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Carlos Arthur Nuzman chega a uma década no COB à frente de estrutura que minou qualquer tipo de oposição
10 anos de SOLIDÃO
GUILHERME ROSEGUINI
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Tudo começou com uma derrota. Na década de 70, Carlos Arthur Nuzman tentou trocar seu posto de soberano do vôlei nacional pela cadeira de presidente do
Comitê Olímpico Brasileiro.
Não conseguiu. Mas seus tombos diante de vozes dissonantes
acabariam ali. No dia 29 de junho
de 1995, trazendo no currículo
uma gestão de 20 anos à frente da
Confederação Brasileira de Vôlei,
ele alcançou enfim o cargo de dirigente máximo das modalidades
ditas amadoras.
De lá para cá, sua figura se confundiu com o próprio movimento
olímpico. Onipresente, esteve
sempre na dianteira das ações, seja na luta por dinheiro para financiar o esporte, seja nos festejos pelas medalhas alcançadas.
Elevou o nível dos resultados ao
mesmo tempo em que arquitetava um sistema eleitoral rígido, no
qual a figura do presidente ganhou aura de intocável.
Não por acaso, completa dez
anos de gestão na próxima quarta-feira sem nunca ter sido ameaçado na presidência.
Não se trata da supremacia mais
longa da história do comitê -o
recorde é de Sylvio de Magalhães
Padilha, que bateu Nuzman na
eleição de 1979 e cuja gerência
atravessou 27 anos, entre 1963 e
1990. O que chama atenção, agora, são os mecanismos que isolam
o atual dirigente no poder.
O COB do reinado Nuzman, 63,
é o mais rico da história. Desde o
início de sua administração, o
presidente buscou encher o cofre
em diversas frentes: bingos, empresas estatais, repasses públicos.
A contrapartida pelas batalhas
era ter o poder para decidir como
os recursos seriam aplicados.
Exemplo emblemático vem da
Lei Piva, que transferiu, de 2001 a
maio deste ano, um montante
sem precedentes de R$ 219,5 milhões ao movimento olímpico.
Pela legislação, essa soma,
oriunda das loterias federais, vai
direto para a mão do COB, que repassa para as 29 confederações filiadas. Estas, aliás, dependem da
verba para tocar seus projetos.
Aí o impasse está deflagrado.
Nas eleições para a presidência do
comitê, votam todas as confederações e mais sete membros natos
do órgão. Como, então, peitar o
responsável pelo dinheiro?
"Esse sistema desportivo é antidemocrático. Claro que é difícil
formar uma oposição. Mas, no caso do Nuzman, creio que isso não
tem influência alguma. Nunca
ouvi um chefe de confederação
reclamar da sua forma de trabalho", narra Lars Grael, Secretário
de Esporte e Juventude do governo paulista e ex-atleta olímpico.
De fato, são raríssimas as insurreições. A mais extravagante
ocorreu com David Monteiro Gómez, do levantamento de peso.
Sua entidade fica em Viçosa-MG.
Antes de Sydney-2000, o presidente do COB convidou-o para
transferir a estrutura para o Rio.
Gómez preferiu ficar. Coincidência ou não, sua pasta é uma
das que menos ganham verba pública. Em 2003, levou R$ 835 mil.
No ano passado, R$ 620 mil.
No bojo, as decisões do presidente sempre são bem recebidas.
"Não vejo autoritarismo. As normas impostas levam o Nuzman a
precisar ter controle da situação.
É como o Antônio Ermírio ou a
família Diniz no Pão de Açúcar. É
preciso estar presente para evitar
que fortunas se percam, que estruturas desmoronem", conta
Roberto Gesta de Mello, que há 18
anos chefia o atletismo brasileiro.
A argumentação de quem defende teses como a de Gesta perpassa sempre pelos resultados esportivos. Admiradores defendem
que Nuzman sempre soube converter dinheiro em medalhas. Em
seus dez anos de comando, foram
alcançados 37 pódios olímpicos
-nos anos anteriores foram 39.
As conquistas, todavia, continuaram majoritariamente concentradas em modalidades nas
quais o país já havia apresentado
bons resultados antes de o atual
presidente assumir seu cargo.
Muitas delas que já contavam
com bom financiamento.
"Seguimos brilhando na vela,
no hipismo, no vôlei e no judô. No
resto, a evolução não foi tão significativa. O Nuzman prometeu investir em esportes considerados
pequenos no Brasil, que podem
render muitas medalhas, como
lutas e levantamento de peso. Isso
não ocorreu", diz Manoel Luiz
Oliveira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Badminton.
O dirigente também é criticado
pelo pouco investimento na base.
Nuzman argumenta que há
crescimento de todas as modalidades e diz que seu currículo revela suas qualidades como gestor.
Filho de Isaac e Esther, Carlos
Arthur nasceu no bairro de Copacabana. Praticou vários esportes
na infância, até enveredar pelo
vôlei. Integrou a seleção entre
1962 e 1968. Disputou dois Mundiais e os Jogos de Tóquio-1964.
Em 1975, tirou o uniforme, vestiu terno e assumiu a CBV, período em que a seleção masculina ganhou um ouro (1992) e uma prata
(1984) nos Jogos.
Já no COB, encabeçou duas candidaturas olímpicas. Na busca pelo Rio-2004, a organização deixou
dívidas de R$ 3 mi. O sonho do
Rio-2012 naufragou de forma retumbante. Por outro lado, conquistou o direito de sediar os Jogos Pan-Americanos de 2007.
Fora do mundo esportivo, é dono de uma imobiliária e de um escritório de advocacia, segundo
sua biografia oficial.
No discurso de sua posse no
COB, realizado no Jockey Club
Brasileiro, sentenciou que faria do
Brasil uma potência olímpica em
oito anos. Não conseguiu.
Em 2004, pediu mais tempo.
Ainda acalenta o desejo. Diz,
contudo, que precisa de mais dinheiro -alega que a Lei Piva representa apenas um terço das necessidades. Caso contrário, o
show olímpico pode demorar.
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