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É possível viajar para fora e ainda ganhar dinheiro
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Noite de Natal. Enquanto a neve encobre as ruas da pequena cidade de
Portsmouth, em New Hampshire
(EUA), as estudantes Débora Fernandes
e Vanessa Miranda dividem aquilo que
conseguiram para a ceia: um simbólico
panetone e um saco de um quilo de batatas fritas. Sem dúvida, esse foi o momento em que o aconchego do lar mais fez
falta nos três meses em que as duas passaram longe do Brasil. De resto, só alegria... e ralação. Ambas com 21 anos, Fernandes e Miranda participaram no final
do ano passado de um programa chamado "work and travel" (trabalho e viagem,
em inglês) -que leva jovens universitários para trabalhar fora do país- e não
medem elogios à experiência.
"Foi ótimo pelo contato com estrangeiros e com outra cultura. Amadureci bastante", diz Miranda, que está cursando o
quarto ano de relações públicas. As duas
trabalharam em um hotel como camareiras e também em uma lavanderia, conheceram outro país, voltaram com o inglês mais afiado e, de quebra, trouxeram
alguns dólares para casa.
"Nunca havia imaginado trabalhar numa lavanderia. Eu não lavava a minha
roupa em casa", afirma Fernandes, que
está no segundo ano de hotelaria. "Voltei
com outra visão das coisas. A gente imagina que é um serviço sujo, mas lá qualquer pessoa ganha muito bem e todo
mundo tem carro", diz.
Segundo Márcio Ferreira, dono da
agência Workusa.net, que presta esse tipo de serviço, os caminhos legais para
trabalhar temporariamente no exterior
não são bem divulgados. Por isso é preciso ficar esperto para não cair em roubadas. As ofertas de trabalho no exterior vão de vagas em hotéis
a postos variados em estações de esqui.
Na maior parte das vezes, o estudante
paga a passagem aérea
e as taxas da agência escolhida. E não há garantia de lucro nem de
que o salário do trabalho cubra o que tiver sido gasto na viagem.
"Fiquei mais no prejuízo do que no lucro,
mas já haviam me avisado na agência que era
difícil recuperar o investimento", diz o universitário Edgar Okuno, 21, que trabalhou
por quatro meses num
McDonalds na Pensilvânia (EUA).
"Só sendo muito pão-duro para recuperar os
US$ 3.000 que gastei na
viagem. Mas eu fui
mais para aprender a
língua e acho que gastei
menos do que nas escolas de idiomas daqui", compara. O estudante trabalhou uma
média de 35 horas por
semana, ganhando
US$ 7 por hora. "Pretendo voltar a trabalhar nos EUA ou no
Japão para fazer um pé-de-meia e abrir
meu próprio negócio", sonha.
Para Okuno, a maior dificuldade que
sentiu ao chegar nos EUA foi a língua. A
segunda foi conquistar a confiança de
seus colegas de trabalho e de seu chefe.
"Ainda dividi uma casa com dois estranhos. Você tem de tolerar muita coisa, às
vezes eu tinha de lavar o banheiro", diz.
Mesmo com a grana curta e horas dedicadas ao trabalho, é possível arrumar
um tempinho para se divertir. Depois de
um tristonho Natal em Portsmouth, Fernandes e Miranda caminharam com neve até o joelho atrás de uma boa balada
de graça. E acharam.
(MD)
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