São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2002

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MOTOR

Sobre como ser confiante

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Existem diversas coisas que atraem na F-1. Alguns assistem às corridas pelo risco, outros pela emoção da velocidade, pela habilidade dos pilotos. Alguns ainda acreditam que há glamour nesse troço, mulheres bonitas, dinheiro, essas coisas.
Confesso que a coluna passa ao largo desses itens. O risco é calculado, a habilidade é cada vez mais rara, e o glamour é só uma ferramenta de marketing. Dispensam maiores análises. A verdade é que a F-1 abriu mão de sua graça por diversos motivos. Mas, como tudo tem uma exceção, a categoria agregou elementos. E um dos poucos que realmente atraem -claro, opinião de alguém que um dia já foi engenheiro- é a organização dos times.
Nesse quesito, não há muito o que ponderar, a Williams ganha de barbada. Dizem que o segredo é Patrick Head. Há quem prefira creditar o sucesso à frieza estampada na própria deficiência de Frank Williams. Pouco interessa o responsável, o time é uma empresa perfeita, cumpre os prazos e, mais importante, dá lucro.
Ontem, em Silverstone, a escuderia inglesa deu mais uma amostra dessa incrível trajetória. Após apenas dois anos de associação com a BMW, abandonou o discurso de progresso e desenvolvimento que assola boa parte do grid. A partir de agora, resumiram seus dirigentes, a Williams está apta a ganhar qualquer GP.
A conta foi feita por Frank Williams. Com dois anos de estrada, a expectativa em torno da terceira temporada da associação não poderia ser diferente.
Mario Theissen, diretor da BMW, fez outra. O primeiro modelo do motor bávaro, o E41, saiu do zero para 90% de sua real capacidade, em 2000. No ano passado, estima o executivo, o P80 chegou a 98%. Já o P82, que empurra o FW24, simplesmente construirá seus limites, fenômeno explicado de forma curiosa pelo próprio Theissen: "É óbvio que nunca chegaremos a 100%".
O leitor perguntaria agora qual seria a razão para acreditar em mais um lançamento cheio de promessas. Respondo com outra pergunta: dá para duvidar?
Basta comparar essa ressurreição da Williams com a da McLaren, nos anos 90. Enquanto o time de Ron Dennis consumiu sete anos para voltar a vencer entre as eras Honda e Mercedes, Williams e Head consumiram apenas quatro entre a Renault e a BMW.
Além disso, o caminho de Dennis foi muito mais tortuoso, passando por dois outros fornecedores de motor antes de os alemães cravarem a estrela no bico de seus carros. Sem falar numa constrangedora mudança de patrocinador, que preferiu bancar o projeto de Schumacher na Ferrari.
Na metade do tempo, a Williams também se aproximou da Alemanha -a grande teta de recursos da F-1 na atualidade-, trocou o dinheiro do cigarro por de setores de serviços e alta tecnologia -mais "limpo" e mais útil- e, para completar, cooptou uma concorrente da Mercedes ávida por mostrar serviço.
Enquanto isso, na pista, um desempenho talvez apenas mediano, mas nunca de fiasco -lembre-se, aconteceu com a McLaren-, e uma pensada seleção de pilotos, que culminou na atual dupla -como disse Gerhard Berger, dois pilotos de estilos e personalidades bem diferentes, mas com os mesmos objetivos.
Dá para comparar? Dá para duvidar? Claro que não.

Sauber
Também ontem, na Suíça, a Sauber lançou seu C21, visualmente idêntico ao competente modelo de 2001. Segundo os executivos de Peter Sauber, porém, o carro possui 80% de componentes novos, a começar pela caixa de câmbio, modificada para abrigar a última especificação do motor Ferrari do ano passado, mais baixo que a unidade anterior. Antes do lançamento, Felipe Massa testou o novo carro e aprovou. A Sauber tem difícil missão neste ano: mostrar que o sucesso da temporada passada não foi apenas uma sucessão de acertos, mas sim o início de uma campanha de time grande.

Renault
Enquanto Prost ainda passa o chapéu para salvar seu time, outro ícone francês do automobilismo, a Renault, voltará a ser oficialmente uma escuderia amanhã, no lançamento do carro 2002. O retrospecto da marca, tecnicamente, é muito bom, mas será isso suficiente? A F-1 começa a ficar pequena diante de tantas montadoras.

E-mail: mariante@uol.com.br


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