São Paulo, quinta-feira, 29 de julho de 2004

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Bagunçado, Brasileiro tira o sentido do "11 contra 11"

Debandada para o exterior, rescisões e contratações fracassadas fazem com que clubes utilizem 10% mais jogadores do que antes da adoção dos pontos corridos

EDUARDO ARRUDA
PAULO COBOS
RICARDO PERRONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Um elenco com no máximo 25 atletas. O tamanho ideal de um grupo para um time de futebol, segundo a maioria de treinadores e cartolas do país, não seria suficiente para suprir a demanda dos clubes que jogam o Campeonato Brasileiro-04 -isso ainda antes do final do primeiro turno.
Nas 18 rodadas iniciais do torneio, as 24 equipes na disputa utilizaram, segundo dados do Datafolha, um exército de 707 jogadores, média de 29,5 por time.
Manter o mesmo time por várias rodadas virou raridade -o São Paulo, por exemplo, nunca repetiu uma escalação no torneio.
A edição de 2004 supera a já inchada marca do ano passado e bate com folga o que aconteceu em 2002, quando pela última vez o Nacional não contou com o sistema de pontos corridos e se concentrou em apenas um semestre.
No mesmo número de jornadas da temporada passada, os clubes escalaram 703 jogadores. Em 2002, mesmo com dois clubes a mais, foram 689 atletas nas 18 rodadas iniciais, o que da uma média de 26,5 por agremiação, número 10% menor do que o atual.
E não é só pela debandada de atletas para o exterior, o que a CBF promete acabar por meio de decreto (vai criar duas únicas janelas para transferência na próxima temporada), que o Brasileiro-04 bate recorde de "pé-de-obra".
Além do interesse de clubes do exterior, contratações fracassadas e problemas disciplinares produzem dispensas que fazem os times usarem elencos tão numerosos e perderem entrosamento.
Dos 14 jogadores que contratou no início do ano, o Corinthians só mantém seis. Ao trocar Zetti por Lori Sandri, o Guarani dispensou oito atletas, incluindo o tetracampeão Viola. Vampeta alegou "problemas particulares" para rescindir seu contrato com o Vitória.
As desculpas pela alta rotatividade, que provoca custos altos (os clubes não podem utilizar jogadores amadores), são variadas.
"O futebol brasileiro vive um momento diferente. Antes as equipes tinham mais força coletiva, eram mais sólidas. Hoje, os mercados emergentes, como o coreano e o russo, querem os jovens brasileiros, além dos experientes. Por causa dessa saída de atletas, os clubes têm que buscar cada vez mais jogadores nas categorias de base. Por isso a rotatividade é maior", diz Paulo Angioni, diretor de futebol do Corinthians.
"O Atlético terminou o Mineiro numa quarta e no domingo já estreou no Brasileiro, não teve tempo de se preparar. Acontece que o perfil do Nacional é diferente do Estadual, que é só uma etapa preparatória. Precisamos ir acertando o time durante o campeonato", afirma Luiz Henrique de Menezes, diretor de futebol do Atlético-MG, clube que já usou mais de 30 jogadores e vislumbra novas mudanças.
"Seria interessante o mercado europeu absorver algum jogador do Atlético. Isso permitiria melhorarmos mais as condições de trabalho no clube", diz Menezes.
"Nós somos os maiores exportadores de atletas do mundo. Temos de vender atletas para terminarmos o ano com as contas equilibradas. Mas é claro que o ideal seria equiparar os calendários da Europa com o daqui", afirma o presidente são-paulino, Marcelo Portugal Gouvêa.


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