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FUTEBOL
A regra do jogo
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Tenho a impressão de que fechar os bingos para coibir a
corrupção é jogar o bebê fora junto com a água do banho. (Pensava que os caça-níqueis -que estão em toda parte, e não só nos
bingos- já eram ilegais. Por que
não acabaram com eles antes?)
Sempre quis saber mais sobre os
números do patrocínio ao esporte, mas não consegui convencer
ninguém a investigar isso a fundo. Pensei em procurar pessoalmente o gerente de um bingo e
perguntar sobre o faturamento
bruto da casa, depois ir atrás da
federação supostamente beneficiada e verificar se ela recebia os
7% de direito. Não haveria muita
coisa ao meu alcance além de um
"por favor, vocês podem me mostrar os números?". (O que eu deveria ter feito assim mesmo -cabe o mea-culpa.) Mas as autoridades tinham o poder e a obrigação de controlar esse repasse.
A associação entre esporte e "jogatina" é considerada inadequada, mas o conceito de jogo de azar
na legislação e na sociedade tem
suas incoerências. Pode-se apostar na loteria esportiva, na Mega
Sena, na raspadinha e nos páreos
do jóquei, mas não no bicho, na
roleta ou no bingo. E não me lembro de alguém tachar de imorais
as casas de apostas inglesas, que
acolhem palpites a dinheiro sobre
as chances do Brasil na Copa ou
do Rio ser sede da Olimpíada.
A loteria esportiva, aliás, tem literalmente tudo a ver com futebol. A "Placar" revelou a máfia
da loteca em reportagens históricas, João Alves invocou os 13 pontos como a fonte da sua fortuna,
mas o jogo não foi banido por
causa das baixarias em seu nome.
Cinema e o próprio futebol são
duas atividades em que também
se pode lavar dinheiro. Quanto
vale um jogador? Quanto custa
um filme? No mundo todo há suspeitas sobre números absurdos,
com muitos zeros à direita (que o
diga o Abramovich). Nem por isso
há um movimento para proibir
jogos e filmagens... Será que é tão
difícil regulamentar e fiscalizar as
casas de bingo?
Não dá para comparar os funcionários dos bingos aos "soldados" do tráfico, como já aconteceu. O sujeito é garçom, tem carteira assinada. De um dia para o
outro, passa a fazer parte da ilegalidade e é desprezado como ex-membro de quadrilha. Calma lá.
Sim, jogo pode causar dependência. Todo mundo conhece alguém que arruinou a família na
esteira da compulsão doentia.
Mas nem por isso os freqüentadores dos bingos precisam, todos, de
proteção na forma de proibição.
Não gosto de jogo, detesto lugares fechados fedendo a cigarro,
mas não vejo os bingos como antros de perdição que devem sumir. E que não podem dar dinheiro para o esporte de jeito nenhum,
sob risco de contaminação.
Que fique bem claro que não
defendo a pilantragem (há quem
o faça, alegando que "todo mundo rouba"). Mas temo que os bandidos, que não estão nem aí para
a lei desde o princípio, tenham
menos a perder com a história do
que os decentes. Sei que acabo me
alinhando com pessoas com
quem normalmente não concordo, mas é minha sincera opinião.
Ontem e hoje
Tem gente que confunde coerência com irredutibilidade. Se
no ano passado o Felipe não jogou quase nada, neste ano ele
está arrebentando. Quem o
chamou de "chinelinho" em
2003 tem todo o direito de elogiar agora. Se ele cair de rendimento, quem se empolgou agora vai poder criticar outra vez
-mas não poderá negar a
grande fase. E se fosse fácil brilhar contra times fracos ou defesas ruins, como alguns dizem
dele (ou do Robinho e de outros jogadores do Santos), como é que não temos um camisa
10 arrebentando a cada rodada,
em cada estádio?
À moda antiga
Aliás, o que Renato jogou no
sábado contra o Marília não está no gibi. Que categoria.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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