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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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pan 2003

Modalidades pouco conhecidas no país aproveitam Pan para ganhar respeito e verbas

ESTREITO CAMINHO

Fotos Antônio Gaudério/Folha Imagem
 

Fábio Rezende treina com um dos seis tipos de bolas do boliche; no alto, o modelo americano, não-homogêneo, seccionado


EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

"Ah, mas isso não é esporte."
Eles já estão habituados a ouvir essa frase. Agora, às vésperas de abrir a participação brasileira no 14º Pan-Americano, os praticantes de modalidades pouco (ou nada) conhecidas no Brasil querem aproveitar os holofotes para provar que merecem respeito.
Tratam-se de competidores de esportes como boliche, luta e esgrima -cujas competições têm início neste sábado-, entre outros, que obtêm alguma visibilidade apenas durante o período de Olimpíada e Pan. Ou, pior, somente durante esse último.
Eles adotaram o evento em Santo Domingo como palanque para reivindicar verbas e projetar imagem de profissionalismo.
Modalidades olímpicas buscam impressionar o Comitê Olímpico Brasileiro, cujo presidente, Carlos Arthur Nuzman, afirmou neste ano que o dinheiro da Lei Piva deve ser distribuído de acordo com os resultados de cada esporte.
Já as categorias não-olímpicas vivem situação mais dramática: não têm direito à verba das loterias e dependem da boa vontade do Ministério do Esporte, que teve o seu orçamento contingenciado no início do ano e libera recursos à base do conta-gotas.
O boliche é o caso mais emblemático do que acontece no Brasil com os não-olímpicos. A modalidade busca superar a idéia de que não passa de mera diversão.
Atletas convivem com citações do tipo "qualquer um joga boliche, é só arremessar a bola e derrubar aquelas garrafinhas. Até eu poderia estar na seleção".
Curiosamente, Walter Costa, 50, um dos integrantes da seleção que disputa o Pan e que representou o Brasil na Olimpíada de Seul-88 (o boliche foi modalidade de exibição), concorda com parte dessas afirmações ao reconhecer que o boliche recreativo é a porta de entrada para o leigo se federar.
"Como diversão, é muito fácil jogar boliche. Mas participar de competições é totalmente diferente. Me traz quem disse que poderia jogar em nosso lugar no Pan que eu mostro", afirma Costa.
"Olha só. Algum leigo entenderia isso aqui?", questiona outro atleta, Fábio Rezende, 26, ao exibir um gráfico que mostra o grau de oleosidade na pista. De acordo com esse fator, cada jogador pode escolher entre até seis bolas. "Funciona como a escolha dos pneus na F-1", compara, ao informar que outros detalhes de física e aerodinâmica também influem.
Mas como fazer para que a participação do boliche brasileiro em torneios internacionais deixe de ser recebido com ironias? ""Todos se acham entendidos em boliche. Mas trabalhamos na formação de técnicos para os leigos perceberem que o boliche vai além de uma brincadeira", diz Hermindo Troncoso Gonçalvez, 57, um dos treinadores da seleção.
O que chama mais atenção é o fato desses esportes sem tanta tradição no Brasil distribuírem um número grande de medalhas. O torneio de luta, por exemplo, pode render até 18 pódios. "Queremos levar medalha e chamar a atenção para que o COB invista mais na gente", disse o presidente da confederação brasileira da modalidade, Pedro Gama Filho.
Na esgrima, que recebeu R$ 393 mil da Lei Piva até julho, são dez insígnias em jogo. Como todos os seus pares, Alexandre Teixeira, um dos técnicos da seleção, aguarda apreensivo o início da disputa. "Esse momento é fundamental para nós. No Pan, temos a chance de aparecer, atrair patrocinadores e dinheiro. Daqui a alguns dias, seremos esquecidos."


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