São Paulo, sábado, 27 de agosto de 2005

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FUTEBOL

Que fim levamos

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Uma experiência ao mesmo tempo divertida e melancólica é xeretar ao acaso a seção "Que fim levou", do site de Milton Neves no UOL.
Todo mundo sabe que Pelé é empresário e garoto-propaganda, que Tostão é médico e colunista da Folha, que Zico é técnico do Japão. Mas nem todos os ex-jogadores tiveram uma trajetória tão visível e bem-sucedida. Os inúmeros destinos diferentes seguidos pelos craques que povoaram nosso imaginário dão o que pensar não só sobre a carreira futebolística mas sobre a vida em geral.
Lembra do Manga, folclórico goleiro do Botafogo, do Internacional e da seleção brasileira de 1966? Pois saiba que ele hoje vive em Miami, onde ensina futebol para filhos de cubanos ricos que fugiram da revolução de Fidel Castro.
E o uruguaio Ancheta, zagueirão do Grêmio e da seleção de seu país nos anos 70? Virou cantor de boleros e se apresenta em clubes e restaurantes de Porto Alegre.
Outros que vivem bem num país estrangeiro são o ex-zagueiro flamenguista Mozer, que é dono de restaurante e de fábrica de bolachas em Lisboa, e o ex-goleiro Mazaropi (do Vasco e do Grêmio), hoje treinador de goleiros no Japão.
Mais freqüente é o caso dos que, depois de viajar o mundo, voltaram à sua cidade natal. Lico, campeão mundial com o Flamengo de Zico, é atualmente secretário municipal de Esportes em Imbituba, no litoral de Santa Catarina. Do mesmo modo, Picasso, grande goleiro do Palmeiras e do São Paulo nos anos 60, voltou a Canela, na serra gaúcha, onde tem uma madeireira.
A carreira política é outro caminho habitual. O caso mais singular, nessa área, é o do ex-corintiano Biro-Biro, pernambucano que chegou ao Corinthians em 1978.
O insólito apelido e a cabeleira loura tingida, a par do forte espírito de luta, valeram-lhe uma popularidade instantânea perante a Fiel. Nas eleições daquele ano, ainda cerceadas pelo regime militar, muitos eleitores, para desabafar, anularam o voto escrevendo Biro-Biro na cédula.
O fato foi inspirador. Dez anos depois, quando seu futebol já estava em declínio, Biro-Biro resolveu lançar-se na política e elegeu-se vereador em São Paulo. E seguiu carreira. Candidato derrotado à Câmara paulistana no ano passado, ele é hoje assessor de deputado na Assembléia Legislativa estadual.
A religião é outra opção. Entre outros, viraram pastores os atacantes Müller (ex-seleção brasileira) e Baltazar (Grêmio e Vasco). O primeiro prega em Belo Horizonte, o segundo em Goiânia.
Os céus não foram bons para alguns. O grande Jorge Mendonça (Palmeiras) luta contra o abandono e o alcoolismo em Campinas, enquanto Joel Camargo, ex-zagueiro de seleção que inspirou o craque Majestade do filme "Boleiros", trabalha no porto de Santos.
Como diz o poema "Morte pela Água", de Eliot: "Pense em Phlebas,/ que um dia foi belo e alto como você".

Na Espanha
O melhor futebol brasileiro entra em campo neste fim de semana. Mas na Espanha. Somente os brasileiros do Real Madrid e do Barcelona já formam quase uma seleção (ficam faltando o goleiro e o miolo da zaga).

No Brasil
Mas não temos muito do que reclamar. O Brasileirão está cada vez mais indefinido, com nada menos que cinco clubes podendo sair da rodada na liderança. Meus favoritos ao título continuam sendo Corinthians, Santos, Fluminense e Cruzeiro. O Palmeiras está entrando nessa briga. Na zona de rebaixamento, não nos esqueçamos, estão dois ex-campeões brasileiros (São Paulo e Atlético Mineiro), sem falar no Flamengo, que também periga.

E-mail jgcouto@uol.com.br

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