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FUTEBOL
19 faz 84
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Ontem, dia 29 de maio, comemorei um aniversário.
Não, leitor, ainda não foi minha festa de 40 anos, que terá
muito guaraná diet e conversas
sobre dores nas juntas. Esta será
no distante dia 9 de outubro.
Ontem comemorei os 84 anos
de um heróico senhor, de um pioneiro, um desbravador: o Campeonato Sul-Americano de 1919.
É claro que os mais jovens pensam que a coisa mais antiga do
futebol é a Copa de 58, quando
dois sujeitos, um tal de Pelé e um
outro chamado Garrucha ou
Garrincha, conquistaram a Copa
do Mundo. Mas bem antes disso o
Brasil perdeu sua virgindade em
títulos internacionais.
Quatro seleções disputaram o
torneio: o Chile, a quem superamos por 6 a 0; a Argentina, vencida por 3 a 1, e o Uruguai, adversário da final, que dois anos antes
nos havia imposto duas derrotas:
1 a 3 e 0 a 4. Para piorar, eram os
bicampeões da competição. Para
piorar um pouco mais, nos chamavam de macaquitos.
Estávamos com eles atravessados na garganta.
O futebol, na época, era um esporte de elite. Na arquibancada
do estádio das Laranjeiras, em
vez de torcedores humildemente
vestidos, viam-se cidadãos engravatados e senhoras exibindo brincos e braceletes.
Nosso time tinha um goleiro
que era uma espécie de "sex
symbol" da época: Marcos Carneiro de Mendonça, do Fluminense. Alto e magro, ele ainda se notabilizava por usar uma fita
roxa amarrando o calção. Não
poucas moças devem ter sonhado
em desatar aquele laço, mas isso é
uma outra história.
À frente de Marcos, destacavam-se o corintiano Amílcar, o
flamenguista Píndaro e ainda
Bianco, do Palestra Itália, autor
do primeiro gol da história do
atual Palmeiras. Sérgio Pereira,
do Paulistano, e Fortes, do Fluminense, completavam a muralha
defensiva.
Na frente, jogavam cinco atacantes paulistas. Lá estavam Heitor, o maior goleador da história
do Palestra Itália, e dois ilustres
santistas: Millon e Arnaldo Silveira. Mas o grande Neco, do Corinthians, e o lendário Friedenreich,
do Paulistano, é que vinham sendo os destaques.
Diz-se que foi um dos jogos
mais aguerridos da história. Em
termos de tempo, pareceu mais
uma maratona. Segundo a lenda,
começou às 14h13, foi se arrastando, se arrastando, e acabou quando os relógios marcavam 17h25,
com 1 a 0 para o Brasil, graças ao
gol salvador de Friedenreich (que
foi chamado pelos uruguaios de
"El Tigre").
Chapéus foram jogados ao alto,
o Brasil era campeão.
Muitos cronistas atribuem o
início da popularização do futebol no país a esse título.
É possível. Num ambiente de
pobreza, exploração dos trabalhadores, término da guerra e
chegada da gripe espanhola, certamente a vitória representou um
momento de alívio e alegria.
Nossos respeitos, portanto, ao
simpático vovô; que ele nos inspire com seu bom exemplo por muitos e muitos anos.
Dida
Com as três defesas de pênalti e
o título da Copa dos Campeões
dado ao Milan, Nélson de Jesus
Silva, o Dida, ajuda definitivamente a quebrar o mito de que
goleiros brasileiros são instáveis e não têm lugar no mercado europeu. Mito que começou a cair com Cláudio André Mergen Taffarel, campeão da Copa
da Uefa pelo Galatasaray, em
2000. De quebra, Dida ainda
acaba com a idéia de que negros não podem ser goleiros,
preconceito iniciado com Barbosa, tido como responsável
pela derrota da seleção em 50.
Haicai
E, falando em goleiros, a leitora
Márcia Pimenta enviou um
haicai sobre o arqueiro do Cruz
Azul, que falhou feio no gol
santista: Que queres?/ Não há
sonho que resista/ a um Perez.
E-mail torero@uol.com.br
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