São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2005

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AUTOMOBILISMO

Chanoch Nissany irá estrear hoje, na Hungria, com um Minardi

Israelense, 42, rompe tabu na F-1

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A BUDAPESTE

Cabelos grisalhos, rugas que denunciam a idade, Chanoch Nissany é um sonhador. Imagina, um dia, um circuito construído parte em Israel, parte na Palestina. Parece delírio, ele sabe. Mas acredita que pode virar realidade.
Como se tornaram reais, ressalta, alguns dos delírios anteriores.
Nissany se tornou piloto apesar de ter nascido em Israel, onde o automobilismo é proibido por ser considerado atividade perigosa. "Sei que soa até engraçado, mas não ria", pede. Em quatro anos de carreira chegou à F-1. E hoje, quando completa 42, quebrará um tabu que dura desde 1986.
A Minardi anunciou ontem que o israelense será seu terceiro piloto no GP da Hungria. Participará hoje dos primeiros treinos livres para a 13ª etapa do campeonato.
Havia 19 anos, quando Jacques Lafitte correu na Inglaterra pela Ligier, a F-1 não via um homem tão velho no cockpit -na ocasião, o francês tinha 42 e sete dias.
A façanha é mais curiosa no Mundial dominado pela juventude. O mais veterano do grid é Michael Schumacher, 36. A média de idade é de 28. E nunca dois pilotos tão jovens duelaram pelo título: Kimi Raikkonen tem 25 e Fernando Alonso celebra, também hoje, 24. "Quando alguém põe algo na cabeça, acredita e trabalha duro, consegue chegar lá", disse Nissany à Folha, ontem, no paddock do autódromo de Budapeste.
Foi em Hungaroring, em 2002, que o então consultor de investimentos, com negócios na Hungria, decidiu pilotar. Naquele ano, estreou na F-2000 e foi vice-campeão húngaro. Em 2003, levou o título e, em 2004, disputou três etapas da F-3000 internacional.
Foi também em 2004 que, empurrado pelo dinheiro de dois patrocinadores com negócios em Israel, conseguiu um treino pela Jordan. Logo depois, obteve a vaga de piloto de testes na Minardi.
"Pilotar um F-1 é difícil. Você precisa de três qualidades: preparo físico, reflexo e muita motivação. Estou no auge desses três quesitos. E você não pode imaginar minha motivação", declarou.
Até hoje Nissany fez só sete sessões de testes com o carro da Minardi, totalizando 1.154 km. Para alguns, é pouco. Mas ele não se importa e sabe que está fazendo história. "Israel está aqui", diz, indicando a bandeira sobre os boxes. E sonha. "Tenho amigos palestinos. Quem sabe um dia não fazemos uma pista entre os dois territórios? E isso pode ser o começo. Não duvide."


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