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O xá do Irã...
Kia inglês nasce com o fim do regime de Reza Pahlevi, vira universitário relapso, ganha empresa dos pais e constrói conglomerado
DO ENVIADO A LONDRES
Irã, 1979. Após 25 anos oprimida pelo regime pró-EUA do xá
Reza Pahlevi, a população iraniana se insurge. A revolução xiita
instaura uma teocracia comandada pelo aiatolá Khomeini, deixando os aliados do antigo governo
sem outra saída senão... sair.
Êxodo forçado. Às pressas. E,
por motivos óbvios, países alinhados à política americana são o
destino escolhido pelas famílias.
Entre elas, os Joorabchian. Naquele final de 1979, o pai, Mohammad, então 41, a mãe, Shahrzad
Maderi, 30, e o menino Kiavash, 8,
colocaram os pés no Canadá.
Ficaram pouco tempo. O suficiente para que pai e filho obtivessem cidadania canadense. Em 22
de outubro de 1980, já moravam
em Londres, Reino Unido.
É o que mostra certidão de nascimento obtida pela Folha. Está
na página 2.715, volume 15, dos
registros de Westminster: naquela data, na capital inglesa, nasceu
Tannaz Rose, a caçula da família.
À exceção de Kia, que passou os
últimos meses em São Paulo, a
9.470 km e um oceano de distância, o núcleo da família continua
coeso. Seus pais e a irmã moram
no número 24 da Bancroft Avenue, em Finchley, subúrbio classe
média alta no norte de Londres.
A Folha foi à casa dos pais de
Kia. Um sobrado com quintal nos
fundos, seguindo o padrão da rua,
tranqüila, residencial.
Em frente à garagem, dois carros, um Vauxhall Elite e um Mercedes-Benz SL. O homem que
abre a porta, aparentando cerca
de 50 anos, feições árabes, calça
azul de moletom, camiseta cinza
com a gola esgarçada, diz que é
um amigo cuidando da casa para
a família, que estaria viajando.
Irritado, afirma que não pode
dar informações. Bate a porta.
Mas a história de Kia na Inglaterra não se resume a Londres.
Entre os 13 e os 17 anos, de 1984
a 1988, o hoje comandante da MSI
morou em Henley-on-Thames, a
65 km da capital. Era um dos 300
internos do Shiplake College, instituição fundada em 1959 e que divide as crianças em seis casas,
criando espécies de irmandades
-tradição de internatos ingleses
exposta ao mundo nos filmes e livros da série "Harry Potter".
Kia viveu na casa Everett, em
um quarto de 10 m2 com um beliche e duas escrivaninhas. Nas paredes da casa, ele está lá, em fotos
preto-e-branco dos anos 80.
Nos registros da escola, o pequeno Kia é descrito como um
aluno "atencioso, mas individualista". Seu ex-professor de música,
Malcolm Woodcok, diz que ele
era "fraco" na matéria.
"Mas lembro que ele jogava
muito bem xadrez e que era bom
no tênis. No rúgbi ele também
não era um sucesso. Nunca fez
parte do time da escola", conta
Woodcok, também presidente da
Sociedade dos Velhos Vikings,
que congrega antigos alunos.
Na época de Kia, o Shiplake, que
fica às margens do rio Tâmisa, só
aceitava meninos. Hoje, é uma escola mista e cobra anuidade de
17.955 libras (cerca de R$ 89.800).
Diante do prédio principal, um
campo de futebol parece ser mais
um elo entre o Kia das fotos na parede e o da MSI. Nem tanto.
O futebol nunca foi um dos
principais esportes do colégio.
Remo e rúgbi são as prioridades,
dão mais prestígio aos alunos.
Em 89, o iraniano voltou a Londres. E matriculou-se em química
na Queen Mary, escola integrante
da Universidade de Londres. Em
90, enfim, a guinada da sua vida:
decidiu estudar administração.
Deixou de lado a tabela periódica e começou a estudar "business", na mesma faculdade.
Durou apenas um ano. Em 91, o
iraniano abandonou o novo curso. Foi aprender, na prática, a ser
um administrador. E começou a
trabalhar nos negócios do pai.
Os dias de xadrez às margens do
Tâmisa haviam chegado ao fim.
Kia já era gente grande. Mas ainda
não tão grande quanto achava
que deveria ser.
(FÁBIO SEIXAS)
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