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São Paulo, quarta-feira, 27 de agosto de 2003

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FUTEBOL

Bem-vindas discussões

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

No programa "Esporte Visão" de domingo da Rede Brasil, houve um ótimo debate entre o Fernando Calazans e o Parreira. Calazans disse, com razão, que volante da seleção, além de marcar bem, precisa saber jogar, ter habilidade e bom passe.
Calazans lembrou que, no Mundial de 2002, a seleção melhorou com a entrada de um volante criativo, fino, de toques bonitos (Gilberto Silva), no lugar de um apenas marcador (Emerson). O outro volante, Kleberson, também era um jogador técnico.
Porém Gilberto Silva é uma das poucas exceções da posição. Por isso, é titular da seleção e do Arsenal, um dos melhores times do mundo. A queda de qualidade dos volantes, em todo o mundo, é decorrente da divisão que houve entre os volantes que só sabem marcar e os meias ofensivos que atuam quase como um terceiro atacante. Diminuíram bastante os típicos jogadores de meio-campo que desarmavam, organizavam as jogadas e atuavam bem de uma intermediária a outra.
Parreira argumentou que toda equipe precisa ter no meio um especialista na marcação e que na Copa-2002 isso não foi necessário porque havia três zagueiros. Como a seleção atual joga com dois zagueiros, e os dois laterais apóiam bastante, deduzo que ele pode escalar (não no primeiro jogo) Emerson e Gilberto Silva, saindo Kleberson ou Zé Roberto.
Na estréia, o time vai jogar com Gilberto Silva mais recuado pelo meio, Kleberson pela direita e Zé Roberto, pela esquerda, os dois com funções defensivas e ofensivas. Será um risco atuar apenas com um volante, dois zagueiros e dois laterais apoiadores.
Há outra questão importante: a seleção tem cinco excepcionais meias ofensivos (Ronaldinho, Rivaldo, Alex, Kaká e Diego) e nenhum craque no meio-campo. Kleberson e Zé Roberto são bons, mas comuns. Com o tempo, Renato pode ocupar o lugar do Kleberson. Se Ricardinho estivesse bem, substituiria Zé Roberto.
Para aproveitar o maior número de meias ofensivos, Felipão escalou na Copa Ronaldinho e Rivaldo e Ronaldo, em vez de um meia de ligação e dois atacantes. Parreira deve fazer o mesmo.
Porém continuará faltando um craque no meio-campo. Uma solução seria tentar adaptar um dos meias ofensivos à função de armador. Ele teria de marcar e iniciar as jogadas no campo do Brasil. Isso ficaria mais fácil se atuasse ao lado de dois volantes.
Por causa da juventude, talento e mobilidade, Diego teria mais chances de se adaptar. Foi mais ou menos o que fez Ricardo Gomes na seleção pré-olimpica. Na Copa Ouro, usou dois volantes, Julio Baptista e Paulo Almeida, e Diego mais recuado. Robinho também voltava pela esquerda.
Quando voltou ao Santos, Diego passou a atuar como na seleção. Leão não gostou, com razão. O terceiro armador da equipe é o Elano, pela direita. Diego joga mais adiantado, nas costas dos volantes adversários e próximo do centroavante.
Parreira tem ótimas opções. Qual é a melhor? Saberemos quando a bola rolar. A função do técnico é encontrar soluções, e a da crônica esportiva, analisar o que foi feito, com total independência, como faz o Calazans.

Equilíbrio e loucura
Não se pode analisar as equipes no segundo turno do Brasileiro sem levar em conta o que fizeram no primeiro. Se o Goiás estivesse bem na primeira fase, não ficaria 13 jogos invicto. Cuca substituiu o zagueiro Alexandre (aquele do Palmeiras), arrumou a defesa e manteve a qualidade do ataque.
No primeiro turno, o Cruzeiro procurava a vitória em todos os jogos. No segundo, quis administrar a vantagem fora de casa e se deu mal. Além disso, perdeu Luisão e, principalmente, Deivid, seu principal jogador depois do Alex.
O Santos segue bem. Robinho teve uma ótima atuação contra o Flamengo. Diego está alternando muito melhor o passe com a condução da bola e ficando menos no chão. Já é um craque, em condições de atuar na seleção principal.
O São Paulo ganhou vários jogos fora de casa sem convencer e achou que o time estava uma maravilha. A equipe não precisa ser tão ofensiva e frágil na defesa como na época em que era dirigida pelo Oswaldo Oliveira nem tão obcecada pela marcação, como agora. É preciso atingir o equilíbrio, como diz o Parreira.
O técnico da seleção sonha tanto com o perfeito equilíbrio (não existe) que isso pode se tornar um problema. Um pouco de "loucura" também faz bem.

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