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FUTEBOL
Que fim levamos
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Uma experiência ao mesmo tempo divertida e melancólica é xeretar ao acaso a seção "Que fim levou", do site de
Milton Neves no UOL.
Todo mundo sabe que Pelé é
empresário e garoto-propaganda,
que Tostão é médico e colunista
da Folha, que Zico é técnico do
Japão. Mas nem todos os ex-jogadores tiveram uma trajetória tão
visível e bem-sucedida. Os inúmeros destinos diferentes seguidos
pelos craques que povoaram nosso imaginário dão o que pensar
não só sobre a carreira futebolística mas sobre a vida em geral.
Lembra do Manga, folclórico
goleiro do Botafogo, do Internacional e da seleção brasileira de
1966? Pois saiba que ele hoje vive
em Miami, onde ensina futebol
para filhos de cubanos ricos que
fugiram da revolução de Fidel
Castro.
E o uruguaio Ancheta, zagueirão do Grêmio e da seleção de seu
país nos anos 70? Virou cantor de
boleros e se apresenta em clubes e
restaurantes de Porto Alegre.
Outros que vivem bem num
país estrangeiro são o ex-zagueiro
flamenguista Mozer, que é dono
de restaurante e de fábrica de bolachas em Lisboa, e o ex-goleiro
Mazaropi (do Vasco e do Grêmio), hoje treinador de goleiros
no Japão.
Mais freqüente é o caso dos que,
depois de viajar o mundo, voltaram à sua cidade natal. Lico,
campeão mundial com o Flamengo de Zico, é atualmente secretário municipal de Esportes em Imbituba, no litoral de Santa Catarina. Do mesmo modo, Picasso,
grande goleiro do Palmeiras e do
São Paulo nos anos 60, voltou a
Canela, na serra gaúcha, onde
tem uma madeireira.
A carreira política é outro caminho habitual. O caso mais singular, nessa área, é o do ex-corintiano Biro-Biro, pernambucano que
chegou ao Corinthians em 1978.
O insólito apelido e a cabeleira
loura tingida, a par do forte espírito de luta, valeram-lhe uma popularidade instantânea perante a
Fiel. Nas eleições daquele ano,
ainda cerceadas pelo regime militar, muitos eleitores, para desabafar, anularam o voto escrevendo
Biro-Biro na cédula.
O fato foi inspirador. Dez anos
depois, quando seu futebol já estava em declínio, Biro-Biro resolveu lançar-se na política e elegeu-se vereador em São Paulo. E seguiu carreira. Candidato derrotado à Câmara paulistana no ano
passado, ele é hoje assessor de deputado na Assembléia Legislativa
estadual.
A religião é outra opção. Entre
outros, viraram pastores os atacantes Müller (ex-seleção brasileira) e Baltazar (Grêmio e Vasco).
O primeiro prega em Belo Horizonte, o segundo em Goiânia.
Os céus não foram bons para alguns. O grande Jorge Mendonça
(Palmeiras) luta contra o abandono e o alcoolismo em Campinas, enquanto Joel Camargo,
ex-zagueiro de seleção que inspirou o craque Majestade do filme
"Boleiros", trabalha no porto de
Santos.
Como diz o poema "Morte pela
Água", de Eliot: "Pense em Phlebas,/ que um dia foi belo e alto como você".
Na Espanha
O melhor futebol brasileiro
entra em campo neste fim de
semana. Mas na Espanha.
Somente os brasileiros do Real
Madrid e do Barcelona já
formam quase uma seleção (ficam faltando o goleiro e o miolo da zaga).
No Brasil
Mas não temos muito do que
reclamar. O Brasileirão está cada vez mais indefinido, com nada menos que cinco clubes podendo sair da rodada na liderança. Meus favoritos ao título
continuam sendo Corinthians,
Santos, Fluminense e Cruzeiro.
O Palmeiras está entrando nessa briga. Na zona de rebaixamento, não nos esqueçamos,
estão dois ex-campeões brasileiros (São Paulo e Atlético Mineiro), sem falar no Flamengo,
que também periga.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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