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Diálogo entre o otimista Dionísio e o pessimista Apolo
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas
Estádio Saint-Denis. Dois
brasileiros tentam superar o
frio, a fome e o olhar de desprezo das francesas que passam pela rua, indiferentes ao
sofrimento dos que esperam o
andar da fila. Um deles está
muito animado e não pára de
saltitar e gritar:
"Arroz, feijão,salsinha e pimenta! Salve a seleção, o Brasil
é penta!"
"Quieto, Dionísio..."
"Por quê? Aqui não é a terra
da liberdade, da igualdade e
da fraternidade?"
"É, e também da guilhotina".
Dionísio leva a mão à garganta, bebe um gole de vinho e
pergunta:
"E aí, Apolo, já decidiu que
ingresso nós vamos comprar?"
"O do jogo de abertura, contra a Escócia".
"E a final?"
"O dinheiro só dá para um
jogo".
"Então vamos de final".
"Acho que a gente não chega".
"Mas essa é a melhor safra de
craques dos últimos tempos!"
"Sei não. O Taffarel anda
frangando, o Cafu não é mais
o mesmo, o Júnior Baiano não
tem muito neurônio e o Aldair
sempre pode escorregar".
"Bobagem. Vamos comprar o
ingresso para a final e pronto!"
"Abertura!"
"Final!!!"
"Abertura!!!"
Apolo e Dionísio eram amigos desde a infância, mas sempre tiveram opiniões diferentes. Dionísio era mais otimista
que presidente do Banco Central, Apolo, mais pessimista
que líder da oposição:
"O Dunga está sem chegada e
o César Sampaio não teve tempo para pegar conjunto. E eu
acho que o Denílson às vezes
prende demais a bola e o Rivaldo vai se atrapalhar jogando pelo lado direito".
Dionísio bebeu outro gole.
"Que pessimismo, Apolo, você
deve estar bêbado, ic."
"E digo mais: o Romário joga
coma bola no pé e o Ronaldinho vai ser tão marcado que
nem vai andar em campo."
"Apolinho do céu, essa seleção é como vinho, envelheceu e
melhorou. O Dunga é um líder,
o Roberto Carlos e o Ronaldinho são os melhores do mundo, o Rivaldo vale por dois e o
Denílson é um Garrincha canhoto. Vamos comprar o ingresso da final!"
Para provocar o amigo, Dionísio ergueu os braços, começou a bater palmas e cantou:
"O resto é chuvinha, nós somos
tormenta! Chora lanterninha,
o Brasil é penta!"
Os dois estavam a poucos
passos da hora decisiva. Apolo
fez uma última tentativa:
"Vamos comprar o ingresso
para o jogo da abertura. a gente vê, volta para casa e depois
assiste o resto pela TV."
"Final. Eu só compro se for
para a final."
"Mas e se o Brasil não estiver
lá?"
Era tarde demais para discutir. O homem do guichê perguntou: "Quelle partie, monsieurs?" E Dionísio, sempre
mais rápido, disse: "La decision!" Estava tudo acabado.
Apolo quase arrancou os cabelos: "Isso é loucura! E se a decisão for Alemanha x Itália? Espanha x Argentina?"
"Calma, sabichão. Eu sou
otimista mas não sou burro. Se
o Brasil cair fora, a gente revende os ingressos e gasta tudo
no Mouling Rouge. Canta comigo, canta: "Arroz!, feijão!,
salsinha e pimenta! Salve a seleção, o Brasil é penta!"
José Roberto Torero escreve às terças e sábados
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