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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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FUTEBOL

19 faz 84

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Ontem, dia 29 de maio, comemorei um aniversário.
Não, leitor, ainda não foi minha festa de 40 anos, que terá muito guaraná diet e conversas sobre dores nas juntas. Esta será no distante dia 9 de outubro.
Ontem comemorei os 84 anos de um heróico senhor, de um pioneiro, um desbravador: o Campeonato Sul-Americano de 1919.
É claro que os mais jovens pensam que a coisa mais antiga do futebol é a Copa de 58, quando dois sujeitos, um tal de Pelé e um outro chamado Garrucha ou Garrincha, conquistaram a Copa do Mundo. Mas bem antes disso o Brasil perdeu sua virgindade em títulos internacionais.
Quatro seleções disputaram o torneio: o Chile, a quem superamos por 6 a 0; a Argentina, vencida por 3 a 1, e o Uruguai, adversário da final, que dois anos antes nos havia imposto duas derrotas: 1 a 3 e 0 a 4. Para piorar, eram os bicampeões da competição. Para piorar um pouco mais, nos chamavam de macaquitos.
Estávamos com eles atravessados na garganta.
O futebol, na época, era um esporte de elite. Na arquibancada do estádio das Laranjeiras, em vez de torcedores humildemente vestidos, viam-se cidadãos engravatados e senhoras exibindo brincos e braceletes.
Nosso time tinha um goleiro que era uma espécie de "sex symbol" da época: Marcos Carneiro de Mendonça, do Fluminense. Alto e magro, ele ainda se notabilizava por usar uma fita roxa amarrando o calção. Não poucas moças devem ter sonhado em desatar aquele laço, mas isso é uma outra história.
À frente de Marcos, destacavam-se o corintiano Amílcar, o flamenguista Píndaro e ainda Bianco, do Palestra Itália, autor do primeiro gol da história do atual Palmeiras. Sérgio Pereira, do Paulistano, e Fortes, do Fluminense, completavam a muralha defensiva.
Na frente, jogavam cinco atacantes paulistas. Lá estavam Heitor, o maior goleador da história do Palestra Itália, e dois ilustres santistas: Millon e Arnaldo Silveira. Mas o grande Neco, do Corinthians, e o lendário Friedenreich, do Paulistano, é que vinham sendo os destaques.
Diz-se que foi um dos jogos mais aguerridos da história. Em termos de tempo, pareceu mais uma maratona. Segundo a lenda, começou às 14h13, foi se arrastando, se arrastando, e acabou quando os relógios marcavam 17h25, com 1 a 0 para o Brasil, graças ao gol salvador de Friedenreich (que foi chamado pelos uruguaios de "El Tigre").
Chapéus foram jogados ao alto, o Brasil era campeão.
Muitos cronistas atribuem o início da popularização do futebol no país a esse título.
É possível. Num ambiente de pobreza, exploração dos trabalhadores, término da guerra e chegada da gripe espanhola, certamente a vitória representou um momento de alívio e alegria.
Nossos respeitos, portanto, ao simpático vovô; que ele nos inspire com seu bom exemplo por muitos e muitos anos.

Dida
Com as três defesas de pênalti e o título da Copa dos Campeões dado ao Milan, Nélson de Jesus Silva, o Dida, ajuda definitivamente a quebrar o mito de que goleiros brasileiros são instáveis e não têm lugar no mercado europeu. Mito que começou a cair com Cláudio André Mergen Taffarel, campeão da Copa da Uefa pelo Galatasaray, em 2000. De quebra, Dida ainda acaba com a idéia de que negros não podem ser goleiros, preconceito iniciado com Barbosa, tido como responsável pela derrota da seleção em 50.

Haicai
E, falando em goleiros, a leitora Márcia Pimenta enviou um haicai sobre o arqueiro do Cruz Azul, que falhou feio no gol santista: Que queres?/ Não há sonho que resista/ a um Perez.

E-mail torero@uol.com.br


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