São Paulo, segunda-feira, 29 de abril de 2002

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FUTEBOL

Chapéu ganha jogo

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Quem disse que chapéu não ganha jogo? Ontem, no Morumbi, o Corinthians venceu graças a um chapéu.
Eu explico. Até a expulsão de Wagner, o alvinegro, que perdia por 1 a 0, encontrava grande dificuldade para chegar à área do São Caetano. Quando chegava, não conseguia finalizar direito. Parecia que havia mais camisas azuis do que brancas em campo.
Isso era reflexo, primeiro, do excelente posicionamento do time: Anaílson e Wagner voltavam para ajudar na marcação dos alas e meias corintianos, enquanto o meia Adãozinho ficava solto para armar as jogadas de qualquer lugar do campo e o atacante Brandão rondava a área adversária à espera de uma oportunidade de dar o bote.
Além de bem armado por Jair Picerni, o São Caetano contava com uma notável disposição de seus jogadores. Nem parecia que eles haviam jogado uma partida dura no Chile três dias antes.
O Corinthians jogava bem (apesar de alguns vacilos da defesa), mas tudo indicava um segundo tempo mais difícil que o primeiro, com o Azulão mais fechado.
Eis que, num lance de talento, Kléber arma um chapéu sobre o atacante Wagner. Era uma bola de pouca importância, junto à lateral do campo.
Em termos pragmáticos, Wagner, que já tinha cartão amarelo, ganharia mais se deixasse o ala corintiano completar a jogada.
Mas quem disse que dá tempo de pensar nessas coisas quando se está prestes a ser humilhado diante de milhões de pessoas?
Naquela fração de segundo, todo um videoclipe de lances semelhantes, toda uma história universal da infâmia deve ter passado diante dos olhos atônitos do atacante Wagner.
A mão do jogador foi mais rápida que seu pensamento. A lógica do corpo acabou suplantando a lógica da mente.
Foi no breve instante entre a intuição de Kléber e a reação automática de Wagner que se decidiu o jogo de ontem.
No segundo tempo, com um jogador a mais, o Corinthians encontrou os espaços e impôs seu implacável futebol.
Não estou dizendo que com Wagner em campo o São Caetano venceria. É impossível saber o que aconteceria. Mas não há dúvida de que aquele chapéu, mesmo incompleto, mudou tudo.

Nelsinho mandou o lateral-esquerdo Gustavo Nery ficar na defesa. Rogério Ceni mandou Gustavo Nery atacar. O São Paulo perdia do Palmeiras. Gustavo resolveu atacar, chegou decidido à área adversária e fez o gol que levou seu time à final do Torneio Rio-São Paulo.
O que isso prova? Que Rogério entende mais de futebol que Nelsinho? Não. Poderia muito bem ter acontecido o contrário, ou seja: o São Paulo perder a bola e tomar um gol de contra-ataque nas costas de Gustavo Nery.
A única coisa que esse lance demonstra é que uma partida de futebol é feita de uma infinidade de pequenas decisões, minúsculos dilemas que podem ter grandes consequências. Cabe ao jogador, muitas vezes, decidir por conta própria, com base na sua inteligência e na sua intuição.
Entre a liderança do técnico e a do capitão do time, Gustavo optou pela do segundo, provavelmente porque condizia mais com o que ele mesmo sentia e intuía naquele momento. Quis ir, foi e venceu.


Tira-teima
Corinthians e São Paulo vão se enfrentar três vezes em dez dias. Será um tira-teima entre dois times bem distintos: o primeiro, compacto e solidário; o segundo, volátil e aberto. Mais do que nunca vale o chavão: num clássico como esse, tudo pode acontecer. Contudo hoje, ao contrário do que ocorria em outros tempos, o Corinthians leva a vantagem de ser uma equipe mais equilibrada.

Cartões polêmicos
O critério dos cartões é absurdo, mas o Palmeiras não pode reclamar, pois sua diretoria concordou com ele. Como lembrou meu amigo Sérgio Mendonça, diretor do Dieese e craque da Máquina Vermelha, beneficiar o time com menos cartões seria justo se levasse em conta todo o campeonato, não só as fases finais. E isso não deveria importar mais que o número de vitórias e o saldo de gols.

E-mail:
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