|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
pan 2003
Modalidades pouco conhecidas no país aproveitam Pan para ganhar respeito e verbas
ESTREITO CAMINHO
Fotos Antônio Gaudério/Folha Imagem
|
|
|
|
Fábio Rezende treina com um dos seis tipos de bolas do boliche; no alto, o modelo americano, não-homogêneo, seccionado |
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO
"Ah, mas isso não é esporte."
Eles já estão habituados a ouvir
essa frase. Agora, às vésperas de
abrir a participação brasileira no
14º Pan-Americano, os praticantes de modalidades pouco (ou nada) conhecidas no Brasil querem
aproveitar os holofotes para provar que merecem respeito.
Tratam-se de competidores de
esportes como boliche, luta e esgrima -cujas competições têm
início neste sábado-, entre outros, que obtêm alguma visibilidade apenas durante o período de
Olimpíada e Pan. Ou, pior, somente durante esse último.
Eles adotaram o evento em Santo Domingo como palanque para
reivindicar verbas e projetar imagem de profissionalismo.
Modalidades olímpicas buscam
impressionar o Comitê Olímpico
Brasileiro, cujo presidente, Carlos
Arthur Nuzman, afirmou neste
ano que o dinheiro da Lei Piva deve ser distribuído de acordo com
os resultados de cada esporte.
Já as categorias não-olímpicas
vivem situação mais dramática:
não têm direito à verba das loterias e dependem da boa vontade
do Ministério do Esporte, que teve o seu orçamento contingenciado no início do ano e libera recursos à base do conta-gotas.
O boliche é o caso mais emblemático do que acontece no Brasil
com os não-olímpicos. A modalidade busca superar a idéia de que
não passa de mera diversão.
Atletas convivem com citações
do tipo "qualquer um joga boliche, é só arremessar a bola e derrubar aquelas garrafinhas. Até eu
poderia estar na seleção".
Curiosamente, Walter Costa,
50, um dos integrantes da seleção
que disputa o Pan e que representou o Brasil na Olimpíada de Seul-88 (o boliche foi modalidade de
exibição), concorda com parte
dessas afirmações ao reconhecer
que o boliche recreativo é a porta
de entrada para o leigo se federar.
"Como diversão, é muito fácil
jogar boliche. Mas participar de
competições é totalmente diferente. Me traz quem disse que poderia jogar em nosso lugar no Pan
que eu mostro", afirma Costa.
"Olha só. Algum leigo entenderia isso aqui?", questiona outro
atleta, Fábio Rezende, 26, ao exibir um gráfico que mostra o grau
de oleosidade na pista. De acordo
com esse fator, cada jogador pode
escolher entre até seis bolas.
"Funciona como a escolha dos
pneus na F-1", compara, ao informar que outros detalhes de física e
aerodinâmica também influem.
Mas como fazer para que a participação do boliche brasileiro em
torneios internacionais deixe de
ser recebido com ironias? ""Todos
se acham entendidos em boliche.
Mas trabalhamos na formação de
técnicos para os leigos perceberem que o boliche vai além de
uma brincadeira", diz Hermindo
Troncoso Gonçalvez, 57, um dos
treinadores da seleção.
O que chama mais atenção é o
fato desses esportes sem tanta tradição no Brasil distribuírem um
número grande de medalhas. O
torneio de luta, por exemplo, pode render até 18 pódios. "Queremos levar medalha e chamar a
atenção para que o COB invista
mais na gente", disse o presidente
da confederação brasileira da modalidade, Pedro Gama Filho.
Na esgrima, que recebeu R$ 393
mil da Lei Piva até julho, são dez
insígnias em jogo. Como todos os
seus pares, Alexandre Teixeira,
um dos técnicos da seleção,
aguarda apreensivo o início da
disputa. "Esse momento é fundamental para nós. No Pan, temos a
chance de aparecer, atrair patrocinadores e dinheiro. Daqui a alguns dias, seremos esquecidos."
Texto Anterior: Painel FC Próximo Texto: Memória: História de pódio do Brasil ignora esportes nanicos Índice
|