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VÔLEI
Zé Roberto, treinador da seleção feminina, reclama de jogo "feijão-com-arroz" das jogadoras durante o Classificatório
No Mundial, Brasil leva pito por mesmice
MARIANA LAJOLO
ENVIADA ESPECIAL A CABO FRIO
A seleção feminina derrotou ontem a Argentina por 3 sets a 0, fez
a festa da torcida que lotou o ginásio em Cabo Frio (RJ) e conquistou a vaga no Mundial de 2006,
porém deixou José Roberto Guimarães com um gosto amargo.
O treinador queria aproveitar o
Classificatório, disputado contra
adversários de nível bem mais
baixo do que o brasileiro, para colocar em prática o que tem executado exaustivamente durante os
treinamentos. Mas não conseguiu
o efeito que estava esperando.
"Nosso jogo está muito feijão-com-arroz. A gente precisa incrementar, sair dessa mesmice. Eu
passo 30, 40 minutos por treino
fazendo bola em dois tempos e
usamos isso no jogo uma única
vez. É muito pouco. Isso irrita",
reclamou o treinador.
"As levantadoras [Carol e Marcelle] precisam arriscar mais, e temos condições para isso. Vai delas quererem aprender e fazer."
Zé Roberto, que vinha elogiando a seriedade das jogadoras
diante dos frágeis adversários,
não ficou satisfeito com a atuação
nos dois últimos sets de ontem.
O Brasil arrasou a Argentina
por 25/10 na primeira etapa -o
set ganho assegurou um lugar no
Mundial-, mas se desconcentrou e passou a cometer erros bobos, fechando as outras parciais
em 25/20 e 25/22. "Eu queria terminar o torneio sem dar bronca,
mas não deu", disse o técnico.
A facilidade do campeonato
-o Peru obteve a outra vaga-
era uma das maiores preocupações dele, por causa da postura
das jogadoras da seleção.
"Tecnicamente, o torneio não
nos acrescentou nada. Foi para
elas sentirem como é jogar no
Brasil. O time atuou de forma séria no geral", avaliou o técnico.
Para as jogadoras, o Classificatório em Cabo Frio também serviu como teste de popularidade e
convivência do grupo. Depois de
dez anos sem participar de uma
competição oficial no país, as
atletas tiveram de lidar com assédio de torcida e autoridades, seguranças para todos os lados,
presença da família e compromissos com patrocinadores.
No último treino, anteontem,
por exemplo, o elenco demorou
cerca de 40 minutos para se livrar
dos pedidos de autógrafos e fotos,
cena comum para a seleção masculina quando está no Brasil.
"Nessa semana, acho que mostramos amadurecimento. Foi ótimo o contato com a torcida, ainda mais para nós, que somos novas na seleção. Em quadra, fizemos nosso jogo. Fora dela, o grupo manteve a concentração nos
treinos e a descontração. Foi um
teste para o bom humor e a convivência", disse a líbero Fabi.
Para algumas jogadoras do time, o assédio foi uma surpresa.
"Estou emocionada. Não imaginava que isso fosse acontecer
comigo, que fico mais tempo no
banco. Mas eles não paravam de
gritar meu nome, mostrar cartazes", afirmou a oposto Renata.
A seleção terá novo teste a partir de 17 de setembro. O próximo
torneio é o Sul-Americano, em La
Paz, na Bolívia. O vencedor conquista vaga na Copa dos Campeões, em novembro, no Japão.
O desafio será bem parecido
com o de agora. O time encara
adversários tão fracos quanto os
do Classificatório, mas há uma
diferença: a altitude boliviana.
"Vamos fazer um trabalho para
minimizar esse efeito. Muitas jogadoras passam mal. Não sei por
que ainda fazem competições na
altitude", afirmou Zé Roberto.
A repórter Mariana Lajolo viajou a convite da Confederação Brasileira de Vôlei
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