São Paulo, quinta-feira, 27 de maio de 2004

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FUTEBOL

Aplicação, talento e sorte

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

A falta de entrosamento liqüida as possibilidades de um time jogar bem. Mas o entrosamento, assim como algumas experiências místicas, pode vir de maneira gradual ou súbita.
Com tempo suficiente de treino e uma seqüência de jogos -e até mesmo de concentrações, que às vezes servem para conversas proveitosas-, colegas de time ensaiam jogadas, deslocamentos e coberturas e descobrem naturalmente os hábitos e preferências uns dos outros -lembro do Gil dizendo "quando pego a bola no meio-campo, sei que o Deivid vai abrir no segundo pau" (sei que tudo isso soa meio dúbio, mas, como já disse a Marisa Orth, não podemos perder todo nosso vocabulário para o duplo sentido!).
Voltando ao que interessa, há também o entrosamento instintivo, instantâneo, quando um jogador se entende muito bem com o outro e nem sabe explicar o porquê -aconteceu no último jogo da seleção. Parece até que a gente exagera quando, após um jogo ruim, dá um desconto em função da falta de tempo para treinar...
Um time que nunca havia existido -a escalação era inédita- fez uma apresentação agradável na Catalunha. Alex vinha muito bem até se machucar; Belletti fez bons lançamentos, assim como Edmílson. Edu fez três assistências (uma cobrança de falta, um escanteio e um toque em profundidade para Ricardo Oliveira).
A entrada desleal que tirou Alex de campo foi uma exceção em um jogo de marcação frouxa; se fosse para valer, é óbvio que nossos jogadores não conseguiriam se deslocar e tocar a bola tão facilmente. Mas pelo menos aproveitamos a festa para deixar boas lembranças do futebol brasileiro para os espectadores.
Não sei quanto Ronaldo pesa e quanto deveria pesar; talvez pareça gordo e não esteja. Mas, se marcar gols como aqueles contra a Argentina -com boas assistências fica muito mais fácil-, "gordo" vai virar um apelido carinhoso, assim como o "porco" do Palmeiras. Não sei se ele gostaria, mas posso imaginar a torcida empolgada: "Goordooo...". Sem maldade, juro!
Por falar em Palmeiras, que incrível ironia... Venceu o clássico de domingo jogando o seu melhor futebol da Série B: marcação forte, desarmes e antecipações, velocidade, toques de primeira e boas conclusões. A boa fórmula de "aplicação + qualidade". Foram ótimas as assistências do Magrão e do Marcinho, a conclusão do Élson... E o Vágner, naturalmente. Mesmo dando o desconto do Santos "misto" e com um a menos, o Palmeiras mereceu.
Se eu pudesse, diria ao Vágner, ao Gilmar Rinaldi e ao Palmeiras que eles deveriam recusar a oferta que receberam do CSKA. Que o dinheiro não é tudo; que ele pode até jogar bem na Rússia, mas qual o prazer de se destacar em um campeonato sem rivalidade, vibração e respeito? Porém acredito que 99% da população brasileira, no lugar deles, faria a mesma coisa: fecharia o negócio.
(E por falar em Europa, parabéns ao Porto, e especialmente ao Carlos Alberto. Que estrela!)

Amor ao futebol
Que o Parreira tinha sido muito importante na estruturação do Fluminense nos tempos da Série C, eu já sabia. Mas que ele tinha bancado algumas reformas com dinheiro do próprio bolso (como o Roger contou à ESPN), não. Muitos chamariam o técnico de "otário", mas há muita nobreza nessa generosidade que não espera retribuição (e ele certamente sabia que o futebol costuma ser ingrato).

Valeu
O São Caetano jogou de igual para igual com o Boca em Buenos Aires, sem medo de bicho-papão. O Azulão teve um pênalti não marcado contra si, mas criou e perdeu ótimas chances de gol. O empate no tempo normal foi justo; a derrota nos pênaltis, também.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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