São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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A falta de transparência da CBF

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas Coisa de louca, sô!, diria o mineiro. Então, Zagallo se reúne com Ricardo Teixeira por duas horas e sai por uma porta dizendo que continua técnico. Por outra, sai Teixeira e anuncia que Zagallo está fora. Tá fora ou tá dentro, afinal?
Está no limbo, como tudo que diz respeito à CBF e ao futebol brasileiro. Nada é claro, transparente, compreensível, racional. Nada é devidamente programado sob o império do bom senso, no mínimo. Tanto que o próprio presidente da CBF sai por aí dizendo que o novo técnico não terá de se dedicar exclusivamente à seleção. Pode ser técnico de um clube e tocar a seleção, ao sabor dos interesses sei lá quais.
Ora, se houve um avanço nas últimas duas décadas, foi exatamente a da criação do técnico exclusivo da seleção, teoricamente alguém infenso a pressões e paixões na hora da escolha do time ideal.
Mais que isso: o responsável pela seleção tem de estar livre para percorrer esse imenso Brasil, observando ao vivo a performance dos possíveis convocados, bater papo com técnicos, preparadores físicos, enfim, manter-se inteirado de cada passo de seus futuros discípulos. Mais que isso: viajar mundo afora, colhendo aqui e ali informações sobre esse futebol que é mais ou menos como a nuvem do político -você olha, está de um jeito; olha de novo, mudou.
Além do mais, é fundamental que tenhamos uma comissão técnica montada sob o rigor da competência, não o vai-da-valsa das intimidades.
E, por fim, que haja plena transparência. Que o público possa ser informado com clareza de tudo o que ocorre na seleção. A propósito, o que aconteceu na França foi um absurdo. Fecharam as portas do time de tal forma que só o que de lá escapou foi um monte de mentiras e negaceios.
E o pior: do lado de cá da cerca, nenhuma voz de protesto. Onde estavam sindicatos de jornalistas e associações de cronistas esportivos, que não se insurgiram contra aquela humilhante forma de impedir que tivéssemos acesso à informação?

Foi-se Aymoré Moreira, talvez o mais criativo técnico brasileiro de todos os tempos. Zezé, seu irmão, construiu uma legenda, sobretudo pela firmeza com que defendia suas teses e disciplinava sua tropa, mas Aymoré, ao contrário, era fluido e inventivo. Por isso, talvez, não esteja recebendo agora as homenagens devidas.
Basta dizer que, lá pelos idos de 60, voltando de uma excursão desastrosa à Europa com a seleção, Aymoré anunciou a fórmula adequada para acabar com o líbero europeu, uma praga que nos comia pela raiz. Sua sugestão, de tão simples, foi encarada como uma anedota: era só botar o centroavante nosso marcando o líbero deles. Se o bicho está marcado, não está líbero de nada.
Aymoré, porém, apesar de ter sido o treinador que mais vezes dirigiu a seleção brasileira, jamais conseguiu ganhar um título aulista, embora tivesse assumido várias vezes São Paulo, Palmeiras, Corinthians, Lusa e Santos. Aliás, foi ele quem, em 54, montou aquele timaço santista que precedeu a Pelé, bicampeão em 55 e 56. Mas, aí, ele já estava pregando em outras paragens.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas-feiras



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