São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2000

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FUTEBOL
Fora da segunda fase da Copa JH, time do DF não abre mão da elite do Campeonato Brasileiro no ano que vem
Sonho do Gama acaba e começa em 2000

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Wilson Silva Reis, 48, motorista de táxi de Brasília, cidade onde se instalou em 1972 para tentar a sorte no futebol, resume, enquanto dirige seu carro no final de tarde de uma quinta-feira quente e seca, a trajetória do Gama este ano: "Estava muito bom para ser verdade. Agora, o sonho acabou".
Ele se refere à derrota do time para o Botafogo-RJ, na noite anterior, por 1 a 0, no Rio, que praticamente pôs fim ao "sonho" de a cidade-satélite do Gama classificar a equipe que leva seu nome à segunda fase da Copa João Havelange, torneio criado em sua "homenagem", como gostam de brincar os gamenses e os brasilienses.
Mais adiante, o taxista e ex-zagueiro se consola: "Vamos ter que esperar o ano que vem para ver o Gama no Brasileirão".
Se depender da atual diretoria do clube, ele não vai se decepcionar. "Estamos garantidos na primeira divisão de qualquer Campeonato Brasileiro no ano que vem, é o que diz a Justiça", afirma o vice-presidente eleito do Gama, o advogado Paulo Goyaz.
Após ser rebaixado no tapetão em 99, o Gama, que estreava na elite do Brasileiro, recorreu à Justiça comum contra a queda.
Ganhou em todas as instâncias, mas a CBF e o Clube dos 13 não aceitavam a decisão. A Fifa suspendeu o Gama por ter recorrido à Justiça. A CBF, então, se declarou impedida de fazer o Brasileiro. A associação de clubes, no vácuo, lançou a Copa JH, com o time do DF na primeira divisão.
"Para o ano que vem muita coisa deve mudar. Pode ser que o Clube dos 13 lance uma Liga só com seus sócios", diz Zezé Perrel-la, presidente do Cruzeiro.
Wágner Marques, presidente do Gama, também afirma que o clube estará na elite em 2001, mas ainda busca explicações para a desclassificação na JH.
A frustração de Marques encontra explicação na boa campanha do Gama no início da competição, quando o time quase chegou a liderar a Copa JH.
"Começamos bem, apesar de não termos tido tempo de montar um time melhor, já que nossa participação só foi confirmada na última hora", diz Marques.
Reis e os torcedores de Brasília e suas cidades-satélites também acreditaram na classificação e lotaram os estádios nos jogos do time. Enquanto a JH ainda patinava na linha de largada, o Gama colocava quase 32 mil pessoas no jogo contra o Fluminense, no estádio Mané Garrincha.
"Sou cruzeirense doente, mas, como eu, o pessoal que gosta de futebol em Brasília vai aos jogos do Gama", diz Reis, que nasceu em Minas Gerais.
Marques diz que a queda de produção do Gama, por volta da quinta rodada, pode estar relacionada às arbitragens. "De uma hora para outra, começamos a ter jogadores expulsos, cartões amarelos e pênaltis contra nós."
O time do DF sofreu, sem contar a rodada de ontem, sete gols de pênalti e teve nove jogadores expulsos na Copa JH. O Gama tinha, até anteontem, 22 pontos.
Para Marques, se chegar a 28 pontos, terá cumprido um "belo papel" dentro de campo.
Mas os dirigentes do Clube dos 13 afirmam que a campanha do Gama comprova que o time de Goyaz e Marques fez muito barulho para muito pouco futebol.
"O Gama já é página virada no futebol", diz Eurico Miranda, vice-presidente do Clube dos 13.
Reis, que migrou para Brasília nos anos 70 acreditando que a cidade seria um pólo futebolístico e que encontraria vaga em um clube, terá que torcer agora para que o Gama vença outra disputa contra o Clube dos 13. Caso contrário, não terá vaga nem em uma arquibancada.


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