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FUTEBOL
Ícones do esporte no país, seleção nacional e Brasileiro fecham acordos milionários, porém amargam problemas
Crises abalam símbolos endinheirados
DA REPORTAGEM LOCAL
O pico da crise no futebol brasileiro coincide com o dos investimentos no esporte e deteriora os
dois principais produtos do setor:
a seleção e o Brasileiro.
Se nos últimos dois anos a CBF e
os grandes clubes fecharam bons
contratos, seleção brasileira e times nacionais fracassaram nas
competições mais importantes.
As únicas exceções foram o Corinthians, que venceu o Mundial
da Fifa, torneio disputado em janeiro do ano passado no Rio que
pode não ser reeditado pela entidade, e o Palmeiras, campeão da
Libertadores de 1999.
De resto, só disputas no tapetão,
derrotas em finais, escândalos investigados por CPIs e a crescente
debandada de jogadores para o
organizado futebol europeu.
Na seleção brasileira, maior
símbolo do futebol do país, o contraste entre dinheiro e resultados
é gritante. Neste ano, enquanto a
equipe dá vexames seguidos e
corre o risco de ficar fora da Copa
de 2002, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, festeja a assinatura
do contrato de patrocínio com a
fabricante de bebidas AmBev, um
dos melhores do mundo no ramo.
A empresa de bebidas pagará o
dobro do que a Coca-Cola, antiga
parceira, que teve o seu contrato
de quatro anos rescindido, pagaria por ano à entidade.
Além disso, as cotas por amistosos e direitos de transmissão de
jogos pela TV seguem como as
mais altas obtidas pela CBF.
"O futebol brasileiro vive um
paradoxo: é rico em termos de
caixa, mas é pobre dentro de campo. É uma crise de organização,
falta uma doutrina, um rumo para o nosso futebol", afirmou o deputado federal Aldo Rebelo (PC
do B-SP), que presidiu a CPI da
CBF/Nike, encerrada em junho.
A comissão terminou sem a
aprovação de um relatório final,
mas texto do deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), endossado por
Rebelo, sugeriu o indiciamento de
Teixeira por sinais de crime. Além
disso, concluiu que a entidade
tem déficit crônico, apesar dos recursos, e é mal-administrada.
A explosão dos valores dos contratos da CBF aconteceu depois
da conquista do tetracampeonato
mundial, na Copa de 1994.
No final de 1996, mediante o pagamento de uma multa rescisória
de cerca de US$ 10 milhões à Umbro, a CBF assinou com a Nike.
O contrato prevê que a empresa
de materiais esportivos terá de pagar US$ 16 milhões por ano, durante uma década.
Com todo esse respaldo financeiro, o Brasil fracassou na tentativa de alcançar o penta, ao ser
derrotado pelos donos da casa, na
final da Copa da França, em 1998.
Mais fracassos estavam por vir.
Dois anos depois da derrota para
os franceses, a seleção iniciou a
sua queda vertiginosa.
Resultados humilhantes nas eliminatórias e a frustrante eliminação na Olimpíada de Sydney, com
uma derrota na morte súbita
diante de Camarões, culminaram
com a demissão do técnico Wanderley Luxemburgo, envolvido
em acusações de sonegação fiscal.
Emerson Leão, seu substituto,
não conseguiu interromper a série de vexames e perdeu o cargo
para Luiz Felipe Scolari. O novo
treinador já amarga uma derrota
para o Uruguai nas eliminatórias,
além da eliminação nas quartas-de-final da Copa América, diante
da seleção de Honduras.
Outro símbolo do futebol verde-amarelo, o Campeonato Brasileiro tem contratos milionários de
TV, mas passa por grave crise.
O pesadelo dos clubes começou
na mesma época do início da queda da seleção, no ano passado,
com a realização da esdrúxula Copa João Havelange.
A competição substituiu o Nacional por causa do impasse criado com os pontos que o São Paulo
perdeu no tapetão para o Botafogo no Brasileiro de 99, por causa
do uso de Sandro Hiroshi, que estaria em situação irregular.
A manobra livrou o time do Rio
da segunda divisão, mas deu início a uma batalha jurídica que até
hoje ameaça a competição.
O Gama acabou rebaixado em
99, mas obteve na Justiça o direito
de participar do grupo de elite em
2000, apesar de a CBF ter desistido de organizar o Brasileiro.
Os clubes entraram no torneio
fortalecidos por patrocínios milionários, mas não empolgaram o
público, que foi inferior ao do Nacional do ano anterior.
Para Rebelo, o país precisa definir um modelo de gestão com o
objetivo de reorganizar o seu futebol. Segundo ele, deve haver uma
escolha entre um modelo baseado
na participação do Estado, um
apoiado na iniciativa privada ou
uma mistura dos dois.
"Hoje não temos modelo nenhum", declarou o deputado.
Para o empresário Hélio Viana,
sócio da Pelé Sports, empresa de
marketing esportivo, faltam mais
dirigentes profissionais.
"Você junta uma estrutura incapaz com amadorismo e com paixão. Os diretores gastam todo o
dinheiro em jogador para ficar
bem com a torcida. Ninguém
pensa em montar um centro de
treinamento para produzir sua
matéria-prima", disse Viana.
O imbróglio que provocou a
criação da JH já se repete no Brasileiro deste ano. O Remo-PA, a
CBF e o Clube dos 13 travam nova
disputa na Justiça.
"Evidentemente que isso é um
prejuízo para o futebol. A comercialização de produtos se torna
muito mais difícil", disse Fábio
Koff, presidente do Clube dos
13.
(RICARDO PERRONE)
Colaborou Fernando Mello,
do Painel FC
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