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Ciente de doença, São Caetano escalou Serginho em 47 jogos
Zagueiro morto
anteontem fez
em fevereiro
exame no Incor que mostrou
coração frágil
EDUARDO ARRUDA
KLEBER TOMAZ
TONI ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo ciente de que o zagueiro
Serginho tinha cardiomiopatia
hipertrófica assimétrica (doença
em que o coração incha), o São
Caetano o escalou 47 vezes. O zagueiro, 30, morreu anteontem, às
22h45, no hospital São Luiz, após
ter uma parada cardiorrespiratória aos 13min50s do segundo tempo do jogo com o São Paulo.
Ontem, a polícia abriu inquérito
para apurar se houve negligência
no atendimento ou na escalação
de Serginho. O presidente do time
do ABC, Nairo de Souza, reafirmou que seu atleta estava apto para jogar futebol e negou que ele tivesse problemas cardíacos.
Mas a Folha apurou que o clube
tinha conhecimento não só da
doença do atleta como também
do risco que ele corria se continuasse a jogar sem se tratar.
A família afirma que não pensa
em processar o clube. "Essa hipótese não passa pela cabeça", declarou ontem Lúcio Nunes Cunha,
cunhado do jogador.
O médico Martino Martinelli
Filho, responsável pela unidade
clínica de marcapasso do Incor
(Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas), disse ontem que a
doença fora detectada no atleta
em exame em 11 de fevereiro.
"Ele era portador de uma cardiomiopatia. Todos sabiam disso,
até os jogadores do São Caetano.
Essa doença do músculo cardíaco
leva geralmente a uma arritmia,
que em alguns casos podem ser
letais", disse Martinelli Filho.
"A responsabilidade sobre o jogador agora é do clube e do próprio atleta, que foram informados
dos resultados dos exames."
A declaração do médico aconteceu um dia depois de o goleiro Silvio Luiz e o lateral Anderson Lima, ambos do clube do ABC, afirmarem que Serginho tinha problemas no coração -mesmo assim, ele atuou no Paulista, na Taça
Libertadores, na Copa Sul-Americana e no Campeonato Brasileiro.
A miocardiopatia hipertrófica
assimétrica é uma doença genética hereditária do músculo cardíaco, que cresce para dentro de maneira desigual deixando o septo
(divisão entre as câmaras do coração) em forma de "banana", impedindo o fluxo sangüíneo de seguir seu trajeto natural. Isso causa
arritmia (descompasso do coração) e pode levar à morte.
"Ele deveria ter sido afastado
definitivamente do esporte", afirmou Nabil Ghorayeb, presidente
do grupo de estudos em cardiologia do esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
"É incompatível. Ele corria muito risco. A princípio teria que encerrar a carreira mesmo", disse
Roberto Felipe, diretor do departamento médico do Cruzeiro.
Segundo especialistas ouvidos
pela Folha, há pelo menos três tipos de tratamento para a doença:
1) medicação, 2) aparelhos, com o
uso de um desfibrilador automático implantável (que provoca
choques elétricos quando o coração pára), 3) intervenção cirúrgica (reconstrução da parede do coração e transplante do órgão.
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