São Paulo, domingo, 27 de fevereiro de 2005

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FUTEBOL

Pareggite

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

Bola na área aos 45min da etapa final, e Goitom toca de cabeça para o fundo da rede. A Inter viu assim no sábado passado, contra a Udinese, seu 16º empate no Campeonato Italiano. Falta agora só uma igualdade para ela igualar sua maior marca de empates em uma temporada. E tem 13 rodadas e um clássico com o Milan hoje para selar essa façanha histórica (na ida, deu 0 a 0).
A equipe do técnico Roberto Mancini já pode ser considerada a mais curiosa na elite da bola mundial na temporada. Sem alarde, o time não perdeu de ninguém. Colecionou mais um empate no meio de semana contra o Porto (levou o 1 a 1 após desperdiçar boas chances para liquidar) e é o único clube que pode ser campeão europeu invicto agora.
Não teve alarde porque não teve brilho. Nem mesmo na Copa da Itália, competição em que está nas semifinais, a Inter posa de favorita. O time, literalmente, empata. Chegou a ter uma seqüência de sete igualdades no primeiro turno do Italiano. As estrelas Toldo, atrás, e Adriano, na frente, deixam a desejar na temporada.
Só dois times conseguiram terminar um Italiano sem derrotas desde que o tradicional campeonato da bota adotou seu formato moderno (temporada 1929/1930): o Milan campeão 1991/1992 e o Perugia vice 1978/1979. Um terceiro colocado invicto seria algo já bem estranho por si só. Mas, do jeito que a coisa vai, a Inter pode fechar a temporada nas três competições sem uma derrota -o Milan e o Perugia citados caíram na Copa da Itália, por exemplo.
O recorde de empates em um Italiano é do Mantova 1966/1967. Foram 22 empates, seis a mais do que a Inter atual. Mas há tempo para a quebra do recorde, até porque o tempo parece jogar contra a Inter. Nas últimas partidas, abre vantagem e depois recua, meio que pedindo a igualdade. O mal, já batizado de ""pareggite", tem despertado várias teses na Itália. A maior delas é histórica: desde o sucesso do técnico argentino Helenio Herrera, mestre do "catenaccio" e do "contropiede", nos anos 60, a Inter renuncia ao ataque após fazer um gol.
Talvez isso explique o longo jejum de títulos da equipe no Italiano -na ""fila" desde 1988/1989.
Fazendo uma análise das igualdades da Inter na temporada do calcio, vê-se um pouco mais de empates com ""gosto de derrota", como o da Udinese há uma semana, do que com ""sabor de vitória", como o contra a Juventus em novembro (2 a 2 no final após estar perdendo da rival por 2 a 0).
O clássico de hoje em Milão atrai até mais pela Inter do que pelo Milan. Afinal, se o time de Kaká vencer o duelo, o que lhe manterá na ponta da tabela, as manchetes dos jornais deverão ser algo do tipo ""a Inter perde, enfim". Caso a equipe de Adriano saia com os três pontos, deixará a Juventus de novo na rota do scudetto, um cenário que era visto até a rodada passada. Porém tudo indica que vai dar empate.
Nem o interista mais fanático deve celebrar se o time não perder nenhuma e o título não vier. Nem Mancini deve rotular sua equipe de campeã moral se ela ficar invicta. A Inter seguirá empatada!

Amarelite
A rodada de abertura do mata-mata da Copa dos Campeões deixou uma marca curiosa. Os times com maior tradição internacional levaram a melhor disparadamente no confronto, mesmo quando não tinham claro favoritismo. Real Madrid, Milan, Liverpool e Bayern, os quatro papões de taças do torneio que ainda estão na disputa, venceram. Barcelona e PSV, que já levantaram a taça, dobraram os ""virgens" Chelsea e Monaco, respectivamente. Porto e Inter de Milão, dois bicampeões continentais, fizeram o único empate da rodada (um pouco pelo equilíbrio histórico e muito pelo tema da coluna de hoje). O Lyon foi o único que garantiu classificação para as quartas-de-final já na partida de ida ao fazer 3 a 0 fora de casa no Werder Bremen. Os dois times chegaram no máximo às quartas-de-final, mas a equipe francesa conseguiu isso recentemente (2004). Camisa pesa!


E-mail: rbueno@folhasp.com.br

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