São Paulo, terça-feira, 27 de junho de 2006

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Rivais se viram por fôlego ideal

Alemães e argentinos investem em fórmulas diferentes a fim de agüentar ritmo dos mata-matas

Enquanto Alemanha vai de guru do fitness, Argentina aposta em velha-guarda para fazer a sua equipe correr até o limite na Copa

GUILHERME ROSEGUINI
ENVIADO ESPECIAL A HERZOGENAURACH

Energia para sufocar o rival no início e resistência para não falhar nos momentos finais. Pelas declarações, os objetivos são idênticos. Só que Alemanha e Argentina buscaram meios diferentes de alcançá-los.
Na sexta, em Berlim, o primeiro duelo entre campeões de Copa vai opor uma seleção que delegou seu fôlego a um guru da ginástica a uma equipe que concede a preparação física a veteranos do futebol.
O caso da anfitriã é mais curioso. Desde 1998 vivendo nos EUA, Jürgen Klisnmann causou polêmica ao levar para o elenco um norte-americano chamado Mark Verstegen.
Seu currículo não poderia ser mais inusitado para os alemães: colunista de uma revista de fitness, dono de uma rede de academias de ginástica e fã de exercícios pouco convencionais para o mundo da bola.
Formado pela Universidade de Washington, Verstegen é presidente do grupo chamado "Athletes" Performance", que desenvolve técnicas de treinamento para competidores das ligas profissionais de hóquei, beisebol, golfe e basquete.
Modalidades como pilates (ginástica para postura e coordenação), livros de auto-ajuda para buscar "conhecimento interior" e emprego de tecnologia -o desgaste dos jogadores é monitorado via satélite- fizeram parte da rotina da "Mannschaft". A chiadeira foi geral.
"Todos achavam que eram invencionices, mas estávamos atrasados. Hoje a preparação física da nossa seleção é um fator diferencial", diz Klisnmann.
A Argentina também considera a sua excelente. Só que os responsáveis pela resistência do grupo não escrevem artigos para a revista "Men's Health" nem empregam seus métodos em outros esportes.
Gerardo Salório e Eduardo Urtasún foram criados no futebol. O primeiro trabalha nas categorias de base da seleção há 24 anos e ganhou três títulos mundiais sub-20. O outro é um ex-jogador que chegou ao time nacional em 1994. "A opção por eles é uma questão de confiança", disse o técnico José Pekermann a um jornal argentino.
"A maioria trabalhou com o Salório ou o Urtasún nas categorias de base. Eles sabem como andam os jogadores só de olhar para eles", completou.
Ontem, esse olhar dos preparadores indicou que os atletas ainda sentem o cansaço da partida contra o México -o jogo foi definido na prorrogação. Deliberaram, então, que seria bom dar folga aos argentinos na parte da tarde. Todos foram liberados para passear na pequena Herzogenaurach, cidade onde fica baseada a seleção.
Verstegen não segue tanto a intuição. Assim, em 2004, ao iniciar seus trabalhos com o grupo, disparou uma bateria de testes físicos. Ao comparar os resultados com o de atletas de outras modalidades que assiste, concluiu que faltava agilidade e flexibilidade aos alemães.
"Os jogadores eram fortes, mas pareciam lentos", disse, na época. Daí o investimento em sessões prolongadas de ginástica e alongamento, definidos pela imprensa alemã como "exercícios para gestantes".
Parece uma idéia simples, mas Klinsmann a considera revolucionária. "Ganhamos em velocidade. Hoje somos um time rápido e perigoso."


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