São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Técnicos e técnicas de corrupção

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Acompanhando o caso Oeste, quando um magistrado foi acusado de tentar vender seu voto numa decisão judicial, fiquei pensando que realmente a criatividade do brasileiro evolui a cada dia. Principalmente em relação à corrupção.
Nos tempos de antanho só havia três modos de você ganhar um dinheiro extra:
a) Sendo o juiz e vendendo o resultado.
b) Sendo goleiro e vendendo o resultado.
c) Sendo dirigente e ganhando algum dinheiro por fora na contratação de um jogador.
Mas chegamos à democratização da corrupção no futebol. Jornalistas venais, conselheiros de moral duvidosa e torcidas organizadas que vendem sua simpatia por churrascos. Porém acho que quem mais saiu ganhando nestes novos tempos foram os técnicos.
Com o aumento do seu poder, aumentou também a chance deste funcionário tirar seu pedaço do doce bolo da corrupção. Quereis exemplos? Dou-vos:
a) Digamos que um técnico está no Japão. Então ele decide que seu time deve comprar um zagueiro alto e forte, um brasileiro. De preferência um paranaense vistoso que seja dono de seu próprio passe. O time, é claro, vai atrás do jogador, que fica muito contente em ser lembrado. Mas aí recebe um telefonema do técnico, que lhe diz que só virá para o Japão caso lhe pague um pequeno dízimo de 300 mil.
b) Outro modo comum de ganhar um extra é quando o técnico é dono de um jogador do seu time. Não nominalmente, claro, mas por meio de um laranja. Aí, como ele tem interesse na venda do atleta, este será titular por muito tempo, mesmo que jogue mal. Mas o importante é que no final ele será vendido para algum time da segunda divisão européia, e o técnico-proprietário ganhará uns trocados a mais.
c) Fala-se também de técnicos que ganham salários extras para escalar um jogador. Às vezes é o próprio atleta quem paga para ser titular, outras vezes é seu empresário. Esse tipo de corrupção explica algumas escalações absurdas de jogadores que claramente deviam estar na reserva.
d) Não podemos esquecer dos técnicos da categoria de base. Eles também precisam ganhar o caviar de cada dia. Por exemplo, num pequeno time do interior, depois de um teste para formar a equipe base dos juvenis, o técnico perguntou quem ali já tinha empresário. Três levantaram as mãos. E os três foram mandados embora. Depois o técnico distribui um documento aos outros para que seus pais assinassem. O documento dizia que o técnico seria o procurador do garoto.
e) E mesmo um técnico de seleção sub-alguma coisa pode escalar um reserva em vez do craque se aquele lhe der uma parte do dinheiro de sua venda ao exterior.
Enfim, leitores, vivemos num mundo onde os valores não valem nada. Ou valem tudo. Portanto, para não ficar de fora destes novos tempos, vou começar a cobrar elogios nesta coluna. Serão R$ 500 por adjetivo. À vista, claro.

Filmes e times
Os filmes que estão concorrendo ao Oscar não são tão diferentes de nossos times de futebol. "Cidade de Deus", por exemplo, é ao mesmo tempo eficiente e criativo como o Cruzeiro. Já "Sobre Meninos e Lobos" me lembra o Fluminense, pois os dois são melhores no papel. "Encontros e Desencontros" parece o atual Atlético-PR: faz sucesso com as mulheres, mas é um pouco lento. "Big Fish" está mais para o Santos: cheio de imaginação e fantasia. "Mestre dos Mares" é inofensivo como o atual time corintiano. E "Cold Mountain" é um União São João: se arrasta, abusa dos clichês e faz jogadas previsíveis pelos 90 minutos. Ou pior, 155.

Contagem regressiva
Dois...

E-mail torero@uol.com.br


Texto Anterior: Boxe - Eduardo Ohata: Os pés pelas mãos
Próximo Texto: Futebol: São Paulo ganha e mantém série em casa
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.