São Paulo, sexta-feira, 27 de setembro de 2002

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FUTEBOL

No meio do caminho

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Concluída a rodada deste meio de semana, a maioria das equipes chega à metade de sua jornada no Campeonato Brasileiro. E, conforme o perfil do passado, cada time mira o futuro de um modo particular.
Como a situação dos paulistas é muito diversa, fui obrigado a recorrer à ajuda de um outro analista futebolístico, o senhor Carlos Drummond de Andrade. Tomei-lhe emprestado o primeiro verso do famoso poema "No meio do caminho" e tentei adaptá-lo de acordo com cada equipe.
O resultado ficou assim:
Corinthians: já classificado para a Libertadores, o time do Parque São Jorge disputa um campeonato de cobranças mornas. Se ganha, muito bem; se perde, paciência. Obviamente o clube deseja vencer o torneio, mas, caso a taça não venha, Parreira terá feito uma pré-temporada de luxo, acertando os ponteiros para as disputas importantes do ano que vem. Para o Corinthians, o verso ficaria assim: "No meio do caminho tem um pedrisquinho".
São Caetano: faz a campanha competente de sempre, com a ressurreição de Claudecir, a volta de Adhemar. Por enquanto joga solto e tranquilo, polindo as qualidades e aparando os defeitos, mas tem pela frente o fantasma das fases finais. Seu verso seria: "No meio do caminho tem uma pedra preciosa (ou será bijuteria?)".
Santos: surpreende com seu time de juniores, tanto que tem dificuldade em encaixar Robert, até ontem a prima-dona da companhia. A velocidade, a descontração e a vocação ofensiva do conjunto empolgam. Resta saber se terá estrutura emocional para encarar a responsabilidade da classificação. "No meio do caminho tem uma pedra fundamental."
São Paulo: a maioria dos especialistas acredita que o tricolor de Kaká e Ricardinho está destinado a belas atuações e notáveis conquistas; por outro lado, eram esperados, a esta altura, números mais compatíveis com a grandeza do elenco. Daqui para frente saberemos se o time é uma jóia ou não. "No meio do caminho tem uma pedra de toque."
Guarani: sem sofrer com as cobranças, mesmo porque não se esperava muito do elenco, o Bugre vem sendo uma das mais simpáticas surpresas até aqui. Joga com eficiência e destemor, tendo ainda uma das melhores defesas do campeonato. Picerni está se revelando um alquimista capaz de transformar qualquer equipe em ouro. "No meio do caminho tem uma pedra filosofal."
Lusa: tem, disparado, o elenco mais barato e despretensioso do grupo paulista e, apesar disso, vem calando os que previam uma mera luta contra o rebaixamento. Há que ver se o time não vai escorregar na segunda fase. Seu verso seria: "No meio do caminho tem uma pedra-sabão".
Ponte Preta: faz campanha burocrática e, por enquanto, suficiente para se manter longe dos desesperados. Não anima a imprensa e preocupa seus torcedores, que esperam, ao menos, uma participação digna no bloco intermediário. "No meio do caminho tem uma pedra lascada."
Palmeiras: grande decepção do campeonato, o Palmeiras terá que lutar uma luta sem tréguas, vencendo adversários atrás de adversários, impondo viradas e buscando goleadas. E isso apenas para fugir à degola. Será uma jornada desesperada e cheia de emoções. "No meio do caminho tem uma pedreira; uma pedreira não, uma montanha; uma montanha não, uma cordilheira!"

Sifo
Sifo (no Oriente conhecido como Syh-foo), o deus que rege os últimos minutos de um jogo, aplicou mais um de seus golpes, desta vez no São Caetano, que tomou um gol aos 47min. Antes ele estava ocupado com a seleção feminina de basquete, que perdeu dois jogos por um ponto.

Aborrecimento
O jogo entre Corinthians e Juventude foi a coisa mais chata que vi na TV nos últimos tempos (tirando, é claro, o programa do João Kléber).

Voto consciente
Em tempos de eleição, nunca é demais atentar para o caso do Bragantino. Usado por políticos da região, o time teve uma fase de ascensão e foi vice-campeão brasileiro em 1991. Agora que não serve mais para atrair votos, foi abandonado à própria sorte e é o lanterna da Série B, com dez derrotas em 13 jogos.

E-mail torero@uol.com.br



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