São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 2000

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FUTEBOL
Previsões para 2001

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

V ão aqui algumas previsões para o ano 2001.
Sei que o futuro é incerto, que a vida e o futebol têm muitos mistérios, mas não custa arriscar.
Aparecerá pelo menos um novo craque, um novo "gato" e um novo passaporte falso no futebol.
O governo dirá que as reformas para diminuir os problemas sociais só dependem dos políticos.
Os políticos dirão que o governo não tem coragem de fazer as mudanças sociais que o país precisa.
Seguirá a discussão: futebol arte x futebol de resultados; futebol ofensivo x futebol defensivo.
Algum jogador terá seu exame antidoping positivo, mas negará.
Permanecerão as dúvidas sobre o joelho do Ronaldo da Inter.
Quase todos os times mudarão de técnico. Leão será criticado na direção da seleção brasileira.
A torcida vai vaiar Rivaldo e pedir sua substituição na seleção.
O Brasil irá obter a classificação para a Copa de Mundo de 2002.
Permanecerá a dúvida se Romário irá jogar a próxima Copa.
A média de faltas no futebol brasileiro continuará acima de 50 por partida.
Os técnicos afirmarão que todas as equipes jogam assim e que esse é o futebol moderno.
A final do Campeonato Brasileiro será depois do Natal.
O próximo melhor do mundo, da Fifa, atuará na Europa.
As CPIs prosseguirão com seus trabalhos e darão o pontapé inicial para as mudanças no futebol.
Não haverá consenso sobre o novo calendário do futebol.
No próximo Natal, as pessoas ficarão mais solidárias e caridosas.
Os clubes terão grandes prejuízos, por causa dos altos salários e contratações equivocadas.
Vou guardar essa crônica. A maioria das previsões servirá para o ano que vem.

Há um ano, mudei de um apartamento na região central, rodeado de vários outros prédios, lojas, bares e restaurantes, para uma casa ao lado de uma mata, nos arredores de Belo Horizonte.
Parei com meu trabalho na TV e com as viagens. Passei a ler mais, assistir a jogos de futebol pela TV, escrever minhas colunas e ir ao cinema com mais freqüência. Não gosto de ver filmes na televisão.
Pela primeira vez, prestei atenção no tempo e na natureza. Conheci, de perto, as quatro estações. Vi o aparecer e o desaparecer das flores, o sol, o vento, o frio, o calor, a chuva e outras coisas.
Conheci alguns pequenos animais e seus hábitos. Presenciei o nascimento de uma borboleta e outros fenômenos da natureza.
Nesse final de ano, os passarinhos retornaram com seus cantos. Uma verdadeira sinfonia.
Tenho uma nova companheira em casa. Lambreca. Uma cachorrinha dócil e esperta. Corre mais que o Euller. Chegou pequena, recém-nascida e já está enorme.
Os olhos de Lambreca são verdes, iguais aos da Vera Fischer. Deve ser a origem alemã. No sonho, as duas imagens se misturam.
Felizmente, ela parou de lambrecar a varanda onde gosto de ler. O problema agora é que ela descobriu a rua, a mata e o mundo. Some e depois retorna. Estou me sentindo um pai angustiado com seu pequeno filho. Fora as reclamações dos vizinhos.
Começo a entender por que as pessoas gostam tanto da companhia de um cão. Ele não sente raiva, rancor, ódio, inveja, ciúme e outros sentimentos comuns nos seres humanos.
Sempre que chego em casa, Lambreca fica tão emocionada que urina enquanto corre em minha direção. Nenhum ser humano é tão explícito.
Os humanos vivem na falta de alguma coisa que o complete. Dessa incompletude é que nasce o sonho. Precisamos dele para viver. O animal não tem esse vazio. Ele se basta.
Nesse tempo de reflexão trabalhei e cultuei a preguiça, um dos pecados capitais. Tive vontade de não fazer nada e de fazer tudo. A preguiça foi maior que o desejo.
Final de ano é momento de planejar e sonhar. Repensar a vida. Redescobrir o mundo. Conciliar o trabalho com a amizade, amor, viagens e o ócio. Desfrutar de outros pecados.
Já conheço as quatro estações.

E-mail - tostao.folha@uol.com.br



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