UOL


São Paulo, sábado, 26 de julho de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Juízes crescem, aparecem e bagunçam o Brasileiro


Sorteio imposto pelo Estatuto do Torcedor faz explodir o número de árbitros no mais longo torneio da história, e os erros graves ajudam a mantê-los em evidência


ALEC DUARTE
DA REPORTAGEM LOCAL
SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Haja mãe para xingar: antes mesmo de chegar à metade, o Campeonato Brasileiro-2003 já assistiu às arbitragens de 42 juízes, número que supera o registrado nas últimas edições.
Hoje, a lista ganha mais um nome, o do carioca Sérgio Cristiano Nascimento. Ele estréia no mais longo torneio de futebol do país no jogo Goiás x Atlético-MG.
No mesmo ritmo em que cresce, o contingente de árbitros aparece. E não apenas por eles terem se transformado em protagonistas de um sorteio público. Os erros crassos também ajudaram a mantê-los em evidência.
Desde 98, quando 28 juízes apitaram no Nacional, o número de "homens de preto" experimentou um salto. Em 99, eles foram 34. No ano seguinte, 40. Em 2002, 38 árbitros apitaram as 339 partidas.
Neste ano, foram disputados apenas 249 dos 552 jogos previstos. A prova da expansão é que agora há até "mulher de preto", Sílvia Regina de Oliveira, que já trabalhou em três partidas.
A democratização é uma consequência direta da instituição do sorteio dos trios, imposição do Estatuto do Torcedor.
Antes do código, Armando Marques, presidente da Comissão Nacional de Arbitragem da CBF, tinha plenos poderes para definir os 12 trios envolvidos em cada rodada. Hoje, o dirigente seleciona 36 -três para cada partida. E a bolinha se encarrega do resto.

Julho conturbado
Apesar da profusão de novatos, os equívocos mais graves no Brasileiro-2003 foram cometidos por velhos conhecidos do torcedor.
O mês de julho foi particularmente conturbado, com quatro atuações desastrosas, três delas punidas com a "geladeira" (afastamento temporário).
O paranaense Heber Lopes, que pertence ao quadro da Fifa, foi o primeiro a ser "congelado", depois de, segundo a CBF, ter validado dois gols irregulares do Internacional na vitória dos gaúchos sobre o Vasco, no dia 9.
No mesmo dia, Sálvio Spindola Fagundes Filho viu o pau comer no clássico entre Corinthians e Santos -a agressão do goleiro Doni ao santista Fabiano virou até boletim de ocorrência no 34º DP. Entretanto o árbitro não relatou nada na súmula e também foi suspenso por tempo indeterminado.
Antes disso, no dia 5, o paulista Romildo Corrêa influenciou diretamente no resultado da partida São Paulo 1 x 1 São Caetano ao considerar legal um gol marcado em impedimento por Luis Fabiano. Não houve punição.
Na quarta-feira, mais um ato da ópera-bufa: Elvécio Zequetto (MS) conseguiu aplicar dois cartões amarelos para o mesmo jogador, o lateral Léo, do Santos, na partida contra o Goiás.
O atleta continuou em campo, e o juiz alegou, depois de consultar um dos auxiliares, que a primeira advertência tinha sido aplicada ao meia-atacante santista Jerri.
"Foi uma vergonha, ele precisa usar óculos. Todo o trio que trabalhou naquele jogo está devidamente refrigerado", afirmou Marques, anunciando a suspensão temporária de Zequetto e de seus companheiros no jogo.

Dinheiro e diploma
Por partida, os árbitros recebem R$ 1.500, se forem do quadro da CBF, e R$ 2.500, no caso de pertencerem à Fifa. No Brasileiro, há dez juízes que utilizam o escudo da Fifa na camisa -um deles, a própria Sílvia Regina, internacional desde 2001 e que já amealhou R$ 7.500 em três atuações.
Alguns, como o brasiliense Luciano de Almeida, já faturaram uma bolada considerável. Almeida tem direito a receber R$ 35 mil por ter atuado 14 vezes -média de R$ 8.750 mensais nos quatro meses do Nacional-2003.
Nove dos 11 brasileiros da Fifa aparecem na lista dos que mais faturaram. Somente o paulista Edílson Pereira de Carvalho não figura no ranking. Ele foi excluído porque não teria diploma do ensino médio, exigência da Federação Paulista de Futebol.


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: "Sindicalista" critica sorteio e os dirigentes
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.