São Paulo, segunda-feira, 01 de maio de 2000


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DIA DO TRABALHO

Stripper sonha em mudar de emprego

da Reportagem Local

"Quando estou no palco, com todos aqueles homens me olhando, me sinto uma Sharon Stone." É assim que Morgana Vitty, 22, fala de seu trabalho. Há dois anos ela é dançarina numa boate de striptease em São Paulo.
Descontraída, diz que começou na profissão por acaso: "Eu era assistente social numa creche, e minha ex-cunhada me convidou para vir aqui. Sempre quis conhecer esse tipo de lugar. Gostei e acabei ficando".
Morgana ganha, em média, R$ 1.500 por mês. Além do salário de dançarina, a casa paga uma comissão para as garotas por cada bebida que seus "acompanhantes" bebem. A função das garotas, quando não estão dançando, é circular pela casa, conversar com os clientes e fazer com que eles se sintam bem. Ela deixa claro que não é garota de programa: "Quem trabalha aqui não pode fazer programa nem usar drogas. Se o gerente descobrir, manda embora na hora", garante.
A casa é frequentada por casais, office-boys, desempregados e até senhores de idade. Paga-se R$ 7 para entrar, com direito a uma bebida. No intervalo entre um show de striptease e outro, os frequentadores assistem a filmes pornográficos em um telão.
Os shows duram cerca de 15 minutos, e as dançarinas interpretam personagens diferentes a cada apresentação. O preferido da galera é a noiva abandonada na porta da igreja.
Morgana também já é mãe. Dedica ao menino de um ano e dois meses todo o tempo em que não está trabalhando. Garante que, graças à profissão, pôde dar uma vida digna e feliz ao filho.
"Muitos homens vêm aqui só para conversar. Chegam carentes, cheios de problemas em casa. Tomam uma cervejinha, assistem ao show, conversam com uma garota e vão embora contentes. Não vejo nenhum problema nisso, mas não quero fazer isso pelo resto da minha vida."
No momento, Morgana está sem namorado. "De vez em quando aparece um cara legal, mas eles cobram muito e ficam com ciúme, porque eu sempre conto o que faço."
Apesar de não achar nada errado no que faz, Morgana esconde sua profissão dos pais, que moram fora de São Paulo. Quando liga para casa, ela diz que é balconista em uma loja. Morgana pensa em continuar no emprego por mais cinco anos e diz que depois pretende abrir seu próprio negócio. Só então, garante, será "totalmente feliz".
Quanto ao futuro do Brasil, ela é pessimista: "Acho que as coisas só vão piorar. O problema é que o brasileiro é um povo mal-educado, que só quer levar vantagem. Além disso, nossos governantes não pensam em ninguém a não ser neles mesmos. Do jeito que as coisas estão, não dá mesmo para ser muito otimista. No Brasil, é cada um por si, ninguém ajuda o outro". (GABRIEL GAIARSA)


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