São Paulo, terça-feira, 30 de janeiro de 2001

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FUTEBOL

Depois de Piekarski, Senado decide investigar transferência de meia-atacante ao Corinthians, por intermédio da FPF

Farah faz CPI reabrir "Disque-Marcelinho"

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

De olho em Eduardo José Farah, a CPI do Futebol no Senado quer investigar a transferência do meia-atacante Marcelinho, contratado pelo Corinthians, em 1998, por intermédio da Federação Paulista de Futebol.
A negociação do atleta corintiano estava fora do alvo das investigações da CPI porque havia sido feita em janeiro de 1998.
Quando pediu documentos referentes às transações de jogadores com o exterior -compra ou venda- à Confederação Brasileira de Futebol, a CPI pretendia se concentrar nos negócios mais recentes -a partir de maio de 1998.
Diante das suspeitas em torno de Farah, os trabalhos da CPI, pelo menos no caso de São Paulo, devem retroceder a 1997.
Foi naquele ano que a Federação Paulista de Futebol iniciou um processo de compra e venda de jogadores, que eram emprestados a clubes do Estado.
Segundo Reynaldo Carneiro Bastos, vice-presidente da entidade, o esquema envolveu a negociação ""de 30 a 36 jogadores".
A assessoria de Eduardo José Farah, no entanto, não confirma a informação do vice e diz que o número é menor. Não teria passado de 18 atletas.
O que fez o foco da comissão se voltar para o dirigente paulista foi reportagem da Folha, publicada no domingo, sobre a venda do polonês Piekarski pela FPF para o Bastia, da França.
Apesar de o clube francês ter dado um cheque nominal, cruzado e não-endossável em favor de Farah em 1998, no valor de US$ 600 mil, o dinheiro só entrou no Brasil dois anos e quatro meses depois, quando a CPI ameaçava quebrar o sigilo de Farah e da FPF.
O caso mais conhecido do esquema de compra e venda de jogadores pela federação foi o de Marcelinho. Em setembro de 1997, a FPF acertou a contratação do atleta, que passou seis meses no Valencia, da Espanha. Anunciou que pagaria pelo passe do jogador US$ 7 milhões.
Em janeiro de 1998, Farah decidiu criar o ""Disque-Marcelinho", uma promoção na TV Bandeirantes pela qual as pessoas ligavam para um de quatro números do prefixo 0900 e, pagando R$ 3,00, votavam pela cessão do atleta a um dos quatro grandes do Estado -Corinthians, Palmeiras, Santos ou São Paulo.
A promoção, que durou 12 dias -de 14 a 25 de janeiro-, foi ganha pelo Corinthians. Os organizadores, porém, tiveram que responder processo na Justiça, acusados de manipulação dos dados.
Pela Embratel, empresa responsável pela totalização dos dados, desde o primeiro dia a vantagem do Corinthians foi incontestável -o time iniciou e terminou a disputa com mais de 60% dos votos.
Para estimular são-paulinos, santistas e palmeirenses a votar, os números apresentados eram outros -desde o primeiro dia, a FPF dizia haver equilíbrio entre os quatro, omitindo que a vantagem corintiana era muito grande.
O inquérito policial nº 242/98, remetido ao Fórum pelo 34º Distrito Policial de São Paulo, constatou indícios de fraude e crime contra a economia popular.
Além da polêmica em torno do Disque-Marcelinho, a CPI do Futebol quer, pela quebra dos sigilos bancário e fiscal da federação, de Farah, do Corinthians e de Alberto Dualib, o presidente do clube paulista, investigar outras possíveis irregularidades no negócio.
Os valores divulgados pelas partes, por exemplo, não batem.
Em 1998, o Corinthians chegou a dizer que, apesar de a FPF ter divulgado que o passe do atleta havia sido comprado por ela, o clube estava tendo de desembolsar US$ 7 milhões para ficar com o jogador em definitivo.
A FPF negou e disse que o Corinthians estava pagando apenas parte do passe do atleta.
No ano passado, com ajuda do HMTF, o fundo norte-americano que administra Corinthians e Cruzeiro, os paulistas contrataram de vez o meia-atacante.
O problema é que Marcelinho disse que a negociação foi feita por US$ 6 milhões -cerca de R$ 12 milhões- e, por isso, exigiu R$ 1,8 milhão do HMTF -15% do passe, como é praxe no Brasil.
A FPF, por sua vez, negou que Marcelinho tenha sido vendido por US$ 6 milhões ao Corinthians -Farah disse que foi pela metade, R$ 6 milhões.


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