São Paulo, terça, 29 de dezembro de 1998

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BASQUETE NO MUNDO

Feliz ano velho

MELCHIADES FILHO

Nascida em 1996, no vácuo do ouro olímpico norte-americano, em Atlanta, a American Basketball League encerrou inesperadamente suas atividades.
Com nove equipes, seu terceiro campeonato estava em pleno andamento, com um terço das partidas já disputadas. "Acabou o dinheiro", explicou com singeleza Gary Cavalli, presidente da liga, na semana passada. "Embora tivéssemos o melhor produto, ninguém se dispôs a dividir a tarefa de desafiar a WNBA."
Essa batalha contra a versão feminina da NBA não rolou ao vivo, em carne e osso -a ABL realizava seus jogos entre novembro e maio; a WNBA, de junho a agosto.
O confronto aconteceu, sim, no mercado publicitário.
A ABL foi a pioneira, reunia as melhores jogadoras e tornava-se um sucesso de público, com média de 4.300 pessoas por jogo (23% acima do índice da temporada inaugural). Mas jamais quebrou a barreira das TVs.
Só 18 jogos da temporada 98/99 seriam televisionados, exatamente a metade do número registrado no torneio 97/98.
Sem grande exposição na mídia, os anunciantes de peso minguaram. A ABL pensou até em comprar espaço nas emissoras a cabo. Mas a sangria apavorou seus donos e investidores, que preferiram capitular.
Com a falência, acabou a primeira iniciativa "democrata" do esporte de massa.
Além de pagar salários altos (em média, 50% a mais do que a WNBA), a ABL foi a primeira a dar às atletas benefícios como seguro médico, previdência privada, participação nos lucros e ações das franquias/equipes.
Foi a primeira, também, a encampar campanhas antipreconceito e a encorajar suas jogadoras homossexuais a "saírem do armário".
Foi, por fim, a primeira a destinar às atletas uma cadeira cativa nos birôs executivos de cada time -e da própria liga.
A "republicana" WNBA continua de pé.

ABL 1
Sem a opção de pedir socorro à ABL, as jogadoras da WNBA perderam o principal argumento para exigir reajustes salariais. Mais do que nunca, vão depender do sindicato que decidiram constituir.

ABL 2
Mais de cem jogadoras perderam o emprego. Algumas, como Yolanda Griffith e Natalie Williams, são consideradas as melhores dos EUA. Outras, como Adrienne Goodson, já passaram pelo Brasil. O desespero pós-demissão deve baixar seus preços -ótima chance para os times brasileiros, às vésperas do Nacional-99, se reforçarem.

ABL 3
Apontada como o futuro Michael Jordan do feminino, a universitária Chamique Holdsclaw não tem saída. Jogará na WNBA, no New York ou no Washington, onde seria colega da brasileira Alessandra.

E-mail melk@uol.com.br



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