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FUTEBOL
Pontos corridos
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Em um parágrafo, ontem, o
Tostão falou tudo o que eu
queria dizer hoje. Como é bom ser
conciso! Dizem que é mais fácil
para os homens, mas eu não quero culpar o gênero feminino pela
minha loquacidade. De qualquer
modo, vou fazer também a minha defesa do Campeonato Brasileiro por pontos corridos.
A fórmula tem sido culpada pelo pouco público nos estádios.
Sei... E nos últimos anos, o torcedor vinha os abandonando por
quê? Em qualquer pesquisa, aparecem inúmeros motivos. O medo
da violência é um deles, embora o
medo, compreensível, seja maior
que a própria violência. Um quebra-quebra na arquibancada é
suficiente para um pai querer
manter os filhos à distância a vida toda, mesmo que isso aconteça
uma vez a cada 300 jogos. Há
também o medo de assaltos, especialmente nos jogos noturnos, e
agressões no caminho do estádio.
O horário das 21h40 está fazendo uma geração de torcedores
atravessar a infância e a pré-adolescência sem ver um jogo ao vivo.
Sair do estádio à meia-noite é
péssimo para os meninos e os pais
que trabalham cedo. Claro, há os
jogos no fim de semana, mas aí o
futebol compete cada vez mais
com outras formas de lazer e com
a inércia que faz o sujeito ficar em
casa depois do almoço.
E ainda tem o preço do ingresso,
a crise econômica, o desconforto
no estádio e a falta de credibilidade do futebol em geral. O hábito
de ir ao estádio vai se dissolvendo
e o envolvimento com o futebol
vai diminuindo, mesmo pela televisão. Estamos conseguindo minar a paixão que é um dos traços
mais fortes da nossa cultura!
Voltando à discussão sobre a
fórmula, alguns dirigentes insistem que a média de público das
séries de mata-mata eram muito
melhores. Ok, isso resolveria o
problema de oito times durante
duas ou três semanas. E o resto?
Eu gosto de mata-mata, mas
para isso existe a Copa do Brasil.
O campeonato em turno e returno é o único que dá igualdade de
condições para todos, e só os pontos corridos garantem que a melhor campanha seja premiada
(não "o melhor time", mas isso é
discussão para mais de metro).
Para não haver o tédio de que se
queixam alguns, a solução óbvia
seria ter menos times: o campeonato seria mais curto e a distância menor entre últimos e primeiros acirraria a disputa. E, se a
CBF fizesse o favor de estabelecer
outras marcas a se atingir -acesso à Sul-Americana do 5º ao 8º,
por exemplo-, times descrentes
do título teriam novo estímulo
(mesmo que essa Copa, por enquanto, não inspire entusiasmo).
Ainda nesse formato, se alguns
times de torcida imensa (como
Fla e Vasco) estivessem jogando
melhor, a história seria outra. Há
um motivo para o abandono dos
estádios que é mais importante
do que se imagina, e pode até desmentir os outros: a desilusão com
o próprio time. Mesmo com crise,
medo da violência, inércia etc., o
torcedor convicto não deixa de
sair de casa. Tanto é que Paysandu, Fortaleza, Ceará, Botafogo,
Palmeiras e Uberaba, entre outros, não têm do que reclamar.
O melhor
Só para adiantar a discussão
"para mais de metro" (sobre
melhor campanha x melhor time): 1 x 0 em um jogo medíocre
e 4 x 0 em uma partida espetacular valem os mesmos três
pontos. Assim, após pequeno
tropeço, um time maravilhoso
pode ser superado em pontos
por um time mediano, mas minimamente eficiente. Um único ponto pode separar o campeão do vice, e há muitas maneiras injustas de se perder
pontos (erros de arbitragem, time desfalcado pela seleção
etc.). Não faço aqui, juro, nenhuma referência às equipes
deste campeonato; eu já defendia essa tese no ano passado: a
melhor campanha pode não ser
a do "melhor time" (como sinônimo de time que dá mais
gosto de ver jogar).
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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