São Paulo, terça, 28 de janeiro de 1997.

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JUCA KFOURI
Bebeto bom de verbo

Bebeto de Freitas e a história do vôlei brasileiro se confundem. Não há quem não o respeite e admire. Há, também, os que o temem.
A razão é muito simples. Bebeto jamais se limitou a ser um bom jogador, ótimo treinador ou gerente esportivo.
Bebeto de Freitas também pensa bem, age corretamente e não tem medo de falar o que vê de errado na estrutura do vôlei nacional. Nunca teve, aliás, razão pela qual há muito tempo foi banido das altas esferas que comandam o esporte.
Não é de hoje que ele denuncia o calendário desumano, o privilégio da seleção em detrimento dos clubes etc.
Agora, às vésperas de viajar para assumir a seleção italiana, Bebeto presta mais um serviço ao vôlei, revelando o que todos sabem e calam atemorizados: tem pouca gente ganhando muito com o vôlei à custa de muita gente que ganha pouco. Parece o futebol.
Aliás, o que acontece com o nosso vôlei, e com o basquete, tem a ver com o futebol.
A cultura do torcedor brasileiro foi formada pelos grandes clubes, como a do americano por meio das escolas, a do japonês das empresas e a dos ex-socialistas do Estado.
Como nossos clubes raramente são dignos da confiança dos grandes patrocinadores, tal é a desorganização do futebol, além da corrupção, a alternativa de quem sabe ser o esporte um bom investimento tem sido a de montar suas próprias equipes.
Assim, por exemplo, surgiram, e desapareceram, os Bradescos no vôlei e no basquete.
Claro, nada mais artificial que gritar nos ginásios esportivos o nome de um banco, de uma fábrica de pneus, laticínios etc. Só mesmo as claques organizadas têm garganta para tanto.
Mas qual é a opção de uma Nestlé se quiser divulgar seu nome por intermédio do esporte, sem recorrer a trapaças como caixa 2 para ``comissionar'' um cartola aqui e outro ali e outros expedientes do gênero? Só lhe resta montar sua equipe, embora fosse muito mais produtivo estar associada a um clube de massa.
O absurdo, e é isso que Bebeto também está denunciando, é que hoje a Nestlé paga um ano de salários para suas atletas e as tem defendendo sua marca por muito menos tempo que a seleção brasileira, galinha dos ovos de ouro da CBV e de sua empresa de marketing.
Profissionalismo sim. Mas com decência e transparência.
E boa viagem, Bebeto. Grazie mille.

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