São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 2002

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GRUPO C/ ONTEM

Chefe de segurança do time não notara ação

Escondidos, militares vigiam passos do Brasil

Juca Varella/Folha Imagem
Armado, soldado da Coréia do Sul se esgueira pelo bosque que envolve o centro de treinamento de Mipo, em Ulsan, onde a seleção se prepara para o jogo de estréia


DOS ENVIADOS A ULSAN

Olhos atentos vigiam a seleção brasileira na Coréia do Sul, e eles não são apenas dos turcos, os adversários do time de Luiz Felipe Scolari na próxima segunda.
Camuflados na paisagem que cerca o centro de treinamento do Brasil, soldados do Exército coreano, de metralhadoras e fuzis em punho, fazem, secretamente, a segurança da seleção em Ulsan.
O esquema é sigiloso e nem o coronel Castelo Branco, chefe de segurança da seleção, sabia.
Ontem, enquanto Luiz Felipe Scolari berrava com seus jogadores num dos dois campos do CT, soldados se esgueiravam entre árvores do pequeno bosque que cerca o local na tentativa de avistar algum lance de Ronaldo, Rivaldo ou Roberto Carlos. Com recomendação para não aparecerem, são cautelosos e quase imperceptíveis, com sua roupa camuflada no meio do verde.
A Folha subiu ontem à colina e encontrou os militares. O acesso ao local é feito por uma rua do lado de fora do CT, de onde se avista parte do mar do Japão (mar do Leste, para os coreanos).
A "base" dos soldados é um caminhão verde-oliva estacionado próximo a uma porteira. A poucos metros, cerca de 30 militares agachados, todos armados com metralhadoras, monitoravam a região em volta do CT.
De onde estavam, não conseguiam enxergar o treino. Vez por outra, algum se arriscava a descer o bosque para tentar avistar uma jogada, mas voltava rapidamente.
Na rua de barro que margeia o campo, circulam uns poucos pedestres. Dois homens numa lambreta pararam por uns minutos, mas, com a visão turvada pelo bosque, foram logo embora.
Adepto de esquemas mirabolantes de proteção em viagens pelo Brasil ou em países pobres, o coronel Castelo Branco, que cuida da segurança da equipe, recebeu com surpresa a notícia da vigia.
"Por enquanto, o Exército só nos atendeu aqui no aeroporto [de Ulsan, na chegada da delegação"", disse inicialmente.
Informado pela reportagem da operação, procurou justificá-la.
"Você tem um caminho atrás dos campos e outro do lado, nos quais turistas podem passar a qualquer momento. Tem que existir algo para intercedê-los."
Sem vínculo com o Exército, os policiais que protegem a seleção brasileira no CT se recusaram a comentar o procedimento dos militares. Um deles alegou "questão de segurança nacional".
Reflexo dos atentados de 11 de setembro nos EUA, a Copa deste ano é a mais preocupada com segurança na história, algo que fica visível no cotidiano do Brasil.
O CT de Mipo fica dentro da Universidade de Ciências de Ulsan, local pacato todo o ano. Nos últimos dias, os cerca de cem policiais que vigiam a seleção expulsaram mais de uma vez garotos tentando entrar nos treinos.
Pela enorme preocupação com a segurança, a Fifa determinou a proibição de torcida nos treinos das 32 seleções, algo que o Brasil já deu um jeito de burlar -autorizando a entrada de um grupo de gaúchos que acompanha o time.
Além dos policiais fardados, há, dentro do CT de Mipo, outros à paisana. Em busca de bombas, a polícia rastreia a parte de baixo de todo carro que entra no estacionamento do hotel da seleção. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)

Colaborou Juca Varella, enviado especial a Ulsan



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