São Paulo, quarta-feira, 30 de junho de 2004

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TÊNIS

Adeus, garoto

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Pouca gente notou, mas acabou definitivamente a carreira de um dos tenistas mais carismáticos e queridos dos últimos anos no circuito mundial.
Nascido em uma cidade litorânea em um país sem tradição no esporte, ele namorou o futebol quando criança, mas acabou, levado para um técnico de confiança da família ainda quando garotão, desenvolvendo suas habilidades nas quadras de tênis.
Sorte do tênis. Talentoso em todos os tipos de quadra, acabou reconhecido e marcado, injustamente, como tenista de um piso só. Em dois anos, pulou lá das posições de número 300 e tanto para o top ten no ranking mundial.
Ao longo de sua carreira, mesmo em jogos contra os badalados Pete Sampras, Andre Agassi, Marat Safin, Lleyton Hewitt, Patrick Rafter e, mais recentemente, Roger Federer, tinha consigo grande parte da torcida, se não a maioria, independentemente do país onde o confronto acontecia.
Em quadra, seu estilo agressivo tornou-se referência entre os colegas. No piso em que dominava, era temido pelos rivais, do primeiro ao último do ranking. Seus fãs, pintados e barulhentos, acostumaram-se a segui-lo pelo mundo. Agora, estão órfãos.
Sempre sorridente, cativava as crianças e, não raro, os adultos. Geralmente, ao fim de seus treinos, aparecia uma fila de fãs em busca de seu autógrafo.
Seus penteados eram outro show à parte: em um dia, estavam compridos, longos; no seguinte, curtíssimos. Às vezes, completava o visual com uma bandana; outras vezes, a barba malfeita completava o estilo "tô nem aí".
O país inteiro ficava de olho no visual do tenista. Era a novidade da semana, notas em jornais e revistas. Aliás, ai do especialista em tênis que ousasse falar mal dele: criticá-lo era o absurdo.
Campeão, incontestável, ele tudo podia em sua terra. Seu instituto, dedicado a fazer caridade com jovens carentes em seu país, mostrava o tamanho de seu coração. Em um país carente de ídolos, só mesmo um título de Grand Slam para levar milhares de pessoas às ruas e encher os compatriotas de orgulho. O título do Grand Slam há três anos, aliás, foi o seu respiro final.
Desde então, vinha sofrendo terrivelmente com contusões. De início, parecia que seria só uma lesão a ser tratada. Seu otimismo e sua fé, empolgantes, tornavam difícil acreditar que seu desempenho seria prejudicado praticamente pelo resto da carreira.
Resultados pífios, dores, desânimo, calendário incompleto. Ainda assim, foi recebido como o mais querido no último Grand Slam de que participou, justamente aquele que o consagrou e que, agora, marcou sua retirada.
Idolatrado pela torcida, caiu antes das finais. Ao deixar pela última vez a quadra central, que tanto conhecia, foi ovacionado: por dois minutos, o público levantou-se e o aplaudiu. Na porta de saída, parou e olhou para as arquibancadas, emocionado.
Não, não é ainda Gustavo Kuerten, o senhor do saibro de Roland Garros. É o croata Goran Ivanisevic, rei dos aces em Wimbledon, que pára aos 32 anos.

Por aqui
Além de Campos do Jordão, São Paulo receberá um torneio da série challenger de 12 a 18 de julho, na Unisys Arena, com Ricardo Mello, Franco Ferreiro, Bruno Soares, Marcos Daniel, André Sá e Julio Silva.

Pela Europa
Maria Fernanda Alves conquistou em Perigueux, na França, seu primeiro título profissional em um torneio que distribui US$ 25 mil.

Pelo cerrado
Começa hoje, na Academia de Tênis de Brasília, a sétima edição do Campeonato Brasileiro Interfederações. A competição tem 121 equipes de 18 Estados, com disputas nas categorias 10 a 18 anos, tanto no masculino como no feminino.

E-mail reandaku@uol.com.br


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