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MOTOR
O plebeu da F-1
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Pouco antes do GP do Canadá, Schumacher resolveu fazer valer a travessia do Atlântico.
Foi para Dallas, visitar uns amigos. E aproveitou o tempo livre
para visitar o Texas Motor Speedway, aquele oval que foi abandonado em pleno treino pela Indy
porque os pilotos vomitavam e reclamavam de dores de cabeça.
No circuito funciona uma escolinha de automobilismo. O dono
do negócio se chama Mike Starr,
cobra US$ 100 para ceder um carro de Nascar para o cidadão se divertir, dar umas voltas na pista.
Schumacher, então, pagou os
US$ 100 e esperou duas horas na
fila. Tem gente que jura que o alemão deu as suas voltas, mas ontem ele negou, disse que esperou
tanto tempo que acabou desistindo. Segundo consta, naquele dia
havia mais de cem pessoas no autódromo. Schumacher, um dos
maiores pilotos da história, então
"apenas" tetracampeão mundial
de F-1, um dos esportistas mais
bem pagos do planeta, passou
despercebido. "O que me deixou
mais surpreso foi que ninguém
me reconheceu", contou o agora o
pentacampeão e natural candidato ao sexto e inédito título.
Sarona Winfrey, relações públicas do autódromo, lançou a seguinte pérola ao "Indianapolis
Star": "Se fosse o Jeff Gordon ou o
Rusty Wallace, certamente seria
reconhecido". Acredito que poucas pessoas por aqui reconheceriam ou ao menos saberiam
quem é Rusty Wallace -isso só
comprova o hermetismo do automobilismo norte-americano e
torna plausível o anonimato do
melhor piloto da atualidade.
O incrível da história, no entanto, é o alemão se submeter a um
programa de turista para andar
em um carro de Nascar -com
um telefonema, conseguiria um
dia inteiro de teste em qualquer
equipe da categoria e sem que
ninguém ficasse sabendo.
Claro, mais uma que entra no
rol já folclórico que Schumacher
acumula em sua carreira -guardar moeda nacional por um ano
entre dois GPs Brasil (em tempos
brabos de inflação), atravessar a
fronteira entre Suíça e Alemanha
para pagar menos por um pote de
geléia, tirar rachas na ruas de
Buenos Aires com Villeneuve, encher a cara de cerveja no Japão.
Nesses momentos parece prevalecer o Schumacher que poucos
conhecem, o sujeito que gosta de
carro e futebol como qualquer
alemão da classe média baixa,
distante da figura do esportista rico, perfeccionista, embaixador da
ONU, dedicado pai de família.
Um Schumacher mais próximo
talvez daquele desenhado insistentemente pelo grande número
de críticos que coleciona, os que
cobram espírito esportivo e gestos
nobres e o descrevem como petulante, mal-educado, arrogante. É
óbvio que o alemão fez uma série
de bobagens na carreira e deverá
fazer ainda mais, não se considera corrigível, mas é fato que muito do que pesa contra ele tem fruto no caráter aristocrático da categoria. A elite se reconhece em
qualquer língua. Senna, entre outros, fez barbaridades e não foi
cobrado tanto por isso. Não veio
de baixo, longe disso. Schumacher, pelo contrário, teve que se
justificar. Fez isso na pista, e o resultado é esse que está aí.
Em tempo, ele explicou também
ontem porque não se identificou
como o grande piloto do resto do
planeta para garantir as voltas
com o stock no Texas. "Se contasse quem eu sou, talvez me colocassem na frente da fila. Mas ia
parecer muito arrogante."
E agora?
Com Barrichello precisando de apenas três pontos para garantir o
vice-campeonato, a Ferrari liberou o brasileiro e Schumacher para
uma corrida franca amanhã. Será a primeira da temporada.
Volta?
A Sauber diz que Massa volta para a última corrida do ano, em Suzuka. Em Indianápolis, pouca gente do paddock acredita nisso.
Fantasma
A Arrows não corre desde Hockenheim, mas sua megaloja de merchandising continua indo às corridas. E até para Indianápolis.
Nascar
Christian faz mais uma corrida pela Bush Series, hoje, no oval de
Kansas. Ontem, o piloto, que assinou contrato de três anos com a
Petty Racing, conseguiu classificar seu Chevrolet na 32ª colocação.
E-mail mariante@uol.com.br
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