mesmos objetivos.
Dá para comparar? Dá para
duvidar? Claro que não.
Sauber
Também ontem, na Suíça, a Sauber lançou seu C21, visualmente
idêntico ao competente modelo de 2001. Segundo os executivos de Peter Sauber, porém, o carro possui 80% de componentes novos, a começar pela caixa de câmbio, modificada para abrigar a última especificação do motor Ferrari do ano passado, mais baixo que a unidade anterior. Antes do lançamento, Felipe Massa testou o novo carro e aprovou. A Sauber tem difícil missão neste ano: mostrar
que o sucesso da temporada passada não foi apenas uma sucessão
de acertos, mas sim o início de uma campanha de time grande.
Renault
Enquanto Prost ainda passa o chapéu para salvar seu time, outro
ícone francês do automobilismo, a Renault, voltará a ser oficialmente uma escuderia amanhã, no lançamento do carro 2002. O retrospecto da marca, tecnicamente, é muito bom, mas será isso suficiente? A F-1 começa a ficar pequena diante de tantas montadoras.
E-mail: mariante@uol.com.br
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