EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL AO MÉXICO

"O boxe está em crise." A frase não vem de um dos críticos do esporte, mas de um dos principais dirigentes da modalidade: o mexicano Jose Sulaiman, 69, que nesta semana foi reeleito para mais um mandato de quatro anos à frente do CMB (Conselho Mundial de Boxe), entidade considerada a mais forte a comandar o boxe internacional.
Nesta entrevista à Folha, concedida durante a convenção anual da entidade, Sulaiman afirma que são necessárias algumas mudanças para ""salvar o esporte". Discute os problemas que afetam o boxe, como a proliferação de entidades inexpressivas, os impedimentos às unificações de títulos. E rebate as acusações de que os rankings são manipulados e de que trabalharia para o promotor norte-americano de lutas Don King.

Folha - No início da semana, o senhor disse que o boxe necessita de alguém que o salve. O esporte está morrendo?
Jose Sulaiman - O boxe está em crise. Um dos principais problemas é a multiplicação de pequenas entidades no boxe mundial. Muitas delas não são organismos internacionais. São empresas particulares que não estão preocupadas com o esporte, mas com o lucro. Essas entidades não têm representatividade, além de serem negligentes para com o bem-estar dos lutadores, permitindo combates desiguais, uma verdadeira prostituição. Sou a favor de um único campeão por categoria, mas isso é muito difícil de ocorrer, pois se um promotor não encontra apoio para seus lutadores em um organismo, ele bate na porta de outro. E, se não encontra lá, cria sua própria entidade particular. Então seus campeões não são ""mundiais", mas campeões desse determinado organismo.

Folha - Mas as entidades ""menores" não estão ganhando peso? Seus campeões Lennox Lewis (pesado) e Roy Jones Jr. (meio-pesado) têm cinturões da inexpressiva Organização Internacional de Boxe.
Sulaiman - Pergunte isso aos boxeadores. Mas se Lewis crê que o cinturão da Organização Internacional de Boxe, que ganhou de presente, sem precisar lutar, vale o mesmo que o do CMB, não tenho mais nada o que falar.

Folha - O que pode ser feito para incentivar as unificações de cinturões? É possível o boxeador cumprir todas as defesas obrigatórias impostas pelas entidades do boxe e satisfazer as emissoras de TV?
Sulaiman - É preciso haver um sentido de colaboração entre os organismos (o CMB reconhece a Associação Mundial de Boxe e a Federação Internacional de Boxe) para que isso ocorra. Estou disposto a aceitar unificações, mas não permitirei que outras entidades façam exigências absurdas, rebaixando nosso status. Quando Mike Tyson unificou os títulos (em 1986), havia partido de mim a sugestão de que os pesados, pelo menos, tivessem só um campeão.

Folha - Como são produzidos os rankings mundiais? Algumas vezes, lutadores teoricamente sem méritos surgem nas listagens. No caso do CMB, pode-se citar o caso do croata Zeljko Mavrovic, vencido por pontos por Lewis, Rick Frazier, derrotado por Roy Jones Jr., e Patrick Charpentier, nocauteado por De la Hoya. Nenhum trazia vitórias sobre rivais ""de nome".
Sulaiman - Quem questiona nossos rankings não entende de boxe. Mavrovic foi um dos lutadores que mais deram trabalho a Lewis. Com isso, provamos que o CMB sabe um pouco mais do que seus críticos. Não importa o fato de que faltava ""nomes" em seu cartel, ele era um boxeador invicto.

Folha - Mas e os casos de Charpentier e Frazier?
Sulaiman - No caso de Frazier, havíamos condenado o pedido do promotor de Roy Jones Jr. para que Frazier fosse aprovado como desafiante. Não estava no México quando essa decisão foi revertida. Reconheço que os rankings contêm erros, mas eles não são frequentes. Só 5% de nossas lutas são desiguais. E agora explicamos em nosso site na Internet como fazemos nosso ranking, ali você pode achar as explicações para todas as alterações todos os meses.

Folha - O que o senhor tem a dizer sobre a acusações de que o CMB seria controlado pelo promotor de lutas Don King?
Sulaiman - E qual campeão King tem atualmente no CMB? Não há nenhum. Será que meu relacionamento com ele é para que consiga campeões na Associação Mundial de Boxe e na Federação Internacional de Boxe?


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