São Paulo, segunda, 2 de fevereiro de 1998

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saudades
Um ano sem a ciência de Chico Science

ALEXANDRE LOURES
das Regionais

Há exatamente um ano, os "mangueboys" ou "caranguejos com cérebro" perderam seu líder em um acidente de carro, mas a batida do mangue continua ditando o ritmo em Recife com ecos em todo o Brasil.
A Nação Zumbi, banda que acompanhava Chico, prepara para março, mês de aniversário do cantor pernambucano, o primeiro disco depois de sua morte.
O CD, que ainda não tem nome, está sendo produzido por Eduardo Bid, o mesmo produtor de "Afrociberdelia".
Segundo a gravadora Sony, o trabalho deverá ter pelo menos quatro canções inéditas.
Na faixa "Nos Quintais do Mundo", composta pela Nação Zumbi, o percurssionista Toca ataca de vocalista, só que em ioruba -língua falada por parte da população sudanesa da África Ocidental.
Na instrumental "Dubismo", a banda reverencia o estilo dub, presente em faixas do primeiro disco, como "Coco Dub".
A conexão com as novas tecnologias, tão propagada pela banda de Pernambuco, aparece em "Provedor", uma alusão à Internet, que tem Jorge Du Peixe nos vocais.
Finalizando as inéditas, o ponto forte do disco: a música "Malungo", gravada durante uma jam session com Jorge Ben Jor, Marcelo D2 (vocalista do Planet Hemp), Falcão e Fred 04 (vocalista do Mundo Livre S/A e um dos criadores do movimento).
Completando o CD, estão quatro canções registradas durante turnê do Chico Science e Nação Zumbi pela Alemanha e uma inusitada versão do Planet Hemp para "Samba Makossa", gravada originalmente no CD "Da Lama ao Caos", o primeiro dos criadores do ritmo mangue beat.
Mundo Livre
Outra produção vinda do mangue que deve chegar às lojas entre março e abril deste ano é o terceiro CD do Mundo Livre S/A, o primeiro após a morte de Science.
A banda é um dos expoentes do braço musical do movimento do mangue, o mangue beat.
A perda do líder do movimento trouxe para as costas de Fred 04 e cia. o dever de puxar as ações da trupe recifense.
Embora Fred 04 negue a responsabilidade de assumir a posição do velho companheiro, serão inevitáveis as cobranças em torno da novo trabalho da banda.
Segundo Bactéria, guitarrista, o CD deve ser um meio termo entre o primeiro, mais sofisticado, e o "Guentando a Ôia", segundo, com uma sonoridade crua, quase tomada em primeiro take.
O disco, que já está pronto, deveria ter o nome do conjunto, mas com o atraso da gravações, os integrantes resolveram pensar em um outro título que o sintetizasse.
A turnê, pelo menos, já tem nome: "Carnaval na Obra". Esse também é o título de uma das músicas do disco.
"O Fred teve a idéia dessa música passando por uma construção em São Paulo, em que os operários gritavam "vai chover' ", diz Gutierrez, produtor da banda.
Outro destaque da nova safra do Mundo Livre S/A é "Bolo de Ameixa", uma parceria com o jornalista da Folha Xico Sá, que é o autor da letra da canção.
A música foi uma das primeiras do conjunto e já estava quase esquecida, assim como "Quarta Parede", que também deve estar no próximo trabalho.
Essas duas produções do primeiro time da cena recifense provam que a música do mangue não sucumbiu à perda de sua principal figura, ao contrário, continua produzindo em seu caldeirão de ritmos e raças o som que melhor caracteriza a diversidade de nosso país.



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