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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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FUTEBOL

Pontos corridos

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Em um parágrafo, ontem, o Tostão falou tudo o que eu queria dizer hoje. Como é bom ser conciso! Dizem que é mais fácil para os homens, mas eu não quero culpar o gênero feminino pela minha loquacidade. De qualquer modo, vou fazer também a minha defesa do Campeonato Brasileiro por pontos corridos.
A fórmula tem sido culpada pelo pouco público nos estádios. Sei... E nos últimos anos, o torcedor vinha os abandonando por quê? Em qualquer pesquisa, aparecem inúmeros motivos. O medo da violência é um deles, embora o medo, compreensível, seja maior que a própria violência. Um quebra-quebra na arquibancada é suficiente para um pai querer manter os filhos à distância a vida toda, mesmo que isso aconteça uma vez a cada 300 jogos. Há também o medo de assaltos, especialmente nos jogos noturnos, e agressões no caminho do estádio.
O horário das 21h40 está fazendo uma geração de torcedores atravessar a infância e a pré-adolescência sem ver um jogo ao vivo. Sair do estádio à meia-noite é péssimo para os meninos e os pais que trabalham cedo. Claro, há os jogos no fim de semana, mas aí o futebol compete cada vez mais com outras formas de lazer e com a inércia que faz o sujeito ficar em casa depois do almoço.
E ainda tem o preço do ingresso, a crise econômica, o desconforto no estádio e a falta de credibilidade do futebol em geral. O hábito de ir ao estádio vai se dissolvendo e o envolvimento com o futebol vai diminuindo, mesmo pela televisão. Estamos conseguindo minar a paixão que é um dos traços mais fortes da nossa cultura!
Voltando à discussão sobre a fórmula, alguns dirigentes insistem que a média de público das séries de mata-mata eram muito melhores. Ok, isso resolveria o problema de oito times durante duas ou três semanas. E o resto?
Eu gosto de mata-mata, mas para isso existe a Copa do Brasil. O campeonato em turno e returno é o único que dá igualdade de condições para todos, e só os pontos corridos garantem que a melhor campanha seja premiada (não "o melhor time", mas isso é discussão para mais de metro). Para não haver o tédio de que se queixam alguns, a solução óbvia seria ter menos times: o campeonato seria mais curto e a distância menor entre últimos e primeiros acirraria a disputa. E, se a CBF fizesse o favor de estabelecer outras marcas a se atingir -acesso à Sul-Americana do 5º ao 8º, por exemplo-, times descrentes do título teriam novo estímulo (mesmo que essa Copa, por enquanto, não inspire entusiasmo).
Ainda nesse formato, se alguns times de torcida imensa (como Fla e Vasco) estivessem jogando melhor, a história seria outra. Há um motivo para o abandono dos estádios que é mais importante do que se imagina, e pode até desmentir os outros: a desilusão com o próprio time. Mesmo com crise, medo da violência, inércia etc., o torcedor convicto não deixa de sair de casa. Tanto é que Paysandu, Fortaleza, Ceará, Botafogo, Palmeiras e Uberaba, entre outros, não têm do que reclamar.

O melhor
Só para adiantar a discussão "para mais de metro" (sobre melhor campanha x melhor time): 1 x 0 em um jogo medíocre e 4 x 0 em uma partida espetacular valem os mesmos três pontos. Assim, após pequeno tropeço, um time maravilhoso pode ser superado em pontos por um time mediano, mas minimamente eficiente. Um único ponto pode separar o campeão do vice, e há muitas maneiras injustas de se perder pontos (erros de arbitragem, time desfalcado pela seleção etc.). Não faço aqui, juro, nenhuma referência às equipes deste campeonato; eu já defendia essa tese no ano passado: a melhor campanha pode não ser a do "melhor time" (como sinônimo de time que dá mais gosto de ver jogar).

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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