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BASQUETE
Baba, Baby!
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
Baby chegou de bolsos vazios
a Yuma, cidadezinha de 80
mil habitantes no semi-árido dos
EUA. Para pagar comida, lavanderia e outras despesas, ofereceu-se para cuidar da faxina do alojamento da universidade. Lavava
privadas. Por seis dólares a hora.
Quatro anos depois, ele se prepara para assinar o primeiro
grande contrato como jogador de
basquete, garantido até 2007.
Atuará na NBA, a glamourosa liga profissional norte-americana.
Por seis milhões de dólares.
A América recebeu o brasileiro
pela porta dos fundos. Bolsa integral ele só obteve de um "junior
college", faculdade que prepara
alunos para outra, usada no basquete por atletas sem currículo esportivo, escolar e/ou financeiro.
Baby amargou dois anos na
Arizona Western até atrair o interesse da NCAA, o circuito universitário de elite. Ainda assim, seguiu na periferia. Emendou a solidão da fronteira mexicana com
o isolamento religioso de Utah
-e só porque a Brigham Young
perde anualmente muitos estudantes para missões mórmons.
Hoje, Baby arruma as malas
para viver em Toronto, a mais
cosmopolita das metrópoles canadenses, e desfrutar da hospitalidade de um dos 30 times de basquete mais ricos do planeta.
"Nem "oi" eu sabia falar em inglês", conta o curitibano, sobre as
adversidades da adaptação.
O idioma não foi obstáculo para Baby deixar a BYU em abril
formado em administração.
Preocupadas em não perder o
"próximo Michael Jordan", as
equipes da NBA aumentaram as
apostas e hoje se arriscam a contratar qualquer sinal de talento.
Dos 21 primeiros pinçados no último "draft" (o vestibular anual
que reforça os times), 12 são adolescentes, um recorde histórico.
Oitavo escolhido entre todos os
candidatos, Baby vai completar
24 anos em agosto. É o veterano
de todo "draft", aberração na terra do instantâneo, quase cinco
anos mais velho do que o caçula.
"Ele ignorava os fundamentos,
não sabia se posicionar em quadra, cometia faltas em demasia",
lembra Kelly Green, o homem que
importou o brasileiro em 2000.
"É um jogador fenomenal, difícil de conter no mano a mano,
forte e esperto demais", disse em
2003 Henry Bibby, pai do armador Mike (Sacramento) e técnico
da University of South California.
Com rotinas extras de treinamento, às vezes de madrugada,
Baby, 2,11 m e 132 kg, deixou de
ser o pivô molenga que zanzou incógnito por seis clubes no Brasil.
Não virou craque, mas adquiriu
físico para o jogo de contato e um
arremesso decente de média distância. Lembra um pouco Bill
Laimbeer, referência do Detroit
bicampeão na década de 80.
Pelas bochechas e pelo sorriso
pueril, embarcou o Baby.
Pelos cotovelos e pela atitude,
voltará o Rafael Araújo.
Made in Brazil 1
O New Jersey propôs trocar o ala-pivô Kenyon Martin, um dos jovens astros que recusou a convocação do "Dream Team", pelo brasileiro Nenê. O Denver disse não. Antes que você festeje e encha a bola
do conterrâneo, saiba que o New Jersey, recém-vendido, só pensa
agora em cortar sua folha de pagamento. Quer atletas baratos.
Made in Brazil 2
Alex, que ganha o piso na NBA, só soube pela imprensa que foi dispensado pelo San Antonio e, depois, contratado pelo New Orleans.
Made in Brazil 3
O Orlando já ouviu ofertas de cinco times pelo calouro Anderson Varejão, que, mal ranqueado no "draft", ficou sem contrato milionário.
E-mail melk@uol.com.br
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