São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BASQUETE

Baba, Baby!

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Baby chegou de bolsos vazios a Yuma, cidadezinha de 80 mil habitantes no semi-árido dos EUA. Para pagar comida, lavanderia e outras despesas, ofereceu-se para cuidar da faxina do alojamento da universidade. Lavava privadas. Por seis dólares a hora.
Quatro anos depois, ele se prepara para assinar o primeiro grande contrato como jogador de basquete, garantido até 2007. Atuará na NBA, a glamourosa liga profissional norte-americana. Por seis milhões de dólares.
 
A América recebeu o brasileiro pela porta dos fundos. Bolsa integral ele só obteve de um "junior college", faculdade que prepara alunos para outra, usada no basquete por atletas sem currículo esportivo, escolar e/ou financeiro.
Baby amargou dois anos na Arizona Western até atrair o interesse da NCAA, o circuito universitário de elite. Ainda assim, seguiu na periferia. Emendou a solidão da fronteira mexicana com o isolamento religioso de Utah -e só porque a Brigham Young perde anualmente muitos estudantes para missões mórmons.
Hoje, Baby arruma as malas para viver em Toronto, a mais cosmopolita das metrópoles canadenses, e desfrutar da hospitalidade de um dos 30 times de basquete mais ricos do planeta.
 
"Nem "oi" eu sabia falar em inglês", conta o curitibano, sobre as adversidades da adaptação.
O idioma não foi obstáculo para Baby deixar a BYU em abril formado em administração.
 
Preocupadas em não perder o "próximo Michael Jordan", as equipes da NBA aumentaram as apostas e hoje se arriscam a contratar qualquer sinal de talento. Dos 21 primeiros pinçados no último "draft" (o vestibular anual que reforça os times), 12 são adolescentes, um recorde histórico.
Oitavo escolhido entre todos os candidatos, Baby vai completar 24 anos em agosto. É o veterano de todo "draft", aberração na terra do instantâneo, quase cinco anos mais velho do que o caçula.
 
"Ele ignorava os fundamentos, não sabia se posicionar em quadra, cometia faltas em demasia", lembra Kelly Green, o homem que importou o brasileiro em 2000.
"É um jogador fenomenal, difícil de conter no mano a mano, forte e esperto demais", disse em 2003 Henry Bibby, pai do armador Mike (Sacramento) e técnico da University of South California.
Com rotinas extras de treinamento, às vezes de madrugada, Baby, 2,11 m e 132 kg, deixou de ser o pivô molenga que zanzou incógnito por seis clubes no Brasil. Não virou craque, mas adquiriu físico para o jogo de contato e um arremesso decente de média distância. Lembra um pouco Bill Laimbeer, referência do Detroit bicampeão na década de 80.
 
Pelas bochechas e pelo sorriso pueril, embarcou o Baby.
Pelos cotovelos e pela atitude, voltará o Rafael Araújo.

Made in Brazil 1
O New Jersey propôs trocar o ala-pivô Kenyon Martin, um dos jovens astros que recusou a convocação do "Dream Team", pelo brasileiro Nenê. O Denver disse não. Antes que você festeje e encha a bola do conterrâneo, saiba que o New Jersey, recém-vendido, só pensa agora em cortar sua folha de pagamento. Quer atletas baratos.

Made in Brazil 2
Alex, que ganha o piso na NBA, só soube pela imprensa que foi dispensado pelo San Antonio e, depois, contratado pelo New Orleans.

Made in Brazil 3
O Orlando já ouviu ofertas de cinco times pelo calouro Anderson Varejão, que, mal ranqueado no "draft", ficou sem contrato milionário.

E-mail melk@uol.com.br


Texto Anterior: Love story: Vágner quebra "protocolo" na seleção
Próximo Texto: Futebol - Marcos Augusto Gonçalves: Tchecos, cariocas e são-paulinos
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.