São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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FRANZ BECKENBAUER

A final que poderia salvar a estranha Copa


O mérito de Völler terá sido o de montar uma equipe em que alterações são feitas sem que ocorram grandes oscilações


Não foram poucos os que se disseram estarrecidos quando, depois da sofrível vitória sobre os norte-americanos, nas quartas-de-final, sustentei que, "exceto por Oliver Kahn, se colocássemos todos os jogadores da seleção alemã em um saco e começássemos a golpeá-lo, acertaríamos sempre alguém que merecesse".
Até aquele momento, a única partida na qual a Alemanha não passara por dificuldades fora contra a Arábia Saudita, um rival medíocre. Sim, a Alemanha havia se posicionado entre os quatro melhores do mundo, mas carregada por um único jogador, o goleiro Kahn. Pude presenciar uma performance muito distinta ontem. Não em termos técnicos, porque, com o material humano do qual dispõe hoje Rudi Vöeller, seria uma exigência inepta e sem sentido.
Quando não há grandes valores individuais, o trabalho deve ser baseado no desempenho coletivo. O mérito de Völler, qualquer que seja o resultado a partir de agora, terá sido o de montar uma equipe em que alterações de jogadores são feitas sem que ocorram grandes oscilações no conjunto.
A virtude que a Alemanha teve para derrotar os coreanos esteve justamente em seu conjunto, bem posicionado taticamente e com disposição para não sucumbir frente a incessante correria a que os sul-coreanos submetem seus adversários. Desta vez, a melhor condição física dos alemães prevaleceu sobre a seleção local, desgastada depois da partida contra a Espanha.
Ao se definirem os semifinalistas, com a inclusão de Brasil e Alemanha, reapareceram as esperanças de que, finalmente, depois de 72 anos, as duas mais tradicionais seleções se encontrem em uma final de Copa.
Os brasileiros são, obviamente, favoritos contra a equipe da Turquia. Entretanto não deve ser esquecido que esta mesma Turquia representou um sério obstáculo na partida de estréia do Brasil. Agora, com a convicção de que, em parte por circunstâncias, em parte por méritos próprios, tenham ido longe demais, os turcos sentirão menor peso. Isso faz deles francos-atiradores. E um perigo enorme.
Uma final Alemanha x Brasil seria a reconciliação para um Mundial em que o nível técnico foi prejudicado, seja pelas más condições das estrelas, extenuadas física e mentalmente, seja por erros grosseiros dos árbitros. Ou por, infelizmente, demonstrar que o futebol atravessa um mau interlúdio. Oxalá, breve.


Franz Beckenbauer, 56, é presidente do Bayern de Munique e foi campeão mundial pela Alemanha em 1974, como jogador, e em 1990, como técnico



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