São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2005

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VÔLEI

Zé Roberto, treinador da seleção feminina, reclama de jogo "feijão-com-arroz" das jogadoras durante o Classificatório

No Mundial, Brasil leva pito por mesmice

MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A CABO FRIO

A seleção feminina derrotou ontem a Argentina por 3 sets a 0, fez a festa da torcida que lotou o ginásio em Cabo Frio (RJ) e conquistou a vaga no Mundial de 2006, porém deixou José Roberto Guimarães com um gosto amargo.
O treinador queria aproveitar o Classificatório, disputado contra adversários de nível bem mais baixo do que o brasileiro, para colocar em prática o que tem executado exaustivamente durante os treinamentos. Mas não conseguiu o efeito que estava esperando.
"Nosso jogo está muito feijão-com-arroz. A gente precisa incrementar, sair dessa mesmice. Eu passo 30, 40 minutos por treino fazendo bola em dois tempos e usamos isso no jogo uma única vez. É muito pouco. Isso irrita", reclamou o treinador.
"As levantadoras [Carol e Marcelle] precisam arriscar mais, e temos condições para isso. Vai delas quererem aprender e fazer."
Zé Roberto, que vinha elogiando a seriedade das jogadoras diante dos frágeis adversários, não ficou satisfeito com a atuação nos dois últimos sets de ontem.
O Brasil arrasou a Argentina por 25/10 na primeira etapa -o set ganho assegurou um lugar no Mundial-, mas se desconcentrou e passou a cometer erros bobos, fechando as outras parciais em 25/20 e 25/22. "Eu queria terminar o torneio sem dar bronca, mas não deu", disse o técnico.
A facilidade do campeonato -o Peru obteve a outra vaga- era uma das maiores preocupações dele, por causa da postura das jogadoras da seleção.
"Tecnicamente, o torneio não nos acrescentou nada. Foi para elas sentirem como é jogar no Brasil. O time atuou de forma séria no geral", avaliou o técnico.
Para as jogadoras, o Classificatório em Cabo Frio também serviu como teste de popularidade e convivência do grupo. Depois de dez anos sem participar de uma competição oficial no país, as atletas tiveram de lidar com assédio de torcida e autoridades, seguranças para todos os lados, presença da família e compromissos com patrocinadores.
No último treino, anteontem, por exemplo, o elenco demorou cerca de 40 minutos para se livrar dos pedidos de autógrafos e fotos, cena comum para a seleção masculina quando está no Brasil.
"Nessa semana, acho que mostramos amadurecimento. Foi ótimo o contato com a torcida, ainda mais para nós, que somos novas na seleção. Em quadra, fizemos nosso jogo. Fora dela, o grupo manteve a concentração nos treinos e a descontração. Foi um teste para o bom humor e a convivência", disse a líbero Fabi.
Para algumas jogadoras do time, o assédio foi uma surpresa.
"Estou emocionada. Não imaginava que isso fosse acontecer comigo, que fico mais tempo no banco. Mas eles não paravam de gritar meu nome, mostrar cartazes", afirmou a oposto Renata.
A seleção terá novo teste a partir de 17 de setembro. O próximo torneio é o Sul-Americano, em La Paz, na Bolívia. O vencedor conquista vaga na Copa dos Campeões, em novembro, no Japão.
O desafio será bem parecido com o de agora. O time encara adversários tão fracos quanto os do Classificatório, mas há uma diferença: a altitude boliviana.
"Vamos fazer um trabalho para minimizar esse efeito. Muitas jogadoras passam mal. Não sei por que ainda fazem competições na altitude", afirmou Zé Roberto.


A repórter Mariana Lajolo viajou a convite da Confederação Brasileira de Vôlei

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