São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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MOTOR

Brincadeira de carrinho

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Das maluquices e histórias mal contadas que pipocam o tempo todo no automobilismo, a maioria com as únicas intenções de fazer espuma para faturar alto e/ou lavar dinheiro, a tal A1 GP parecia ser só mais uma delas.
A idéia, embora atrativa, não era nova: um campeonato no inverno europeu, durante as férias da F-1, usando carros idênticos e com as equipes representando países. (Anos atrás, recordo, haviam anunciado algo assim, mas com grandes clubes de futebol.)
Quase sempre essas tais categorias organizam suntuosas apresentações para a imprensa, mostram vídeos bem produzidos, prometem chacoalhar o esporte e desaparecem meses depois, antes da primeira prova, voltando para o mesmíssimo lugar de onde vieram. Que, aliás, não sei onde fica.
Essa introdução toda foi para justificar o pé atrás desta coluna. E apresentar um mea-culpa pelo silêncio dos últimos meses: sim, no dia 25 do mês que vem, coincidindo com Interlagos, a A1 GP sairá do papel e realizará sua corrida inaugural em Brands Hatch.
O campeonato ainda dividirá atenções com a F-1 na sua segunda etapa, em Lausitz. A partir daí e até a antepenúltima prova, fará carreira solo: correrá em 23 de outubro no saudoso Estoril e então fugirá do frio, indo a circuitos célebres e a outros que tenho curiosidade de conhecer. Sydney, Pequim, San Antonio, Cidade do Cabo, Laguna Seca, Sepang...
O que faz a diferença, como em tudo na vida, é o homem que está por trás da iniciativa. É claro que o xeque Maktoum Hasher Maktoum al Maktoum, da família real de Dubai, não está entrando nessa por amor ao esporte ou filantropia. Mas, até começar a ter lucro, ele seguirá colocando do bolso. Que parece ser fundo.
Talvez mais profundo do que os poços de petróleo que o enriquecem. A ponto de ele ter comprado todos os 50 carros e repassado aos "donos" dos times. Ênfase nas aspas. Ou você acredita que o súbito interesse de personalidades como Ronaldo, Mandela, Surtees e Figo pelo campeonato é coincidência?
Vamos fingir que acreditamos. Afinal, no contexto do esporte a motor, esse teatrinho ingênuo torna-se divertido. Que seja essa a única mentirinha da brincadeira.
Porque o resto está sendo promissor. Como nesta semana, nos últimos testes antes da primeira prova, em Paul Ricard. As 20 equipes participaram, entre elas algumas de países com pouca ou nenhuma tradição no automobilismo, como Paquistão, Indonésia e Líbano. O mais rápido foi o americano Speed, 1min24s177.
Neste ano o De la Rosa virou 57s276 na mesma pista. No último teste que fez lá, a GP2 atingiu 1min16s239, com o Pantano.
Ok, não são os carros mais velozes do mundo, mas têm um visual diferente -pneus slicks e uma asa traseira enorme, integrada ao chassi- e devem entreter os torcedores nas entressafras de ChampCar, F-1, IRL e quetais.
Deixemos o mau humor, as quizilas e as desconfianças de lado e divirtamos-nos, pois. Vai ser bacana, com pistas, pilotos, neo-dirigentes e carros esquisitões.
Pelo menos enquanto houver fundos nos cheques do xeque.

Bom humor 1
Começa hoje, extra-oficialmente, o GP Brasil. Marcado de perto pela imprensa, Whitting vai vistoriar a pista, sugerir uma ou duas alterações e comer feijoada no autódromo. Só aqui ele é celebridade.

Bom humor 2
A provável adesão da Volkswagen à Stock Car, novidade anunciada por Castilho de Andrade, representaria mais um passo na evolução da categoria. Que corre em Londrina neste fim de semana.

Bom humor 3
Só pode ser piada. De Barrichello, na "Autosport": "Se eu tivesse sido mais agressivo e preservado menos uma certa harmonia, o ambiente na equipe teria sido bem diferente".

E-mail fseixas@folhasp.com.br

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