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JUCA KFOURI
Bebeto bom de verbo
Bebeto de Freitas e a história
do vôlei brasileiro se confundem. Não há quem não o respeite e admire. Há, também,
os que o temem.
A razão é muito simples. Bebeto jamais se limitou a ser
um bom jogador, ótimo treinador ou gerente esportivo.
Bebeto de Freitas também
pensa bem, age corretamente
e não tem medo de falar o que
vê de errado na estrutura do
vôlei nacional. Nunca teve,
aliás, razão pela qual há muito tempo foi banido das altas
esferas que comandam o esporte.
Não é de hoje que ele denuncia o calendário desumano, o
privilégio da seleção em detrimento dos clubes etc.
Agora, às vésperas de viajar
para assumir a seleção italiana, Bebeto presta mais um
serviço ao vôlei, revelando o
que todos sabem e calam atemorizados: tem pouca gente
ganhando muito com o vôlei à
custa de muita gente que ganha pouco. Parece o futebol.
Aliás, o que acontece com o
nosso vôlei, e com o basquete,
tem a ver com o futebol.
A cultura do torcedor brasileiro foi formada pelos grandes clubes, como a do americano por meio das escolas, a
do japonês das empresas e a
dos ex-socialistas do Estado.
Como nossos clubes raramente são dignos da confiança dos grandes patrocinadores, tal é a desorganização do
futebol, além da corrupção, a
alternativa de quem sabe ser o
esporte um bom investimento
tem sido a de montar suas
próprias equipes.
Assim, por exemplo, surgiram, e desapareceram, os Bradescos no vôlei e no basquete.
Claro, nada mais artificial
que gritar nos ginásios esportivos o nome de um banco, de
uma fábrica de pneus, laticínios etc. Só mesmo as claques
organizadas têm garganta para tanto.
Mas qual é a opção de uma
Nestlé se quiser divulgar seu
nome por intermédio do esporte, sem recorrer a trapaças
como caixa 2 para ``comissionar'' um cartola aqui e outro
ali e outros expedientes do gênero? Só lhe resta montar sua
equipe, embora fosse muito
mais produtivo estar associada a um clube de massa.
O absurdo, e é isso que Bebeto também está denunciando,
é que hoje a Nestlé paga um
ano de salários para suas atletas e as tem defendendo sua
marca por muito menos tempo que a seleção brasileira,
galinha dos ovos de ouro da
CBV e de sua empresa de marketing.
Profissionalismo sim. Mas
com decência e transparência.
E boa viagem, Bebeto. Grazie mille.
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