São Paulo, domingo, 29 de julho de 2001

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FUTEBOL

Ícones do esporte no país, seleção nacional e Brasileiro fecham acordos milionários, porém amargam problemas

Crises abalam símbolos endinheirados

DA REPORTAGEM LOCAL

O pico da crise no futebol brasileiro coincide com o dos investimentos no esporte e deteriora os dois principais produtos do setor: a seleção e o Brasileiro.
Se nos últimos dois anos a CBF e os grandes clubes fecharam bons contratos, seleção brasileira e times nacionais fracassaram nas competições mais importantes.
As únicas exceções foram o Corinthians, que venceu o Mundial da Fifa, torneio disputado em janeiro do ano passado no Rio que pode não ser reeditado pela entidade, e o Palmeiras, campeão da Libertadores de 1999.
De resto, só disputas no tapetão, derrotas em finais, escândalos investigados por CPIs e a crescente debandada de jogadores para o organizado futebol europeu.
Na seleção brasileira, maior símbolo do futebol do país, o contraste entre dinheiro e resultados é gritante. Neste ano, enquanto a equipe dá vexames seguidos e corre o risco de ficar fora da Copa de 2002, Ricardo Teixeira, presidente da CBF, festeja a assinatura do contrato de patrocínio com a fabricante de bebidas AmBev, um dos melhores do mundo no ramo.
A empresa de bebidas pagará o dobro do que a Coca-Cola, antiga parceira, que teve o seu contrato de quatro anos rescindido, pagaria por ano à entidade.
Além disso, as cotas por amistosos e direitos de transmissão de jogos pela TV seguem como as mais altas obtidas pela CBF.
"O futebol brasileiro vive um paradoxo: é rico em termos de caixa, mas é pobre dentro de campo. É uma crise de organização, falta uma doutrina, um rumo para o nosso futebol", afirmou o deputado federal Aldo Rebelo (PC do B-SP), que presidiu a CPI da CBF/Nike, encerrada em junho.
A comissão terminou sem a aprovação de um relatório final, mas texto do deputado Sílvio Torres (PSDB-SP), endossado por Rebelo, sugeriu o indiciamento de Teixeira por sinais de crime. Além disso, concluiu que a entidade tem déficit crônico, apesar dos recursos, e é mal-administrada.
A explosão dos valores dos contratos da CBF aconteceu depois da conquista do tetracampeonato mundial, na Copa de 1994.
No final de 1996, mediante o pagamento de uma multa rescisória de cerca de US$ 10 milhões à Umbro, a CBF assinou com a Nike.
O contrato prevê que a empresa de materiais esportivos terá de pagar US$ 16 milhões por ano, durante uma década.
Com todo esse respaldo financeiro, o Brasil fracassou na tentativa de alcançar o penta, ao ser derrotado pelos donos da casa, na final da Copa da França, em 1998.
Mais fracassos estavam por vir. Dois anos depois da derrota para os franceses, a seleção iniciou a sua queda vertiginosa.
Resultados humilhantes nas eliminatórias e a frustrante eliminação na Olimpíada de Sydney, com uma derrota na morte súbita diante de Camarões, culminaram com a demissão do técnico Wanderley Luxemburgo, envolvido em acusações de sonegação fiscal.
Emerson Leão, seu substituto, não conseguiu interromper a série de vexames e perdeu o cargo para Luiz Felipe Scolari. O novo treinador já amarga uma derrota para o Uruguai nas eliminatórias, além da eliminação nas quartas-de-final da Copa América, diante da seleção de Honduras.
Outro símbolo do futebol verde-amarelo, o Campeonato Brasileiro tem contratos milionários de TV, mas passa por grave crise.
O pesadelo dos clubes começou na mesma época do início da queda da seleção, no ano passado, com a realização da esdrúxula Copa João Havelange.
A competição substituiu o Nacional por causa do impasse criado com os pontos que o São Paulo perdeu no tapetão para o Botafogo no Brasileiro de 99, por causa do uso de Sandro Hiroshi, que estaria em situação irregular.
A manobra livrou o time do Rio da segunda divisão, mas deu início a uma batalha jurídica que até hoje ameaça a competição.
O Gama acabou rebaixado em 99, mas obteve na Justiça o direito de participar do grupo de elite em 2000, apesar de a CBF ter desistido de organizar o Brasileiro.
Os clubes entraram no torneio fortalecidos por patrocínios milionários, mas não empolgaram o público, que foi inferior ao do Nacional do ano anterior.
Para Rebelo, o país precisa definir um modelo de gestão com o objetivo de reorganizar o seu futebol. Segundo ele, deve haver uma escolha entre um modelo baseado na participação do Estado, um apoiado na iniciativa privada ou uma mistura dos dois.
"Hoje não temos modelo nenhum", declarou o deputado.
Para o empresário Hélio Viana, sócio da Pelé Sports, empresa de marketing esportivo, faltam mais dirigentes profissionais.
"Você junta uma estrutura incapaz com amadorismo e com paixão. Os diretores gastam todo o dinheiro em jogador para ficar bem com a torcida. Ninguém pensa em montar um centro de treinamento para produzir sua matéria-prima", disse Viana.
O imbróglio que provocou a criação da JH já se repete no Brasileiro deste ano. O Remo-PA, a CBF e o Clube dos 13 travam nova disputa na Justiça.
"Evidentemente que isso é um prejuízo para o futebol. A comercialização de produtos se torna muito mais difícil", disse Fábio Koff, presidente do Clube dos 13. (RICARDO PERRONE)


Colaborou Fernando Mello, do Painel FC



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