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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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É possível viajar para fora e ainda ganhar dinheiro

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Noite de Natal. Enquanto a neve encobre as ruas da pequena cidade de Portsmouth, em New Hampshire (EUA), as estudantes Débora Fernandes e Vanessa Miranda dividem aquilo que conseguiram para a ceia: um simbólico panetone e um saco de um quilo de batatas fritas. Sem dúvida, esse foi o momento em que o aconchego do lar mais fez falta nos três meses em que as duas passaram longe do Brasil. De resto, só alegria... e ralação. Ambas com 21 anos, Fernandes e Miranda participaram no final do ano passado de um programa chamado "work and travel" (trabalho e viagem, em inglês) -que leva jovens universitários para trabalhar fora do país- e não medem elogios à experiência.
"Foi ótimo pelo contato com estrangeiros e com outra cultura. Amadureci bastante", diz Miranda, que está cursando o quarto ano de relações públicas. As duas trabalharam em um hotel como camareiras e também em uma lavanderia, conheceram outro país, voltaram com o inglês mais afiado e, de quebra, trouxeram alguns dólares para casa.
"Nunca havia imaginado trabalhar numa lavanderia. Eu não lavava a minha roupa em casa", afirma Fernandes, que está no segundo ano de hotelaria. "Voltei com outra visão das coisas. A gente imagina que é um serviço sujo, mas lá qualquer pessoa ganha muito bem e todo mundo tem carro", diz.
Segundo Márcio Ferreira, dono da agência Workusa.net, que presta esse tipo de serviço, os caminhos legais para trabalhar temporariamente no exterior não são bem divulgados. Por isso é preciso ficar esperto para não cair em roubadas. As ofertas de trabalho no exterior vão de vagas em hotéis a postos variados em estações de esqui.
Na maior parte das vezes, o estudante paga a passagem aérea e as taxas da agência escolhida. E não há garantia de lucro nem de que o salário do trabalho cubra o que tiver sido gasto na viagem.
"Fiquei mais no prejuízo do que no lucro, mas já haviam me avisado na agência que era difícil recuperar o investimento", diz o universitário Edgar Okuno, 21, que trabalhou por quatro meses num McDonalds na Pensilvânia (EUA).
"Só sendo muito pão-duro para recuperar os US$ 3.000 que gastei na viagem. Mas eu fui mais para aprender a língua e acho que gastei menos do que nas escolas de idiomas daqui", compara. O estudante trabalhou uma média de 35 horas por semana, ganhando US$ 7 por hora. "Pretendo voltar a trabalhar nos EUA ou no Japão para fazer um pé-de-meia e abrir meu próprio negócio", sonha.
Para Okuno, a maior dificuldade que sentiu ao chegar nos EUA foi a língua. A segunda foi conquistar a confiança de seus colegas de trabalho e de seu chefe. "Ainda dividi uma casa com dois estranhos. Você tem de tolerar muita coisa, às vezes eu tinha de lavar o banheiro", diz.
Mesmo com a grana curta e horas dedicadas ao trabalho, é possível arrumar um tempinho para se divertir. Depois de um tristonho Natal em Portsmouth, Fernandes e Miranda caminharam com neve até o joelho atrás de uma boa balada de graça. E acharam. (MD)


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