São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

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FUTEBOL

Craques reais e imaginários

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

De todos os times que disputam o Campeonato Brasileiro, Ponte Preta e Flamengo são os que fazem campanhas menos compatíveis com a qualidade individual dos seus elencos. A Ponte Preta está muito melhor do que se esperava, e o Flamengo, pior do que deveria.
Os torcedores e os diretores do Flamengo se iludiram ao acharem que o problema era só a falta de um centroavante. Tudo se resolveria com o Dimba. Parecia até que o clube tinha contratado o Adriano, e não o Dimba.
Dimba é apenas um atacante que se posiciona bem dentro da área e sabe empurrar a bola para as redes. Isso é importante, mas esse tipo de jogador, sem outras virtudes, é supervalorizado no Brasil e em todo o mundo. Alguns vivem da fama de artilheiro do passado, e há sempre um time desesperado para contratá-los por muito dinheiro.
Para jogar parado dentro da área, escondido atrás dos zagueiros e esperando sobrar uma bola limpa diante do goleiro, ainda é melhor chamar o Romário.
Dimba não é um atacante especial, ainda mais fora de forma, mas o Flamengo sem ele fica ainda pior, já que Felipe e Jean não gostam de, nem sabem, fazer gols.
Há muitos outros problemas no Flamengo. O tempo passa, e Athirson, um jogador extremamente habilidoso, não aprende o básico, que é se posicionar em campo.
A culpa disso é, principalmente, do jogador e também dos técnicos e de parte da imprensa, que o chama de craque sempre que ele faz uma jogada de efeito.

Surge outro craque
Após brilhar intensamente contra as fortes defesas italianas por quase dois anos e mais recentemente na seleção brasileira, está na hora de reconhecermos que Adriano não é apenas um artilheiro, um tanque, que se destaca pela privilegiada força física. Ele é um excepcional atacante, um dos melhores do mundo.
Além da altura e da velocidade, Adriano tem muita habilidade e técnica. Será que ele já atingiu o máximo? Será que ele vai se tornar um atacante tão espetacular quanto Ronaldo e outros, como Romário, Reinaldo, Van Basten, Coutinho, Careca? Alguém do São Paulo vai reclamar que me esqueci do Grafite.
Ainda falta ao Adriano a inventividade, a lucidez e o passe inteligente dos grandes atacantes, apesar de ter mostrado essas qualidades na goleada da Inter de Milão sobre o Valencia na Copa dos Campeões. Foi a primeira vez que vi isso acontecer. Adriano, que já nos surpreendeu várias vezes, poderá surpreender ainda mais.

Modismo no futebol
No final de semana, São Paulo e Atlético-MG venceram Santos e Cruzeiro, utilizando a estratégia de recuar e atrair o outro time para contra-atacar. Isso funciona bem quando o time tem atacantes velozes, como Grafite e Alex Mineiro.
Foi também no contra-ataque que o Palmeiras fez dois dos três gols contra o Atlético-PR, com os espertos e hábeis Lúcio e Pedrinho. Da mesma forma, o Manchester United, com o jovem e veloz atacante Rooney, acabou com a invencibilidade de 49 jogos do Arsenal.
Parece que o Corinthians ganhou do Paraná também no contra-ataque. Digo parece porque só assisti aos gols e aos melhores momentos. Não dá para ver tantos jogos e ainda não fiz o curso especializado de comentarista de melhores momentos nem criei o hábito de ler resumos telegráficos na internet. É a velocidade da informação.
O contra-ataque está também na moda. Porém o time que recua demais costuma sofrer pressão, não contra-atacar e perder o jogo. É o mais comum.

Especialistas e generalistas
Todo time deveria ter um jogador no meio-campo que aparecesse de surpresa na área adversária e que finalizasse bem com os pés e com a cabeça. Ele é pouco marcado pelos defensores.
Não me refiro aos habilidosos meias ofensivos, que já têm a obrigação de se aproximarem dos atacantes, e sim aos volantes, como fez o Fabinho nos dois gols do Corinthians contra o Paraná e em outras partidas.
Não gosto de equipe em que as funções são rigidamente divididas. Um marca, outro apóia e um terceiro faz gols. Fica muito previsível.
Os especialistas são importantes, desde que sejam realmente especiais.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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