São Paulo, sexta-feira, 27 de julho de 2007

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XICO SÁ
COLUNISTA DA FOLHA

A arte de secar


No Pan, meu corvo secador fez a festa, fosse o atleta de que pátria fosse, e nem mesmo a pira escapou


AMIGO TORCEDOR , amigo secador, muita emoção aí com o badminton? E com a esgrima? Sim, somos a pátria de espada em riste, a pátria em quimonos, a pátria em collants apertados, a pátria da ginástica artística...
Aqui em casa, o corvo Edgar, decepcionado com a minha emoção diante da trajetória e de alguns discursos de medalhistas, secou até o boliche. Andava tranqüilo, mas, após uma conversa com o Caco Galhardo, voltou craque na arte de secar aquele jogo de tenisteca, a peteca olímpica, o emocionante badminton, esporte inventado por um mineiro de Valadares nas andanças pelo mundo.
O desgraçado do corvo, que às vezes é condenado a 90 minutos de um chato 0x0, delirou com as fartas desgraças de atletas no Pan. Fosse de que pátria fosse o saudável representante. Mas do Brasil em especial. Edgar é do contra, não tem jeito, "hay gobierno, seco mesmo", grasna.
Adora torcer pelos argentinos o desalmado, seja no futebol seja no hóquei sobre grama. Só na final da Copa América secou o time de Tevez, pois perdera a paciência com a unanimidade da crônica brasileira que secou em peso o Dunga.
Sem piedade, o agourento adora secar na ginástica. O negócio dele é ver alguém despencar das barras. Nessa categoria, parece um amigo do Recife, o Dimas, que ia nos circos só para secar os trapezistas: "Não, quanto ao atirador de facas, eu fico neutro, é sacanagem, a mocinha do alvo não merece tal sorte". Quanto aos levantadores de peso, meu velho, fiel e estimado corvo adora quando os bombadões se estrebucham e as barras de ferro despencam no solo pátrio. Nem os shortinhos das meninas do vôlei de praia foram capazes de despertar a boa índole de Edgar. "Prefiro as provas de perseguição feminina", graceja, comentando o fracasso do ciclismo do país.
No salto com vara, Edgar absteve-se: "Tomara que dê certo para todos, quem se mete num esporte desses é bom que consiga seus objetivos, quem sou eu para atacar as opções pessoais deles?!".
O futebol feminino, noves fora os 5x0 na final, não empolga. A única vez em que testemunhei o bicho animado com as moças em campo, melhor, nos vestuários, foi nas filmagens de "Onda Nova" (1983), dirigido por José Antônio Garcia e Ícaro Martins. Veja a escalação: Carla Camurati, Vera Zimmermann, Cristina Mutarelli...
Sim, o maldito secou tanto o softbol, outro alvo predileto além da peteca cor-de-rosa, que só depois de 50 horas começaram as partidas, devido ao mau tempo. Secador que é secador guarda também os seus segredos meteorológicos.
E, quando esteve perdido, zonzo e sem foco no meio de tantos eventos, o corvo aproveitou para secar a pira do Pan. Não deu outra: a pira apagou.

xico.folha@uol.com.br


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