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FUTEBOL
Técnicos e técnicas de corrupção
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Acompanhando o caso
Oeste, quando um magistrado foi acusado de tentar vender
seu voto numa decisão judicial, fiquei pensando que realmente a
criatividade do brasileiro evolui a
cada dia. Principalmente em relação à corrupção.
Nos tempos de antanho só havia três modos de você ganhar um
dinheiro extra:
a) Sendo o juiz e vendendo o resultado.
b) Sendo goleiro e vendendo o
resultado.
c) Sendo dirigente e ganhando
algum dinheiro por fora na contratação de um jogador.
Mas chegamos à democratização da corrupção no futebol. Jornalistas venais, conselheiros de
moral duvidosa e torcidas organizadas que vendem sua simpatia
por churrascos. Porém acho que
quem mais saiu ganhando nestes
novos tempos foram os técnicos.
Com o aumento do seu poder,
aumentou também a chance deste funcionário tirar seu pedaço do
doce bolo da corrupção. Quereis
exemplos? Dou-vos:
a) Digamos que um técnico está
no Japão. Então ele decide que
seu time deve comprar um zagueiro alto e forte, um brasileiro.
De preferência um paranaense
vistoso que seja dono de seu próprio passe. O time, é claro, vai
atrás do jogador, que fica muito
contente em ser lembrado. Mas aí
recebe um telefonema do técnico,
que lhe diz que só virá para o Japão caso lhe pague um pequeno
dízimo de 300 mil.
b) Outro modo comum de ganhar um extra é quando o técnico
é dono de um jogador do seu time. Não nominalmente, claro,
mas por meio de um laranja. Aí,
como ele tem interesse na venda
do atleta, este será titular por
muito tempo, mesmo que jogue
mal. Mas o importante é que no
final ele será vendido para algum
time da segunda divisão européia, e o técnico-proprietário ganhará uns trocados a mais.
c) Fala-se também de técnicos
que ganham salários extras para
escalar um jogador. Às vezes é o
próprio atleta quem paga para
ser titular, outras vezes é seu empresário. Esse tipo de corrupção
explica algumas escalações absurdas de jogadores que claramente deviam estar na reserva.
d) Não podemos esquecer dos
técnicos da categoria de base. Eles
também precisam ganhar o caviar de cada dia. Por exemplo,
num pequeno time do interior,
depois de um teste para formar a
equipe base dos juvenis, o técnico
perguntou quem ali já tinha empresário. Três levantaram as
mãos. E os três foram mandados
embora. Depois o técnico distribui um documento aos outros para que seus pais assinassem. O documento dizia que o técnico seria
o procurador do garoto.
e) E mesmo um técnico de seleção sub-alguma coisa pode escalar um reserva em vez do craque
se aquele lhe der uma parte do dinheiro de sua venda ao exterior.
Enfim, leitores, vivemos num
mundo onde os valores não valem nada. Ou valem tudo. Portanto, para não ficar de fora destes novos tempos, vou começar a
cobrar elogios nesta coluna. Serão
R$ 500 por adjetivo. À vista, claro.
Filmes e times
Os filmes que estão concorrendo ao Oscar não são tão diferentes de nossos times de futebol. "Cidade de Deus", por
exemplo, é ao mesmo tempo
eficiente e criativo como o Cruzeiro. Já "Sobre Meninos e Lobos" me lembra o Fluminense,
pois os dois são melhores no
papel. "Encontros e Desencontros" parece o atual Atlético-PR: faz sucesso com as mulheres, mas é um pouco lento. "Big
Fish" está mais para o Santos:
cheio de imaginação e fantasia.
"Mestre dos Mares" é inofensivo como o atual time corintiano. E "Cold Mountain" é um
União São João: se arrasta, abusa dos clichês e faz jogadas previsíveis pelos 90 minutos. Ou
pior, 155.
Contagem regressiva
Dois...
E-mail torero@uol.com.br
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