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FUTEBOL
Aplicação, talento e sorte
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
A falta de entrosamento liqüida as possibilidades de
um time jogar bem. Mas o entrosamento, assim como algumas
experiências místicas, pode vir de
maneira gradual ou súbita.
Com tempo suficiente de treino
e uma seqüência de jogos -e até
mesmo de concentrações, que às
vezes servem para conversas proveitosas-, colegas de time ensaiam jogadas, deslocamentos e
coberturas e descobrem naturalmente os hábitos e preferências
uns dos outros -lembro do Gil
dizendo "quando pego a bola no
meio-campo, sei que o Deivid vai
abrir no segundo pau" (sei que
tudo isso soa meio dúbio, mas, como já disse a Marisa Orth, não
podemos perder todo nosso vocabulário para o duplo sentido!).
Voltando ao que interessa, há
também o entrosamento instintivo, instantâneo, quando um jogador se entende muito bem com o
outro e nem sabe explicar o porquê -aconteceu no último jogo
da seleção. Parece até que a gente
exagera quando, após um jogo
ruim, dá um desconto em função
da falta de tempo para treinar...
Um time que nunca havia existido -a escalação era inédita-
fez uma apresentação agradável
na Catalunha. Alex vinha muito
bem até se machucar; Belletti fez
bons lançamentos, assim como
Edmílson. Edu fez três assistências (uma cobrança de falta, um
escanteio e um toque em profundidade para Ricardo Oliveira).
A entrada desleal que tirou
Alex de campo foi uma exceção
em um jogo de marcação frouxa;
se fosse para valer, é óbvio que
nossos jogadores não conseguiriam se deslocar e tocar a bola tão
facilmente. Mas pelo menos aproveitamos a festa para deixar boas
lembranças do futebol brasileiro
para os espectadores.
Não sei quanto Ronaldo pesa e
quanto deveria pesar; talvez pareça gordo e não esteja. Mas, se
marcar gols como aqueles contra
a Argentina -com boas assistências fica muito mais fácil-, "gordo" vai virar um apelido carinhoso, assim como o "porco" do Palmeiras. Não sei se ele gostaria,
mas posso imaginar a torcida empolgada: "Goordooo...". Sem maldade, juro!
Por falar em Palmeiras, que incrível ironia... Venceu o clássico
de domingo jogando o seu melhor
futebol da Série B: marcação forte, desarmes e antecipações, velocidade, toques de primeira e boas
conclusões. A boa fórmula de
"aplicação + qualidade". Foram
ótimas as assistências do Magrão
e do Marcinho, a conclusão do Élson... E o Vágner, naturalmente.
Mesmo dando o desconto do Santos "misto" e com um a menos, o
Palmeiras mereceu.
Se eu pudesse, diria ao Vágner,
ao Gilmar Rinaldi e ao Palmeiras
que eles deveriam recusar a oferta
que receberam do CSKA. Que o
dinheiro não é tudo; que ele pode
até jogar bem na Rússia, mas
qual o prazer de se destacar em
um campeonato sem rivalidade,
vibração e respeito? Porém acredito que 99% da população brasileira, no lugar deles, faria a mesma coisa: fecharia o negócio.
(E por falar em Europa, parabéns ao Porto, e especialmente ao
Carlos Alberto. Que estrela!)
Amor ao futebol
Que o Parreira tinha sido muito
importante na estruturação do
Fluminense nos tempos da Série C, eu já sabia. Mas que ele tinha bancado algumas reformas
com dinheiro do próprio bolso
(como o Roger contou à ESPN),
não. Muitos chamariam o técnico de "otário", mas há muita
nobreza nessa generosidade
que não espera retribuição (e
ele certamente sabia que o futebol costuma ser ingrato).
Valeu
O São Caetano jogou de igual
para igual com o Boca em Buenos Aires, sem medo de bicho-papão. O Azulão teve um pênalti não marcado contra si,
mas criou e perdeu ótimas
chances de gol. O empate no
tempo normal foi justo; a derrota nos pênaltis, também.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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